Não há mais uma obra a ser
escrita. Escrever já não se inscreve em um plano de referencias conceituais e
sistematizações narrativas tendentes a verdade. Não há mais um real a ser
desvelado, explicado ou analisado. Não há mais autoridade nas disciplinas ou dignidade
no saber e seu jogo normativo. Não há mais poder nas palavras. O conhecimento
se converteu em informação, em opinião mimetizada ou, no melhor dos casos em maquinaria
técnica para o gosto dos que precisam de princípios e orientações. Não é mais
tempo de pensar. O individuo emancipado pela razão foi o breve sonho de um século
distante. Jamais pôs os pés na terra prometida do progresso. Vivemos agora a
margem de qualquer representação convincente das coisas. A vida tornou-se
transparente e epidérmica.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
segunda-feira, 14 de maio de 2018
A VELOCIDADE DAS PALAVRAS
A velocidade das palavras é tangível
no acontecer da leitura. O texto tem um ritmo, é movimento. Ás vezes parece um
organismo vivo. Mas quase não sei o que é o texto e a experiência de ler, pois
não me percebo dentro dos enunciados. Eles acontecem quando eu não aconteço,
onde não há substância.
A compreensão, o sentido, é um
desvelar-se de uma matéria invisível. Existe algo dentro das palavras que não são
as palavras. É preciso ter esta intuição para perceber o quanto elas são rápidas
e fogem dos olhos. Toda narrativa acorda sensações físicas, apercepções; engendra
duplos.
Não há representação. Existe um
lado de fora dos significantes e dos significados, uma espécie de epiderme esvoaçante,
um fantasma, que é a própria materialidade da narrativa.
A velocidade das palavras é perceptível
onde não há temporalidade, onde o próprio leitor desaparece no acontecer da
leitura, que é também um re acontecer da narrativa como espaço abstrato de
experiência. A velocidade é aqui um contrário de tempo, é uma substancia, um
atributo do discurso. Uma leitura não tem duração. Ela tem movimento. Mas ela não
percorre qualquer espaço. A velocidade é o próprio pensar como experiência do
sentido.
sexta-feira, 11 de maio de 2018
POEMA HERACLITIANO
“Tudo frui como um rio”.
Somos e não somos no fluxo.
Na coincidentia oppositorum,
No desvelamento da essencial
incerteza
Do ser e do não ser através do
devir.
Existimos além do bem e do mal
No mais arcaico futuro
Onde a vida escuta a morte
E se perde da eternidade.
Nossa inercia é movimento,
Fogo e imanência.
quinta-feira, 10 de maio de 2018
COORDENADAS GEO FILOSÓFICAS
Procuro um espaço que se faça
mais do que um lugar,
Um ponto meta geográfico
Que se torne corpo do meu corpo,
Tempo e pensamento,
Onde eu não seja
E tudo esteja.
Lugar sem forma,
Em movimento...
Onde nada se perca
Em encontros,
Choques e dualismos.
Onde nada aconteça
No se fazer das coisas
E a linguagem nos contenha
Na grande ficção da produção do
sentido.
.
quarta-feira, 9 de maio de 2018
FANTASMAGORIA E ESCRITA NÔMADE
Há algo que sempre permanece não
pensado dentro do próprio pensamento. Algo que acontece como um lado de fora do
significado e, entretanto, desenha a nervura do sentido. Trata-se de algo que
ultrapassa a forma-homem, que a remove e apaga como campo de intencionalidades,
como artificio estruturante de cognição, expressão e comunicabilidade, eliminado toda causalidade
que oprime a escrita, pondo em xeque, portanto, todos os códigos retóricos.
A literatura é o jogo de
enunciados privilegiado para esta transcendência da dualidade entre
significante e significado por intermédio da linguagem, que nela se volta sobre
si mesma, quando foge as normativas do seu próprio campo discursivo. Assim,
todo dizer se torna um dizer do que é dito que não se reporta a qualquer
objeto. A qualquer norma ou ordem discursiva. Tudo se faz fragmento, simulacro
e deserto no acontecer nômade e imaterial de uma narrativa.
segunda-feira, 7 de maio de 2018
TEXTO, SENTIDO E MOVIMENTO
Existe uma veracidade em todo texto literário que não comunica uma verdade, mas a experiência de imagens e afetos.
É o simulacro como um acontecer do sentido mediante um encadeamento de enunciados.
A experiência de uma narrativa é seu próprio significado como avesso da realidade.
A experiência de uma narrativa é seu próprio significado como avesso da realidade.
O texto é um território através do qual evadimos, transportamos a existência através da cartografia que é o texto. Ele não nos diz onde vamos, mas nos modifica, torna-se uma ambientação, um acolhimento.
A leitura é isso: uma experiência de movimento que se dá através de inercias.
O DISCURSO E A MANUFATURA DA VERDADE
O DISCURSO E A MANUFATURA DA
VERDADE
A
arqueologia busca definir não os pensamentos, as representações, as imagens, os
temas, as obsessões que se ocultam ou se manifestam nos discursos; mas os
próprios discursos, enquanto práticas que obedecem a regras. Ela não trata o
discurso como documento, como signo de alguma coisa, como elemento que deveria
ser transparente, mas cuja opacidade importuna é preciso atravessar
frequentemente para reencontrar, enfim, aí onde se mantém a parte, a
profundidade do essencial; ela se dirige ao discurso em seu volume próprio, na
qualidade de monumento. Não se trata de uma disciplina interpretativa: não
busca um “outro” discurso mais oculto. Recusa-se a ser “alegórica”.
Michel Foucault in Arquelogia do Saber
Michel Foucault in Arquelogia do Saber
O discurso é o conjunto de regras
e praticas que permitem a construção das representações e codificações da
realidade em um dado contexto sócio cultural. Como demonstrou Foucault em sua Arqueologia
do Saber, o discurso é o que define o que pode e não pode ser dito sem ser,
entretanto, uma copia do real, mas sua instrumentalização através de jogos de
verdade que estabelecem relações de poder.
O discurso precede os sujeitos na
produção de subjetividades. Jogos de verdade são jogos discursivos de poder. Eles
são práticas que constroem objetos dentro de um regime de verdade, um conjunto
de enunciados que integram a malha de poder.
Somos inventados pelas nossas
praticas discursivas. Quando alguém elabora
um discurso, em seu trabalho de escrita reúne um conjunto de vozes sociais, ideológicas e
históricas distinguindo-se assim de si mesmo como indivíduo. A imposição de
regras ao sujeito que fala impõe ao mesmo um papel pré definido na produção
discursiva. Parafraseando Foucault, devemos evitar imaginar um mundo que nos
apresenta uma face legível que apenas deveríamos decifrar.
sexta-feira, 4 de maio de 2018
SENTIDO E LINGUAGEM
Precisamos nos libertar do condicionamento da linguagem a um referencial antropológico. Ela não expressa o humano como algo dado. Nem mesmo se relaciona com ele. Seu propósito é criar sentido. Um sentido que nos transborda como ficção de um eu configurado por um corpo físico ou definido por intensionalidades articuladas por identidades, pela ingênua convicção do Ser e da Verdade como um valor absoluto e abstrato que engendra a experiência do mundo.
A linguagem habita a si mesma e não o mundo. Ela é como um não lugar que define todos os lugares.
FILOSOFIA POP
A palavra viva que apresenta o corpo,
Que colhe olhares
E se mistura aos gestos,
As sutilezas da paisagem facial,
É mais intensa do que
qualquer palavra morta
Presa a tela morna do computador.
Afinal, vivemos tempos de falência da representação,
De niilismos gramaticais
E fluxos de instantaneidade de ultra presentismo.
É tempo de improviso,
De onipresença do efêmero
Como medida de todas as eternidades possíveis.
A discussão e a performance
É agora uma estratégia do pensamento
Onde o sentido se faz no acontecer naufrago do discurso.
A palavra finalmente é a vida.
Uma vida grega e antiga
Onde as praças se multiplicam e se desdobram.
O pensamento já não tem mais um lado de dentro,
E não se inventa como um lado de fora.
Assinar:
Postagens (Atom)