Existe uma insuperável distância entre o visível e o dizível. Por isso, mais do que observar é preciso saber com os olhos, tocar com o pensamento.
Tal habilidade não é proporcionada por nenhum saber ou ciência. Pressupõe certa intuição, uma espécie de automatismo da percepção e a sensibilidade de um olhar que recusa a paisagem, que se prende aos detalhes, e preenche o dizer com delicados silêncios.
O significado das coisas é um ato de linguagem, mas não se esgota no dizer. O visível é irredutível ao dito. Há sempre algo que escapa ao sentido e que deve ser acolhido na narrativa. É isso que nos leva a recusar ingenuas pretensões a verdade como premissa de um enunciado.
O olhar é sempre relativo a astúcia da observação. O dizer nunca é uma descrição. Mas entre o visível e o dizível inventamos o comunicável como experiência imanente de um sentido que nasce do que não faz sentido. Há sempre algo que nos sequestra entre o olhar e o dizer.
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