A recusa do mundo do devir é
personificada não apenas pela metafísica religiosa e seu desdém pela realidade
sensível, mas também pela valoração do bem estar e da saúde. O culto ao corpo e
a vida saudável representa muito mais do que a busca pela longevidade, mas a
afirmação de uma moral que toma por referencia a felicidade, uma estética da
existência onde não há lugar para o imperfeito, o defeituoso ou, simplesmente,
o contraditório. Assim, a ideia substitui o real ou é tomada como sua
substancia. O ethos de uma felicidade
concreta, o mito de uma positividade absoluta, por mais ingênuo que seja, anima
a imaginação de muitos.
Mas o devir, a incerteza e a
finitude, permanecem condições incontornáveis da condição humana que não podem
ser substituídas por qualquer ideal de saúde, por qualquer representação de
felicidade. Nenhum bem estar é constante e a vitalidade não é uma regra. O
mundo e a existência permanecem imperfeitos, contraditórios. Apenas o
pensamento nômade, sujeito a indeterminação ontológica e a incerteza, é capaz
de dar conta do viver em sua totalidade.