segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

SOBRE O EU E O OUTRO





A palavra escrita é onde me desvelo como um não lugar do mundo.
Através do dizer estabeleço quem eu sou entre os outros.
Mas o eu dos meus enunciados é uma mera construção abstrata.
Não define tudo aquilo que sou.
Não posso ser reduzido ao meu próprio rosto.
O nós é o que define o eu, pois este só existe em relação ao outro.
Então, sou o produto dos meus monólogos e diálogos,
Me defino e redefino constantemente através do dizer  e do ouvir.
O outro é o espelho através do qual me percebo.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

INFORMAÇÃO E VIDA



“A informação pode dizer tudo. Ela tem todas as respostas. Mas são respostas a perguntas que não fizemos, e que sem duvida não são nem mesmo feitas.”

Jean Baudrillard in  Cool Memories 1980-1985



No pensar e no dizer, nossas estratégias e referências narrativas não nos definem como indivíduos, nem personificam propriamente alguma forma de subjetivização do real. Ao contrário, nos faz prisioneiros de personas definidas pela instrumentalização do conhecimento. A apropriação seletiva de conteúdos impessoais (ideias e conceitos) não afirmam nossa singularidade, mas apenas nosso conformismo a alguma imagem/ formula  abstrata de realidade e mundo.


Nossa singularidade passa pela experiência do niilismo, pela desconfiança de todas as estratégias de valoração e leitura da realidade e da vida. Somos radicalmente quem somos quando percebemos o grande vazio que é a existência. Então, não há mais um jogo entre perguntas e respostas. Nada, absolutamente, faz sentido. Não há mais necessidade de informação. Não  há mais nada a ser dito.

INFORMAÇÃO E CULTURA

As vezes penso que  cultura se reduziu hoje a uma patologia da informação, a uma imagética poluída, que se limita a uma gramática do efêmero elevada a carcomida condição de verdade.



O hibridismo entre conhecimento e informação que reduz os saberes a meras técnicas utilitárias e funcionais, empalideceram nossas narrativas de mundo. Por isso ainda não fomos capazes de superar o século XX e nos perdemos a meio caminho de uma pós cultura.

 Afogado em um mundo de informações, já não sei mais quem eu sou. Penso, logo não existo, entre o sujeito, o objeto e o vazio. Houve um tempo em que tínhamos mais respostas do que perguntas. Agora, o texto explode a céu aberto em diversidades de significados ralos que não dão conta de nossa fome de sentido. O que ainda pode ser pensado, dito ou imaginado? A realidade é feita de migalhas, retalhos e rastros.




quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

SI MESMO



Quero lembrar o instante
Em que certos sentimentos
Acordaram em mim
Aquele momento no qual me descobri outro,
No qual me reinventei o rosto
Para ser ainda mais quem eu sou,
Saber o eu e o mundo nivelados como experiência.
Mas este instante escapa ao tempo,
É um evento incerto,
Absurdo como meu próprio nascimento.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A INDIFERENÇA DO PENSAMENTO



Todo esforço do pensamento toma por meta produzir uma indiferença, um distanciamento em relação as coisas vividas. É preciso domesticar a realidade. Mas isso só é possível na medida em que nos apartamos dela. Pensar é uma forma de distanciamento das coisas que se estabelece através da abstração. Existe um hiato entre o mundo vivido e o mundo pensado que preenchemos através d subjetivação do real, da imersão da consciência  na experiência do mundo através do corpo.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

EU, MUNDO E PERCEPÇÃO




Minha existência é imprecisa. Pois não sou este eu que pensa. Nem me identifico com minhas próprias palavras. Ser é um não lugar que extrapola a consciência, um vazio preenchido por signos e símbolos. A vida é gramática e a realidade é este corpo que sou. Assim, sou o meu próprio objeto através de cada pensamento onde o eu e o não eu se realizam como imersão na percepção daquilo que existe, como realidade mundo.
Lembrando Merleau Ponty,
“A percepção não é uma ciência do mundo, não é nem mesmo um ato, uma tomada de posição deliberada; ela é o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e ela é pressuposta por eles. O mundo não é um objeto do qual possuo comigo a lei de constituição; ele é o meio natural e o campo de todos os meus pensamentos e de todas as minhas percepções explícitas. A verdade não “habita” apenas o "homem interior", ou, antes, não existe homem interior, o homem está no mundo, e é no mundo que ele se conhece.”.
(MERLEAU-PONTY.In Fenomenologia da percepção , 2006 p.6

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

PÂNICO CONTEMPORÂNEO

A crise das representações,
as incertezas e vazios
da nossa existência,
afirmam o indivíduo
contra as codificações coletivas,
contra as mimesis, adaptações
e contradições universais.
Mas o que somos presos a estes vazio,
a esta ausência de mundo
apesar de nossa lucidez pessoal?
Perplexos ,
desconstruímos futuros,
inventamos estéticas,
na aventura de viver em pânico,
singulares e autônomos,
através da arte e contra a sociedade.
Somos todos nômodas.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

EXPERIENCIA E SUBJETIVIDADE

Enterrado no tempo que passa, procuro encontrar um momento em que todas as coisas ganhem sentido ou simples plenitude no frágil fato de estar vivo. Falo de um vago sentimento de realização com as coisas vividas que normalmente escapa ao simples dia a dia. O extraordinário é sempre algo simples e quase banal, um resgate da experiência das coisas através da subjetivação dos fatos objetivos. Tudo depende de nossa percepção e capacidade de estabelecer camadas de significado sobre os pequenos detalhes dos acontecimentos.


SOBRE A REALIDADE

Escolha alguns fatos,
Organize-os aleatoriamente
E invente a realidade a seu gosto.

Não existe um real objetivamente dado,
Mas o realmente vivido
Que se reduz a experiência.

Isso é tudo que temos:
Nosso ser no mundo
Como representação e vontade.

Nenhuma narrativa esgota a realidade...
Tudo é questão de hiper- informação

Gramaticalmente organizada.