“O pensamento não busca desvendar algum segredo do mundo, nem descobrir
sua face oculta- ele é essa face oculta. Não descobre que o mundo tem uma vida
dupla-é essa vida dupla, essa vida paralela. Apenas obedecendo a seus mínimos movimentos
despoja o mundo de seu sentido e o predestina a fins bem diversos que aqueles
que o mundo se da a si. Apenas seguimos seus traços, o pensamento mostra ao
mundo que, por trás de seus fins supostos, não vai a lugar algum.
O ato de pensar é um ato de sedução que visa a desviar o mundo de seu
ser e de seu sentido- mesmo correndo o risco do pensamento tornar-se, a si
mesmo, seduzindo e desencaminhando.”
Jean Baudrillard in A Troca Impossivel. RJ: Nova Fronteira,
2002, p. 152
A relação entre o mundo e o
pensamento, mediada pelo significado, não é definida pela realidade. O
pensamento é o não lugar do mundo. Através dele acrescentamos ao real uma
dimensão diversa da experiência imediata e concreta. O pensamento não é sua
representação, mas sua transfiguração. Assim, todo pensamento é uma forma de
ficção cuja matéria prima é a incerteza do mundo e da própria realidade. O pensamento tem vida própria e se fecha sobre
si mesmo adjetivando o mundo. Ele se destina a construção de sentido e
significado, a afirmação da subjetividade. Quase sempre habitamos em nossos
pensamentos e não no mundo como experiência sensível e imediata de nós mesmos.
Vivemos todos, de certa forma, alienados da realidade.