“...do mesmo modo que vinho, que
foi inventado para o prazer e para a boa convivência, é transformado por
aqueles que são forçados a bebê-lo muito e sem mistura num veneno intragável,
assim também a linguagem, o mais agradável
e o mais humano dos símbolos, torna-se, por aqueles que o empregam mal e
negligentemente, inumana e insociável: julgando-se encantadores, eles são
enfadonhos; admiráveis, eles são ridículos; amáveis, eles são desagradáveis. Do
mesmo modo que aquele que, pela insígnia mágica, repelindo e afastando seus
companheiros, é privado de encanto, assim também aquele que, pela palavra,
mostra-se enfadonho e odioso é verdadeiramente sem estilo e sem arte.”
Plutarco in Sobre a Tagarelice
Ninguém nunca tem a palavra final
em uma discussão. As boas discussões, aliais, nunca terminam. Pode-se chegar ao
silencio sobre a polêmica, mas nunca a sua conclusão. Afinal, ninguém é
convencido de um ponto de vista contrário. Estamos inclinados a cultivar
desentendimentos, seja por vaidade ou por mera teimosia. Sempre há um
componente irracional na adesão a um ponto de vista ou convicção. Por isso é
conveniente evitar discussões, muito embora isso não elimine as diferenças ou
antipatias. O grande mal é sempre a tagarelice, o dizer sem escutar. A
compulsão em falar e opinar é mais forte do que a faculdade de pensar. É por
isso que nos distanciamos uns dos outros quando nos engalfinhamos em polêmicas
que nos transcendem e que jamais conduziremos individualmente a bom termo sem
um pouco de renuncia a nossas certezas. É sempre oportuna a capacidade de
escutar os silêncios que povoam todo dialogo.
Um texto realmente divertido e
ainda útil de Plutarco, filosofo e prosador grego que viveu entre os anos 45 e 120 da chamada era
cristã, é seu pequeno tratado Sobre a Tagarelice. Trata-se de um elogio ao
silêncio que nos oferece uma arte de bem conversar. Segundo ele, diante de
qualquer pergunta, há sempre três tipos de resposta: o necessário, o amável e o
supérfluo. Que a medida daquele que responde seja a intenção daquele que
perguntou. Pois é saudável evitar a vaidade
e a futilidade tanto nas palavras quanto nos atos. Por isso é
prudente cultivar o hábito de calar em
uma conversa até que todos tenham renunciado a responde. Só assim é possível
interrogar as pessoas sem requerer respostas.
Afinal, o que é a tagarelice além
de uma surdez voluntária? A incapacidade de se calar também é uma incapacidade
de ouvir.
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