Quando alguém acorda a vida das palavras, escreve sempre algo mais do que quer dizer. As palavras inventam o autor como um ator do grande teatro dos significados. Tudo que importa é a encenação dos enunciados inventando um enredo mais verdadeiro do que a própria existência. Mas raramente nos danos conta do quanto habitamos um mundo que a palavra inventa.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
domingo, 29 de outubro de 2017
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
A INUTILIDADE DA TAGARELICE
“...do mesmo modo que vinho, que
foi inventado para o prazer e para a boa convivência, é transformado por
aqueles que são forçados a bebê-lo muito e sem mistura num veneno intragável,
assim também a linguagem, o mais agradável
e o mais humano dos símbolos, torna-se, por aqueles que o empregam mal e
negligentemente, inumana e insociável: julgando-se encantadores, eles são
enfadonhos; admiráveis, eles são ridículos; amáveis, eles são desagradáveis. Do
mesmo modo que aquele que, pela insígnia mágica, repelindo e afastando seus
companheiros, é privado de encanto, assim também aquele que, pela palavra,
mostra-se enfadonho e odioso é verdadeiramente sem estilo e sem arte.”
Plutarco in Sobre a Tagarelice
Ninguém nunca tem a palavra final
em uma discussão. As boas discussões, aliais, nunca terminam. Pode-se chegar ao
silencio sobre a polêmica, mas nunca a sua conclusão. Afinal, ninguém é
convencido de um ponto de vista contrário. Estamos inclinados a cultivar
desentendimentos, seja por vaidade ou por mera teimosia. Sempre há um
componente irracional na adesão a um ponto de vista ou convicção. Por isso é
conveniente evitar discussões, muito embora isso não elimine as diferenças ou
antipatias. O grande mal é sempre a tagarelice, o dizer sem escutar. A
compulsão em falar e opinar é mais forte do que a faculdade de pensar. É por
isso que nos distanciamos uns dos outros quando nos engalfinhamos em polêmicas
que nos transcendem e que jamais conduziremos individualmente a bom termo sem
um pouco de renuncia a nossas certezas. É sempre oportuna a capacidade de
escutar os silêncios que povoam todo dialogo.
Um texto realmente divertido e
ainda útil de Plutarco, filosofo e prosador grego que viveu entre os anos 45 e 120 da chamada era
cristã, é seu pequeno tratado Sobre a Tagarelice. Trata-se de um elogio ao
silêncio que nos oferece uma arte de bem conversar. Segundo ele, diante de
qualquer pergunta, há sempre três tipos de resposta: o necessário, o amável e o
supérfluo. Que a medida daquele que responde seja a intenção daquele que
perguntou. Pois é saudável evitar a vaidade
e a futilidade tanto nas palavras quanto nos atos. Por isso é
prudente cultivar o hábito de calar em
uma conversa até que todos tenham renunciado a responde. Só assim é possível
interrogar as pessoas sem requerer respostas.
Afinal, o que é a tagarelice além
de uma surdez voluntária? A incapacidade de se calar também é uma incapacidade
de ouvir.
O TEMPO A CONTRAPELO
As experiências estendidas
Sobre o espaço desmembrado
Na extensão do tempo
Inventam o passado.
Hoje é tarde,
Quase agora.
Não confie no seu relógio.
Ele mente mais do que o
calendário.
O futuro apenas nos conduz ao
passado.
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
A ESCRITA COMO LABIRINTO
"...Se fosse um escritor, só falaria a partir da minha própria linguagem e no encantamento de sua existência hoje. Não sou nem uma coisa nem outra, estou nessa distância entre o discurso dos outros e o meu. E meu discurso nada mais é do que a distância que tomo, que meço, que acolho entre o discurso dos outros e o meu. Nesse sentido, meu discurso não existe, e é por isso que não tenho de modo algum a intenção nem a pretensão de fazer uma obra. Sou o agrimensor dessas distâncias, e meu discurso não é mais que o metro absolutamente relativo e precário por meio do qual meço todo esse sistema de afastamento e de diferença. Medir a diferença com aquilo que não somos, é nisso que exerço minha linguagem e é por isso que lhe dizia agora há pouco que escrever é perder seu próprio rosto, perder sua própria existência. Não escrevo para dar à minha existência a solidez de monumento. Tento antes reabsorver minha própria existência na distância que a separa da morte e, provavelmente, por isso mesmo, a guia para morte."
Michel Foucault in O Belo Perigo. Conversas com Claude Bonnefoy
Escrever sempre foi para mim uma
forma de me perder através da abstrata geografia deste estranho artifício
humano chamado linguagem. Aprendi desde cedo a viver um desencontro sempre
renovado entre o dizer e o ser lidando com o tempo e a morte no acontecer de
mim mesmo.
O ser da linguagem nos absorve
quando nos rendemos a escrita, torna-se extra territoriedade onde a imaginação
inventa seus próprios fatos futucando a nervura do real. Escrever é uma
estratégia de estranhamento do cotidianamente dado, do ordinário dos signos e
símbolos.
Não posso ser naquilo que escrevo
ou penso, pois todo meu discurso reinventa velhas leituras na transpessoalidade
da existência onde as coisas transfiguradas em linguagem se dobram sobre si
mesmas.
Ninguém inventa seus próprios
discursos, apenas se perde em um labirinto de significados e enunciados se
tornando instancia de significação ao vestir a persona autoral. Mas aquilo que
´é próprio da linguagem sempre nos escapa através dos significados....
sábado, 21 de outubro de 2017
CULTURA URBANA
A vida na cidade é um viver para
o exterior. A cidade em suas funções e paisagens abriga a diversidade, o fluxo
constante de indivíduos e uma variedade vertiginosa de estratégias de produção de sentido e atividades. O habitante
da cidade esta quase sempre a céu
aberto. O espaço privado, os interiores se acoplam ao cotidiano cidadino quase
como um apêndice da vida publica em suas redes de deslocamentos.
Habitamos pessoas e lugares. As
ruas são como veias abertas no corpo feminino da Urbes que cada vez menos pode
ser definida a partir de qualquer identidade. Sua geografia é o remendo de
diversas referencias territoriais e funcionais desenhadas pelas vias expressas
que nos levam de uma parte a outra. A cidade é nômade. Mesmo que nosso
sedentarismo privado faça parecer o contrário.
A cidade é sempre lugar de
comercio de coisas e pessoas, de fluxos e representações. A cidade é essencialmente movimento. Dentro
dela nos sentimos pequenos, insignificantes na multidão. Sabemos que sempre estamos sendo observados,
reconhecidos pelo enquadramento simbólico e não por quem somos. No espaço
urbano ninguém é ninguém. Tudo é imediata geografia simbólica, espetáculo e
simulacro.
SOBRE OS LIMITES DO CONHECIMENTO
“Armamos para nós um mundo, em
que podemos viver-ao admitirmos corpos, linhas, superfícies, causas e efeitos,
movimento e repouso, forma e conteúdo: sem estes artigos de fé ninguém
toleraria agora viver! Mas com isso ainda não são nada de demonstrado. A vida
não é argumento; entre as condições da vida poderia estar o erro.”
F. Nietzsche in A Gaia Ciência
O uso do conhecimento é diferente
da crença no conhecimento. Posso
valorizar um determinado saber sem lhe converter em uma chave absoluta de
compreensão. Meu modo de codificar a realidade não reduz o conhecimento em um
filtro e instancia de julgamento. O toma
mais como um instrumento do que como uma
espécie de revelação.
Não é prudente reduzir o mundo
aos enunciados de qualquer forma de conhecimento filosófico ou cientifico. Deve-se
mesmo descartar o ideal de um domínio racional absoluto da realidade,
pois a realidade não pode ser reduzida a razão.Não existe um mundo verdade a
ser revelado a nossa consciência. Toda imagem de mundo e realidade é um
capricho sempre provisório da imaginação.
PROBLEMA EXISTENCIAL
Adivinho o que sinto através do
saber das coisas.
Mas tudo que sei é incerto, raso
e abstrato.
Apenas o que vivo é concreto,
Mesmo que ilegível dentro do que
sinto.
Estou perdido em um dilema
abstrato
Onde saber e sentir engendram o
querer
Como fácil resultado de uma falsa
equação.
Penso porque sinto onde não
existo.
terça-feira, 17 de outubro de 2017
DUALISMO
O corpo acontece
entre a reflexão e o reflexo,
inventa o ato
abstrato e concreto
de sua própria ilusão
quando resume em si mesmo
todo o possível da realidade
entre razão e desrazão.
entre a reflexão e o reflexo,
inventa o ato
abstrato e concreto
de sua própria ilusão
quando resume em si mesmo
todo o possível da realidade
entre razão e desrazão.
OS LIMITES DA LINGUAGEM
Sigo onde não há sujeito ou objeto. Apenas o devir de imagens, afetos e representações abstratas.
Sigo onde tudo é imperfeito...
A consciência é precária e se perde nos abismos da linguagem, nas falhas do meu dizer pequeno.
Conceitos e representações são como bolas de sabão.
Os discursos são paisagens, geografia existencial.
A narrativa é o lugar nenhum da existência como espelho de um corpo vivo.
Por isso pouco me importo com tudo aquilo que pode ser dito.
Sigo onde tudo é imperfeito...
A consciência é precária e se perde nos abismos da linguagem, nas falhas do meu dizer pequeno.
Conceitos e representações são como bolas de sabão.
Os discursos são paisagens, geografia existencial.
A narrativa é o lugar nenhum da existência como espelho de um corpo vivo.
Por isso pouco me importo com tudo aquilo que pode ser dito.
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
O PROBLEMA CONTEMPORÂNEO DA AMIZADE
O cuidado com o outro é
indispensável ao cuidado de si. Por isso não é de surpreender o lugar
fundamental que a amizade ocupa na obra tardia
de Foucault. Em sua reflexão sobre sexualidade ele vai além da dicotomia
entre eros e philia e estabelece uma
ética da amizade que ultrapassa a perspectiva individual, a centralidade do
sujeito e do egocentrismo, avançando para praticas de subjetivação baseadas em novas modalidades relacionais não normativas.
Tal tema , que remonta a antiguidade, portanto, também afeta relacionamentos héteros,
embora no último volume da História da Sexualidade tenham privilegiado o homossexualismo. Afinal, a reflexão de
Foucault aponta para uma nova forma de sociedade não centradas no erotismo.
Se os vínculos orgânicos
definidos pelas relações sociais comunitárias baseadas no funcionalismo de
personas hoje já não fazem mais sentido, a amizade emerge como um campo de experimentações de vínculos
estabelecidos pelo prazer e, ao mesmo tempo, como reabilitação da sociabilidade
enquanto construção de si e de uma “cultura de existência”, como uma nova ética
que despersonificando os sujeitos inventa a vida como o desafio do inédito.
A amizade não é uma relação
privada, mas um campo de circulação de significados e sentidos coletivos onde
cada um de nós inventa o outro como parte de si mesmo.
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