segunda-feira, 10 de outubro de 2016

SOBRE A PLURALIDADE DO DIZER

O  poder dizer a vida através de um texto se tornou uma arte duvidosa depois de que todos os discursos, por convenção,  se fizeram possíveis. Diante da polifonia dos significados, a verdade se perdeu da palavra. Tornou-se um fantasma dos tempos antigos onde se acreditava que elas correspondiam as coisas.


Estamos agora restritos ao incerto domínio das interpretações e opiniões. O próprio real converteu-se em uma construção complexa  formatada pela linguagem e estratégias discursivas  que adotamos. Já não é mais possível nos atermos aos fatos, na medida  em que somos inventados, enquanto sujeitos cognoscentes, pelo próprio objeto que construímos.

MEMÓRIA E FANTASIA

O passado é sempre mais agradável do que o tempo presente. Temos a impressão de que, em épocas anteriores, os códigos sociais de vida e existência, por sua maior simplicidade, proporcionavam mais facilmente um viver mais intenso. Colorido pelas lentes de nossas idealizações nostálgicas, o passado exibe cores intensas em contraste com o desbotado do tempo presente. Lembrar o passado é sempre mais interessante do que viver ou sofrer as circunstâncias de nossa própria época, que sofrer seus impasses e incertezas. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

IMEDIATISMO

Neste exato momento
Nada acontece na minha vida.
As horas passam mansamente
Enquanto administro o ócio
Simplesmente existindo.
Nenhuma finalidade,
Reflexão, saudade ou angustia...
Apenas o aqui e agora
Despido de qualquer sentido.


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O NÃO SENTIDO DA HISTORIA

Como diziam os antigos, a História é como um grande teatro onde a Sorte (Fortuna) se diverte em atrapalhar nossos planos, nossas teleologias cotidianas ou sublimes idealizações éticas e intencionais. Dai a importância do não factual, pois a construção da realidade é um desafio diário ao qual cada indivíduo em sua privacidade ou no espaço publico da coexistência  responde com as possibilidades oferecidas por sua imaginação. No plano social nossas codificações e imagéticas cognitivas estão sempre em processo de construção e reconstrução ou, simplesmente, adaptação e readaptação as circunstancias.

Em termos históricos o social não está condicionado ao horizonte da previsibilidade, pois os desdobramentos de determinado evento não é prefigurado por suas supostas causas, como erroneamente pode sugerir a visão retrospectiva, mas pelas variáveis que interferem em seus desdobramentos produzindo novos contextos e conjunturas que contrariam sua natural tendência a inercia a permanência simples de uma situação ou condição anterior de dado estado de coisas.
O que se diz aqui é que a História não faz sentido, não é dotada de um proposito, como , por exemplo, o progresso da humanidade ou qualquer coisa que o valha. Não existe um processo histórico dotado de uma racionalidade intrínseca ou um “fim da história”.


A aleatoriedade dos acontecimentos e as sincronicidades estabelecidas entre diversos eventos em um determinado contexto é o que nos leva  socialmente a situações novas e mais imprevisíveis do que gostaríamos que fossem.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

PENSAMENTO NÔMADE






Vivemos o desafio de uma filosofia antiteoretica onde o conhecimento revela-se um jogo, um envolvimento cada vez mais profundo com a ilusão de verdade. As palavras precisam trair ao seu próprio significado, ser transfiguradas em cada frase. O intelecto mascara-se, inventa disfarces, na busca pela afirmação de seu dizer o mundo. Tudo por mera vaidade ou simples necessidade de “saber”. Mas já não há mais  verossimilhança que nos atraia para o dizer da razão ou ao conformismo da estreiteza dos dogmas científicos. Somos cotidianamente confrontados com o nonsense, com os limites de todos os discursos.

Isso é o mesmo que dizer que a existência já não é passível de leituras serenas, que já não podemos nos abrigar a sombra de nenhuma verdade gnosiológica e nos conformar as interdições das convenções. Temos fome de novidades, justamente agora que todas as possibilidades de mudança parecem diluídas pelas metamorfoses do sempre igual epstemológico.
   
O pensamento tornou-se nômade...


terça-feira, 27 de setembro de 2016

SOBRE LEMBRAR E ESQUECER

Atualmente o viver coletivo ou compartilhado entre outros indivíduos é feito mais de esquecimentos do que de lembranças. A informação ultrapassa nossa capacidade de fixar memórias de longo prazo. Precisamos de uma arqueologia das coisas perdidas. Não para resgata-las, mas para compreender o esquecimento como modalidade de significação. Por outro lado, nem sempre o mais importante é o que foi lembrado. Não escolhemos nossas memorias. Ela nos serve como um filtro que seleciona arbitrariamente aquilo que se perpetua.

O ACONTECIMENTO E O FATO

O essencial da representação ficcional esta na impossibilidade do momento. Mas tal impossibilidade pode acontecer não apenas em função de sua condição de não acontecimento, mas também por sua conversão a memória e a vestígio.


Quanto mais distante um acontecimento se faz na linealidade cronológica da modernidade, mais nítido ele se torna enquanto ocorrência  imagética, um re-vivenciar daquilo que jamais foi vivido, mas permanece no caminho de todos nós como uma pegada. É preciso mostrar aquilo  que não vimos, reinventa-lo como experiência  presente. O que só é possível mediante a transcendência do fato bruto.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

NOTA SOBRE A SIGNIFICAÇÃO DA REALIDADE

Broquear o sujeito como fluxo de expressão e instancia de significação. Eis um objetivo no mínimo inusitado, mas urgente do ponto de vista de uma experiência mais crua do ato de cognição e codificação do mundo pela consciência/autoconsciência.

Existir é viver do significado das coisas menos do que de sua experiência imediata. Sabemos ou inventamos a realidade através do filtro de dada configuração cultural específica, o que significa que não compartilhamos a mesma imagem de mundo, mas existimos naquela que nos foi possível dentro daquele lugar especifico onde vivemos.


Quando a significação leva em conta a experiência direta do devir dos fenômenos, sem prefigura-lo em demasia, de acordo com nosso arcabouço cultural, estranhamos o familiar e redimensionamos nossa percepção do real. 

SUJEITO INDETERMINADO

Ao longo de toda minha biografia, talvez tenha tido a oportunidade de conhecer e conviver com uma centena de pessoas ao longo dos vários períodos da minha existência. Certamente cada uma delas guarda uma imagem diferente de mim condicionada ao compartilhamento de um momento especifico da minha trajetória pessoal. O somatório destas impressões pessoais provavelmente não levaria a qualquer imagem muito precisa do ser humano que fui ao longo dos anos. Mas o que me causa mais estranhamento é o quanto hoje em dia me desconheço nas muitas versões de mim acumuladas nos anos. Sou um estranho entre meus eus espalhados pelo tempo. Esta indeterminação me define.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

POR UM NOVO ESPIRITO CIENTÍFICO

O caráter normativo e judicativo das ciências sociais, que hoje se mostra estéril e desgastado na construção de suas narrativas, precisa ser superado ou, pelo menos, confrontado por uma ontologia existencial ou fenomenologia que devolva a existência  ao acontecer das coisas. Falo de uma superação do raciocínio sistêmico e baseado em conceitos fechados. Proponho narrativas abertas que transcendam a superfície das formas de organização social e mergulhe nas entranhas da experiência do real, não pressupondo um observador isento, mas em comunhão simbólica. A construção do sentido e do significado pressupõe tal envolvimento.