Escrever nunca deve ser uma
escolha, mais uma compulsão, uma “doença saudável” que nos mantem alguma saúde
contra o devir do mundo e as insuficiências da realidade. Nenhum bom escritor escreve por prazer ou
para realização pessoal, mas movido por sua debilidade pessoal. É ela que o
conduz a um deslocamento do próprio rosto através de uma narrativa.
Escreve-se sobre grandezas
impessoais, nunca sobre si mesmo. O próprio ato da escrita é um transbordamento
de si mesmo através destas grandezas: sociedades, culturas, ideologias, gênero,
crime, ficção, psicologia, comportamento.... Ninguém é nada disso. Quando se opina sobre qualquer tema, estamos
simplesmente desaparecendo na adesão a uma corrente de opinião.
A palavra é justamente o lugar onde não
estamos, onde não somos, em permanente deslocamento.