segunda-feira, 14 de maio de 2018

A VELOCIDADE DAS PALAVRAS


A velocidade das palavras é tangível no acontecer da leitura. O texto tem um ritmo, é movimento. Ás vezes parece um organismo vivo. Mas quase não sei o que é o texto e a experiência de ler, pois não me percebo dentro dos enunciados. Eles acontecem quando eu não aconteço, onde não há substância.

A compreensão, o sentido, é um desvelar-se de uma matéria invisível. Existe algo dentro das palavras que não são as palavras. É preciso ter esta intuição para perceber o quanto elas são rápidas e fogem dos olhos. Toda narrativa acorda sensações físicas, apercepções; engendra duplos.

Não há representação. Existe um lado de fora dos significantes e dos significados, uma espécie de epiderme esvoaçante, um fantasma, que é a própria materialidade da narrativa.

A velocidade das palavras é perceptível onde não há temporalidade, onde o próprio leitor desaparece no acontecer da leitura, que é também um re acontecer da narrativa como espaço abstrato de experiência. A velocidade é aqui um contrário de tempo, é uma substancia, um atributo do discurso. Uma leitura não tem duração. Ela tem movimento. Mas ela não percorre qualquer espaço. A velocidade é o próprio pensar como experiência do sentido.  


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