segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

DELINQUÊNCIA LINGUISTICA

Onde quer que estejam meus trapos verbais
Serei sempre este miserável
Que polui a face da escrita.

Sempre este provocador,
Destilando ódio e humor
Contra as cenas cotidianas
Das palavras abertas da ordem.

Aos amantes do bom dizer
E de boas  ideias de mundo,
Ofereço meu mais franco desprezo
Pelas regras  gramaticais,
Pela ordem de todos os discursos.

Não me engana qualquer disciplina,
Nenhum conceito  ou  verdade.
A linguagem selvagem, fechada sobre si mesma
Contra a normativa do sentido,
É minha trincheira de significação.

POR UMA ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA?


Em seu Ensaio sobre o Homem, ao definir o Homem  como animal symbolicum, Ernest Cassirer lança as bases de uma antropologia filosófica fundado na individualidade humana como lugar de criação do próprio homem em sua universalidade. É como indivíduo que o ser humano configura sua própria experiência como espécie e, consequentemente, também com a constante incerteza sobre seu próprio futuro através do devir do tempo.

A linguagem, a técnica/instrumentos e as artes plásticas, inscrevem materialmente os símbolos nas praticas culturais. Isto é, a produção de artefatos cria a realidade através do qual o homem se inventa ou revela como animal symbolicum.

O imperativo da obra, do ato de criação produz seu criador. É expressão de uma rede de relações complexas entre o eu e o mundo, que conduz do signo ao símbolo, da natureza ao humano, do sensível ao abstrato.

O homem, esta questão demasiadamente tardia, como nos faz pensar Foucault em As Palavras e as Coisas, é um devir, uma sombra projetada pela imaginação, pela cultura como artificio da consciência através de suas formas simbólicas.


sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

FUGA

O dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconhecer imediatamente […] A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha” – Foucault, Vigiar e Punir

A indeterminação e o devir é tudo que saberão de mim.
Guardo o isolamento  como premissa do meu nomadismo,
das minhas rotas de fuga...
Dialogo com o aleatório e o inesperado
em um processo constante de desconstrução
de mim mesmo.
Nem mesmo sou idêntico a um eu 
nas tantas variantes de um rosto
que me assombra no espelho.

ETERNO RETORNO

Tenho vontade de voltar no tempo
E repetir tudo aquilo que fiz de mim mesmo.
Reescrever com as mesmas linhas tortas
Antigos erros,
Reviver acertos e vitórias
Na mais imperfeita imperfeição de ser.

Assim, seria feliz, sempre de novo,
Na perene eternidade do mesmo
Em gratuito e franco existir.
Sem propósitos e sem soluções
Seria inteiramente eu

Na profundidade rasa do meu querer. 

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

TEATRO SIMBÓLICO

Sou responsável pelo bem estar de um gato.
Isso é tudo que penso quando volto para casa,
Depois do trabalho, engasgado com o dia
E sujo de cotidiano.

Tenho um compromisso com a existência do meu gato.
Por isso não posso desistir deste existir artificial
E do fardo da civilização.

Preciso garantir a alegria do meu gato.
Este é todo o proposito que move agora
Meu mundo.
Tudo que faço é pelo meu gato....


PALAVRAS


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

PALAVRA


LINGUAGEM E SINGULARIDADE

O indivíduo se define como tal através de sua interação com outros indivíduos, da co-habitação em uma realidade social onde as trocas humanas acontecem mediante a replicação de signos e símbolos que personificam experiências concretas.

É através das praticas discursivas que se estabelece nosso sentimento de realidade e a própria existência enquanto construção social e cotidiana. Como seres singulares somos quase apêndices desta experiência coletiva que nos envolve, que nos subordina a relacionamentos.

A inserção de um indivíduo no ambiente cultural formatado pelas praticas discursivas pode se dá de forma passiva, quando o indivíduo limita-se a reprodução mimética e normativa no uso dos signos e símbolos, ou ativa, quando o indivíduo é capaz de ressignificar estes mesmos signos e símbolos em suas práticas discursivas.

A literatura, e especialmente a poesia, formatam tais práticas não pragmáticas de forma privilegiada. Mas esta singularização do dizer é corrente em nosso cotidiano mais elementar. Cada um elabora espontaneamente um modo próprio de se expressar e selecionar temas e questões que passam a mediar sua relação com o mundo e com os outros.

Quando o individuo se dedica a desenvolver ou levar as ultimas consequências seu mais intimo discurso de mundo ele se torna psicologicamente mais ciente de sua singularidade, menos dado a reprodução acrítica do dizer de todo mundo. A linguagem se torna para ele uma força viva.




SILÊNCIO

Abraço o silêncio como a um velho amigo.
Conheço  os segredos do não dito.
Tudo aquilo que dorme
dentro do que foi escrito.


O silêncio é o dizer do ausente
Não domesticado pelo segredo.
É o que permanece latente
E anuncia o desconhecido.

Um silêncio sempre fala
Através do dito
Alimentando questionamentos
E desconstruindo significados.

CONHECIMENTO E DIZER DO MUNDO

É a possibilidade de um dizer que não mais se reconhece em si mesmo, que não se define através da intencionalidade pragmática, mas que toma a possibilidade de qualquer discurso como um fluxo, uma busca desinteressada pelo conhecimento através do entrelaçamento de significados e sentidos, que se oferece como alternativa ao deserto cenário das letras contemporâneas.

Nos aventuramos com um pensar que se volta para o paradoxo e para o não sentido, recusando-se como disciplina e forma de institucionalização de qualquer poder. Podemos toma-lo como uma reação a ditadura da informação e do virtual como mimese de um mundo verdade que já não mais se sustenta como imagem do realmente vivido.

Mas se o dizer e o saber se libertam de uma estratégia de sentido, não mais inventam um objeto bem definido e nem mesmo são um discurso sobre o humano, mas sobre as coisas e experiências, sua legitimação encontra-se em sua vocação para construção de consensos em um mundo linguagem.

A diversidade de nossas estratégias discursivas, de nosso dizer da realidade, estabelecem um campo de experiências simbólicas onde se desenham tensões e contrastes, onde o saber apresenta-se como um jogo. Nosso desafio, em poucas palavras, é a invenção de narrativas que extrapolem o conhecimento como norma, como expressão de poder e da ilusão de um mundo verdade.


O saber é lúdico exercício de invenção de significados que nos inscrevem em uma ordem simbólica, em um campo discursivo onde é possível o conhecimento como estética de vida.