quarta-feira, 25 de outubro de 2017

A INUTILIDADE DA TAGARELICE

“...do mesmo modo que vinho, que foi inventado para o prazer e para a boa convivência, é transformado por aqueles que são forçados a bebê-lo muito e sem mistura num veneno intragável, assim também a linguagem, o mais agradável  e o mais humano dos símbolos, torna-se, por aqueles que o empregam mal e negligentemente, inumana e insociável: julgando-se encantadores, eles são enfadonhos; admiráveis, eles são ridículos; amáveis, eles são desagradáveis. Do mesmo modo que aquele que, pela insígnia mágica, repelindo e afastando seus companheiros, é privado de encanto, assim também aquele que, pela palavra, mostra-se enfadonho e odioso é verdadeiramente sem estilo e sem arte.”
Plutarco in Sobre a Tagarelice


Ninguém nunca tem a palavra final em uma discussão. As boas discussões, aliais, nunca terminam. Pode-se chegar ao silencio sobre a polêmica, mas nunca a sua conclusão. Afinal, ninguém é convencido de um ponto de vista contrário. Estamos inclinados a cultivar desentendimentos, seja por vaidade ou por mera teimosia. Sempre há um componente irracional na adesão a um ponto de vista ou convicção. Por isso é conveniente evitar discussões, muito embora isso não elimine as diferenças ou antipatias. O grande mal é sempre a tagarelice, o dizer sem escutar. A compulsão em falar e opinar é mais forte do que a faculdade de pensar. É por isso que nos distanciamos uns dos outros quando nos engalfinhamos em polêmicas que nos transcendem e que jamais conduziremos individualmente a bom termo sem um pouco de renuncia a nossas certezas. É sempre oportuna a capacidade de escutar os silêncios que povoam todo dialogo.

Um texto realmente divertido e ainda útil de Plutarco, filosofo e prosador grego que  viveu entre os anos 45 e 120 da chamada era cristã, é seu pequeno tratado Sobre a Tagarelice. Trata-se de um elogio ao silêncio que nos oferece uma arte de bem conversar. Segundo ele, diante de qualquer pergunta, há sempre três tipos de resposta: o necessário, o amável e o supérfluo. Que a medida daquele que responde seja a intenção daquele que perguntou. Pois é saudável evitar a vaidade  e a futilidade tanto nas palavras quanto nos atos. Por isso é prudente  cultivar o hábito de calar em uma conversa até que todos tenham renunciado a responde. Só assim é possível interrogar as pessoas sem requerer respostas.

Afinal, o que é a tagarelice além de uma surdez voluntária? A incapacidade de se calar também é uma incapacidade de ouvir.


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