terça-feira, 22 de novembro de 2016

A ARTE DA CITAÇÃO E O AVESSO DA TRADIÇÃO

O empaledecimento do original é uma pré condição da paródia, da repetição, enquanto estratégia de criação. Não somos originais. Sofremos o peso de nossas heranças e lhe somos fieis na exata medida em que buscamos supera-las e inventar o inédito através de sua replicação. A cópia nunca é fiel ao original. Citar é traduzir, inventar versões.


Mesmo em nosso conservadorismo sofremos o imperativo do devir. Assim, o original é sempre uma referencia virtual constantemente atualizada pela contemporaneidade de nossa interpretação.  Os contextos em que determinada obra  ou referencia de cultura é produzida reduz seu sentido ao instante de sua origem. 

domingo, 20 de novembro de 2016

A ARTE DA BOA CONVERSA

Em toda boa conversação é necessário reservar uma cota de voluntárias omissões. É tamanho o desacordo entre os seres humanos que o melhor é não ser demasiadamente franco quanto as próprias opiniões.

Nunca diga tudo o que pensa e nunca escute tudo que lhe dizem. Ninguém nunca esta disposto a escutar aquilo que não lhe cabe nos ouvidos. O comércio entre os indivíduos  não passa de um grande teatro cujo objetivo não é o entendimento mutuo, mas a troca superficial de frases convencionais no mais egoísta entretenimento.

HUIZINGA, MAFFESOLI E O LÚDICO DO COTIDIANO


Herdeiro intelectual de Gilbert Durant, Michel Maffesoli é um sociologo que incorpora a sua reflexão sobre a sociedade o não lógico e o não racional como componente essencial de nossa condição humana e da construção da sociabilidade. Sua obra A CONQUISTA DO PRESENTE é por isso um contundente questionamento de nossos lugares comuns, pois propõe, através de uma reflexão arguta sobre o nosso mais imediato cotidiano, algum tipo de "reencantamento do mundo".

Para Maffesoli, dialogando diretamente com Huizinga e seu HOMO LUDENS, a astúcia  estrutural e corriqueira do jogo social é ritualísta e imagética em sua polifonia lúdica  no além do olhar totalizante do cientificismo da sociologia convencional.  A estruturação da vida cotidiana, o  aqui e agora, é estruturado pelo imaginal em suas várias mascaras e matrizes ontológicas. Desde o vestuário, do gestual até as formas mais complexas do acontecer social.

Trata-se sempre de um jogo. Nas palavras do autor,

"É fácil reconhecer a importância  do jogo na estruturação do social, mesmo que, desta forma se despreze o seu impácto nas ocupações 'serias' (produção, politica), aceitando-o, mais facilmente, sob a noçãop de competição. Assim, seja em seu aspecto agonal, seja sob a forma do desafio ou ainda do mimetismo, seja na teatralização da vida pública (politica, consumo, espetáculo), o jogo é elemento fundamental de toda  sociedade. De fato, mais do que falar de jogo, seria melhor dizer, 'em jogo'. A vida é um jogo, a vida está em jogo. Essa é a relação com o destino, é o que liga estreitamente  a seriedade ao riso."
 (Michel Maffesoli. A Conquista  do presente. RJ: Rocco, 1984, p.160)

Nossa aventura existencial é uma negociação constante  com a alteridade do social que definem os jogos de sociedade entre a regra e o lúdico através da dialética da criação e da repetição. A teatralidade do cotidiano funda a ritualistica da vida comum, nos mantem coesos, apesar da constante iminência do caos.
Nesta parte é interessante remeter ao HOMO LUDENS de Huizinga,

"Sempre que nos sentimos presos de vertigem, perante a secular interrogação sobre a diferença entre o que é sério e o que é jogo, mais uma vez encontraremos no domínio da ética o ponto de apoio que a lógica é incapaz de oferecer-nos. Conforme dissemos desde o inicio, o jogo está fora  desse domínio da moral, não é em si mesmo nem bom nem mau. Mas sempre que tivemos que decidir se qualquer ação a que somos levados por nossa vontade é um dever que nos é exigido ou é licito como jogo, nossa consciência moral prontamente nos dará a resposta. Sempre que nossa decisão de agir depende da verdade ou da justiça, da compaixão ou dá consciência, o problema deixa de ter sentido."
(Johan Huizinga. Homo Ludens: O Jogo  como elemento da Cultuira. SP: Perspectiva, 2012-7ºEd., p. 236)

O fato é que não somos tão racionais como a ingenuidade do culto a razão  herdada do séc. XVIII supôs. A designação de nossa espécie como Homo Sapiens é no minimo equivocada e seria mais adequada a nossa qualificação como Homo Ludens. Em todas as nossas decisões cotidianas oscilamos entre o arquetípico e estereótipo . O jogo é a repetição factual em uma ordem absoluta que nos conduz a permanência constante do insignificante. Mas quando com a dimensão ética, o lúdico nos inspira o simplesmente viver, o mergulho na alteridade e na pluralidade instantânea que nos afasta do caos que nos espreita.


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

AFORISMOS SOBRE A ARTE DA LEITURA

Um bom leitor jamais se torna um cúmplice de seu autor preferido.

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Um bom livro é aquele que supera seu autor e a intencionalidade que tenta domestica-lo.
Todo bom livro é selvagem...

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Nenhum livro deve ser lido ao pé da letra.

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Toda leitura é um dialogo solitário...

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O agramatical, o desvio imagético é o que torna uma narrativa interessante.

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Autor e leitor se confrontam na aventura de um bom texto. Pois o texto escrito nunca coincide com o texto lido.

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Saber ler e escrever não faz de ninguém um bom leitor.

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Ler é também um ato criativo.

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Um bom livro precisa ser relido periodicamente...
Há muitas camadas em uma boa narrativa.

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A experiencia de qualquer enunciado é essencialmente interpretativa.

domingo, 13 de novembro de 2016

NIILISMO E VIDA COTIDIANA

Qualquer experiência da felicidade é uma ilusão ingênua e pressupõe a negação unilateral das contradições inerentes a qualquer representação ou consciência da realidade. O chamado "realismo pragmático", por outro lado, é uma questão de má vontade com a vida.

somente o niilismo faz sentido em seu franco desprezo pelo mito do significado e desconfiança das precárias certezas que nos sustentam a afirmação da  existência.

A mais eficiente resposta a vida permanece sendo o hedonismo discreto dos indiferentes. Viver é uma questão de comedida embriaguez contra toda filosofia estoica ou ideário moral de uma vida reta.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

EGO E CONSCIENCIA

A consciência moderna identifica-se com um ego abstrato e autoconsciente que reduz tudo aquilo percebe a condição de objeto. Mas o próprio ego é uma espécie de máscara que falseia à consciência, que a cancela como um campo de representações onde o real se apresenta como co-existencia dos fenômenos e coisas que são a própria consciência projetada como exterioridade. Ém lugar de uma realidade objetivamente dada, quando pulamos sobre nossos próprios egos, intuímos a consciência como um participar de tudo aquilo que existe. Estamos imersos na realidade. Mas vivemos do pensa-la como algo diferenciado da consciência.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

CONTRA A IDEIA DE VERDADE

Não acredito  em verdades...
valorizo em demasia minhas duvidas,
minhas incertezas
e incapacidade de viver de convicções.
Não gosto de ser muito coerente,
de fazer muito sentido.
Sou inapto a crença ou a fé.
Duvido, as vezes, até mesmo
da minha consciência.
Talvez alguém sonhe minha vida
e este mundo inteiro.
Sei que a realidade não tem garantias.
tudo não passa de uma ilusão realista.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

SER E DIZER

Dividido entre o sentido e o espanto
Invento o que sei
Através do dizer que me pensa
No encadeamento das palavras.
Sou apenas aquilo que o texto
Fez de mim
Contra todas as interpretações possíveis.
Ser é também

Uma questão de  hermenêutica.

DEFININDO O PÓS ESTRUTURARISMO


As generalizações abusivas e as narrativa inspiradas pelo herança de uma racionalidade iluminista, ou simplesmente, orientadas por uma filosofia do progresso e aperfeiçoamento do gênero humano, já não encontram eco nas labirínticas paisagens do mundo contemporâneo. Já não buscamos explicações ou respostas “objetivas”, “causalidades” ou conexões sistêmicas para domesticar o real e a História. 

Apenas escrevemos nossa literatura das coisas vividas e imaginadas sob a erosão de toda a tradição. Pensamos sobre ruínas e nos inventamos  além de qualquer futuro. Creio ser esta a melhor forma de descrever o campo do chamado Pós Estruturarismo inspirado pela filosofia de Niethzsche  que reune autores diversos como Foucault, Deleuze, Lyotard, Baudrillard, Paul Ricoeu, dentre outros.

NOTA SOBRE O TEMPO PRESENTE

Compartilhamos todos uma mesma época histórica, Mas vivemos  em tempos e lugares diferentes e em uma relação diversa com o passado imediato.  Nunca somos  plenamente contemporâneos de nosso próprio tempo, pois ele é múltiplo em suas possibilidades, processos  e significados. Por isso é muito difícil definir o atual período histórico. Ele só existe em nossas interpretações diversas como um ato linguístico e não identidario. O tempo do agora é virtual, fluido e plural em um agora cada vez mais estendido.