segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

AGUA CORRENTE



Escuto a agua correndo,

Suave e constante,

Como se não fosse a qualquer parte.

Sempre passando,

Cristalina,

Inventando seu próprio caminho,

Vencendo qualquer resistência.

A agua não tem domínios,

Inventa-se em todos os cantos

Quase como se fosse um vento.

MUNDO E SUBJETIVIDADE

O mundo vivido é sempre o intimo mundo percebido por cada um. Esta premissa fenomenológica significa que a realidade do outro só pode ser por mim experimentada indiretamente a partir da minha própria experiência do real.  O outro só é pensável na medida em que existe um eu, pressupõe co-existência e intencionalidade. A realidade é, portanto experimentada como uma espécie de um multi eu que me confronta com múltiplas intencionalidades com as quais sou obrigado a interagir primeiro física e sensualmente e depois como representação e interpretação.


Não é fácil dizer o que é o mundo vivido, pois suas fronteiras são elásticas e provisórias já que o mundo em sua totalidade é uma abstração só possível   através da experiência daquilo que é o mundo para mim.  

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

MEU MUNDO




Meu mundo era feito de quadros,
Livros e moveis antigos
Espalhados pelo pequeno espaço desorganizado
Do meu apartamento de um quarto.
Nada ali tinha seu lugar
Ou funcionava direito.
Tudo era tão errado como minha vida.
Todas as minhas certezas eram provisórias
Na livre imaginação e delírio
De todas as coisas.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

INDIVIDUALISMO RADICAL

O mundo anda tão absurdo que me leva a supor normal o sentimento de vertigem dos fatos, dos dias,  e minha quase insuportável vontade de liberdade de tudo aquilo que ainda me liga a humanidade.

Cada vez mais julgo indispensável os sussurros da minha melancolia, meus surtos de individualidade, meus protestos mudos contra um cotidiano imundo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

PLURI IDENTIDADE E O DESLOCAMENTO DAS AUTO DEFINIÇÕES



A  vida privada já não esta mais entre as quatro paredes de casa, mas na capacidade de evadir-se da realidade através do herói de  vídeo game. Esta relativa indeterminação do eu frente a pluralidade de  estratégias de devaneio é uma das mais curiosas novidades do tempo presente. Podemos vestir varias personas, despi-las, esquece-las e usa-las de novo. Nos tornamos metamorfoses constantes que já não cabem em qualquer rotulo especifico. O catálogo social implodiu as tribos culturais. Temos tantas opções que já não precisamos escolher. Assim, nossa própria intimidade tornou-se uma experiência pública. É preciso que os outros nos digam quem somos na especificidade de cada circunstância e momento. Por isso gostamos de brincar de ser um outro, esquecer do mundo e da privacidade proporcionada por um eu virtual. Afinal, ele mesmo, também não passa de simulacro.

NOSTALGIA E TEMPO PRESENTE: A CONTEMPORANEIDADE DO PASSADO






A nostalgia do passado  pode nos conduzir a uma falta de compromisso com o tempo presente quando narramos uma experiência qualquer ou compartilhamos uma memória. Pois não esta em jogo ai apenas uma lembrança, mas seu significado. Tal significado é mais comunicado do que o fato narrado  quando compartilhamos a memória de  uma experiência vivida. 

Mas é bom observar também que o próprio significado é contemporâneo. Estamos assim falando  de uma ação passada que se torna representação presente. Nestes termos, o valor que atribuímos ao passado através da nostalgia é também uma desvalorização do presente ou um modo de viver o tempo presente evadindo-se no ontem. A nostalgia  é tanto uma representação e reinvenção afetiva de um tempo perdido como também uma ação no aqui e agora configurada pela experiência presente desta perda, pela sua reelaboração contemporânea. 

Objetivamente, o passado é tudo aquilo que foi perdido. Não pode ser resgatado. A nostalgia é o paradoxo de reinventar o passado como contemporaneidade, como paradoxal imagem do não ser e silêncios que definem as insuficiências e ausências do tempo presente que, por sua própria natureza, encontra-se fadado a um incacabamento constante.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A ILUSÃO DO CONHECIMENTO OBJETIVO


A ilusão fundamental do intelecto moderno é a ingênua crença de que a realidade, em sua suposta e decantada objetividade, possui uma regularidade, um ordenamento intrínseco, sendo a natureza, portanto, inteligível e, portanto, racional. Assim fica assegurada, desde que observado o método adequado, a conivência entre o dizer e o viver das coisas. No acontecer das culturas e sociedades, o trabalho humano sobre a natureza faz seguir a marcha do desenvolvimento da espécie, destes estranhos bípedes, desde sempre predestinados a reinar neste pequeno e belo  planeta.

A ilusão de tal raciocínio está na  ignorância  do fato de que somos nós que inventamos a natureza que observamos , que todo conceito, qualquer fenômeno, é uma construção ou condição de nossa percepção. Tudo que para nós existe só pode existir em termos humanos. Projetamos em tudo que existe nossa condição humana.

Decorre desta simples constatação que nenhum conhecimento é esclarecimento ou desvelamento de um ser oculto das coisas pelo precioso dom de nossa racionalidade. Não somos especiais. Apenas narcisos a ponto de fazer de sonhar o mundo a sua imagem e semelhança. Compreender o mundo é entender como pensamos e produzimos a realidade.

PARA ALÉM DO HUMANO



A grande questão hoje não é a capacidade do ser humano transformar a natureza através da tecnologia, mas da tecnologia transformar o ser humano extrapolando sua condição de artifício no híbrido entre o não natural e o humano. Está em questão a hipótese de uma alteração sem precedentes do imaginário social frente à falência do conceito de realidade diante das estratégias do virtual e suas novas sensibilidades.

 A metafísica da realidade fundada no conceito de "Ser" e de "Verdade", na ontologia do real, já não mais se sustentam com o deslocamento da ideia de identidade e reconfigurações da subjetividade. A fabulação e a imagética podem condicionar mais a vida do pensamento contemporâneo do que a linguagem verbal e sua racionalidade fundada em raciocínios lineares encadeados por conceitos fechados.

Mas ainda não possuímos  instrumental cognitivo para assimilar todas as possíveis consequências  das hipóteses aqui vagamente apresentadas. Como, afinal, seria possível representar um mundo onde toda representação deixou de fazer sentido?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

DO MUNDO AO PENSAMENTO

“O pensamento não busca desvendar algum segredo do mundo, nem descobrir sua face oculta- ele é essa face oculta. Não descobre que o mundo tem uma vida dupla-é essa vida dupla, essa vida paralela. Apenas obedecendo a seus mínimos movimentos despoja o mundo de seu sentido e o predestina a fins bem diversos que aqueles que o mundo se da a si. Apenas seguimos seus traços, o pensamento mostra ao mundo que, por trás de seus fins supostos, não vai a lugar algum.
O ato de pensar é um ato de sedução que visa a desviar o mundo de seu ser e de seu sentido- mesmo correndo o risco do pensamento tornar-se, a si mesmo, seduzindo e desencaminhando.”
Jean Baudrillard in  A Troca Impossivel. RJ: Nova Fronteira, 2002, p. 152



A relação entre o mundo e o pensamento, mediada pelo significado, não é definida pela realidade. O pensamento é o não lugar do mundo. Através dele acrescentamos ao real uma dimensão diversa da experiência imediata e concreta. O pensamento não é sua representação, mas sua transfiguração. Assim, todo pensamento é uma forma de ficção cuja matéria prima é a incerteza do mundo e da própria realidade.  O pensamento tem vida própria e se fecha sobre si mesmo adjetivando o mundo. Ele se destina a construção de sentido e significado, a afirmação da subjetividade. Quase sempre habitamos em nossos pensamentos e não no mundo como experiência sensível e imediata de nós mesmos. Vivemos todos, de certa forma, alienados da realidade.