quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

SOBRE O DEVIR E A VIDA




A recusa do mundo do devir é personificada não apenas pela metafísica religiosa e seu desdém pela realidade sensível, mas também pela valoração do bem estar e da saúde. O culto ao corpo e a vida saudável representa muito mais do que a busca pela longevidade, mas a afirmação de uma moral que toma por referencia a felicidade, uma estética da existência onde não há lugar para o imperfeito, o defeituoso ou, simplesmente, o contraditório. Assim, a ideia substitui o real ou é tomada como sua substancia. O ethos de uma felicidade concreta, o mito de uma positividade absoluta, por mais ingênuo que seja, anima a imaginação de muitos.



Mas o devir, a incerteza e a finitude, permanecem condições incontornáveis da condição humana que não podem ser substituídas por qualquer ideal de saúde, por qualquer representação de felicidade. Nenhum bem estar é constante e a vitalidade não é uma regra. O mundo e a existência permanecem imperfeitos, contraditórios. Apenas o pensamento nômade, sujeito a indeterminação ontológica e a incerteza, é capaz de dar conta do viver em sua totalidade.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O LIMITE DAS AUTO DEFINIÇÕES



Somos finitos em nossas auto definições e não em nossas potencialidades. Entretanto, nossas auto definições são abertas, pois não somos idênticos as nossas gramáticas de realidade. Assim, elas coincidem com nossas potencialidades, pois, virtualmente, estamos sempre em processo de ser, jamais fixos em qualquer ponto, em qualquer determinação. Não podemos escapar totalmente ao indeterminado, a imprecisão, não importa o quanto aderimos a conceitos fechados e ao limitado de nossas auto definições. Em poucas palavras, não somos inteiramente em nada de que acreditamos, nas personas as quais aderimos.

O IDEAL DE SER



Sofro o vago desejo de ser abstrato,

Sem carne e osso,

Como um pensamento puro e inocente de mundo...

Esta seria a condição ideal da existência.

Mesmo que não fosse real,

Que não fosse humana,

Que não fosse intensa.

Não é este, afinal, o sonho de todas as filosofias?

A superação das contradições,

O ser pelo ser através do não ser!

Não é este vazio que agradaria a todos?

Este existir sem tempo

Feito de mais destilado significado?!

Sabem todos  que o pensamento é o mais franco inimigo da vida.




terça-feira, 31 de janeiro de 2017

SOBRE O DESAPARECIMENTO DO MUNDO





Acreditar no mundo é o que mais nos falta; nós perdemos completamente o mundo, nos desapossaram dele. Acreditar no mundo significa principalmente suscitar acontecimentos, mesmo pequenos, que escapem ao controle, ou engendrar novos espaços-tempos, mesmo de superfície ou volume reduzidos. (...) É ao nível de cada tentativa que se avalia a capacidade de resistência ou, ao contrário, a submissão a um controle. Necessita-se ao mesmo tempo de criação e povo.

DELEUZE, Gilles. Controle e Devir. In: Conversações. Trad. de Peter Pál Pelbart. SP: Editora 34, 1992, p. 218.

Entre o eu e os outros há um campo incerto e indeterminado de existência onde imperam signos e símbolos, onde o coletivo nos pensa na invenção de uma realidade comum .Tudo que somos acontece ali, naquele vazio de nós mesmos que nos aproxima como variantes de uma unica forma de existência . Ali o ser e o não ser se articulam como sentido. 
Somos ali, justo onde não estamos, o acontecer de todas as coisas possíveis em nossa atitude social. Fora das formatações impessoais do poder e da cultura o que nos resta? Talvez a "bio política" de Foucault ou a “sociedade de controle” de Deleuze tornem complexo o problema da subjetivação na cultura contemporânea.

 Observa-se um deslocamento cada vez mais radical do  das gramáticas de existência. A própria ideia de cultura e civilização revelam-se simulacros, uma busca pela realização de uma vida mais verdadeira do que a própria vida. O mundo torna-se, assim, cada vez mais irreal. Pois já não faz mais sentido buscar nas coisas algum singinificado.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

INVENTANDO O NOVO


Toma emprestado um pouco de juventude

Daquela criança que você foi um dia.

As vezes é bom agir como um infante,

Adivinhar os atos

Em lugar de repetir velhos gestos.


Novidades acontecem,

E o novo se inventa.

Há muitas formas de se fazer uma coisa

E a aventura  de cada caminho

Da um sentido diferente ao ato.


Então, pelo menos hoje,

Evite um pouco a rotina

E seja irresponsável como uma criança.
Ouse....

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

SOBRE A GRATUIDADE DAS COISAS



Uma classificação das coisas como útil ou inútil apenas pressupõe uma visão utilitária de mundo que descarta o componente lúdico da existência humana. Por outro lado, recusar a utilidade como critério e substitui-la pela  significação subjetiva e simbólica não é uma resposta satisfatória ao utilitarismo. A importância dos girassóis de Van Gogh transcende a objetividade tanto quanto questiona a subjetividade. A perenidade de nossos feitos e formulações nos  leva a gratuidade, ao não intencional como critério de valoração das coisas. Nada é importante e todas as significações são efêmeras.