segunda-feira, 10 de julho de 2017

A IMPESSOALIDADE DA ESCRITA

Escrever nunca deve ser uma escolha, mais uma compulsão, uma “doença saudável” que nos mantem alguma saúde contra o devir do mundo e as insuficiências da realidade.  Nenhum bom escritor escreve por prazer ou para realização pessoal, mas movido por sua debilidade pessoal. É ela que o conduz a um deslocamento do próprio rosto através de uma narrativa.


Escreve-se sobre grandezas impessoais, nunca sobre si mesmo. O próprio ato da escrita é um transbordamento de si mesmo através destas grandezas: sociedades, culturas, ideologias, gênero, crime, ficção, psicologia, comportamento.... Ninguém é nada disso.  Quando se opina sobre qualquer tema, estamos simplesmente desaparecendo na adesão a uma corrente de opinião.

 A palavra é justamente o lugar onde não estamos, onde não somos, em permanente deslocamento.

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