O caráter normativo e judicativo
das ciências sociais, que hoje se mostra estéril e desgastado na construção de
suas narrativas, precisa ser superado ou, pelo menos, confrontado por uma
ontologia existencial ou fenomenologia que devolva a existência ao acontecer das coisas. Falo de uma superação
do raciocínio sistêmico e baseado em conceitos fechados. Proponho narrativas abertas
que transcendam a superfície das formas de organização social e mergulhe nas
entranhas da experiência do real, não pressupondo um observador isento, mas em
comunhão simbólica. A construção do sentido e do significado pressupõe tal
envolvimento.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
INDIVÍDUO E COMPORTAMENTO NA CONTEMPORÂNEIDADE
Ao individuo contemporâneo,
reduzido a si mesmo, cabe promover a recusa do seu acontecer social formatado
pela integração de personas, das mascaras impostas pelos padrões de
sociabilidade e identidade cristalizados pela tradição.
Atualmente, cada um pode reaprender-se
através de todas as lacunas de sua existência concreta, pelos devaneios do “poderia-ser”.
Não se trata da reivindicação de qualquer egoísmo utópico ou idealista, mas da
simples constatação de que todas as verdades coletivas deixaram de fazer pleno
sentido.
Já não existem respostas as nossas angustias e
ansiedades privadas que não passe por uma reinvenção das sociabilidades. As
formas tradicionais de estar entre os outros perderam a hegemonia e já não existe um roteiro social pré definido
por um ethos universal.
O comportamento do individual nunca foi tão
livre para reconfigurar-se sem o peso de um dever ser. Os insondáveis meandros
da liberdade de cada um definir
autonomamente suas estratégias de significação do mundo. A individuação está na
ordem do dia do acontecer social.
LEITURA E INTERPRETAÇÃO
O ato da
leitura, tal como o da escrita, é uma atividade criativa. A interpretação de um
texto literário, sua re codificação como experiência do leitor, é uma reinvenção
ou recomposição daquilo que é lido e não a simples e passiva atividade assimilativa
de uma narrativa.
Um texto literário deve nos dizer algo tanto
quanto nos permitir uma leitura de nós mesmos de uma perspectiva não ordinária.
Ou seja, ele não é “informativo”, mas “simbólico”, no sentido em que nos revela
alguma coisa que transcende o que é simplesmente dito.
Eis o que nos
proporciona a interpretação: a possibilidade de redimensionar uma narrativa a
ponto de incorpora-la a nossa própria
experiência vivida através de uma
projeção psicológica.
Quando uma obra nos
provoca uma releitura de nossa própria experiência do real, quando nos
identificamos com seu conteúdo simbólico e imagético a ponto de dramatiza-lo no
plano de nossos dilemas e emoções intimas, ampliamos nosso campo de
significações e codificações do real.
Assim sendo, a
leitura tem, em certa medida, um efeito passional ou afetivo, e nos leva a
experiência de imagens e ideias das quais já “participamos”. Diria que
geralmente nos interessamos por autores que nos dizem algo que responde as
nossas inquietudes.
Ler
é uma forma de evasão...
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
ESTRANHAMENTO
Ontem foi um dia banal.
Apenas lidei com o previsível dos fatos mornos,
Com o fardo do sempre igual.
O tempo passou miúdo e abstrato
Entre os meus vazios.
E eu quase me surpreendi outro
No estranhamento do meu próprio rosto.
No fundo é muito esquisito
Tudo aquilo que tomo
Como familiar.
terça-feira, 20 de setembro de 2016
COISAS DITAS
De que modo o dito pode ser desdito?
As palavras ditas se cristalizam,
Mesmo quando esquecidas.
Possuem surpreendente autonomia
Sobre as intenções de seus autores.
Por isso cuidado,
Seja responsável ao dizer qualquer coisa,
Pois as palavras se
fecham em si mesmas
Depois de pronunciadas.
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
ALÉM DA DICOTOMIA SUJEITO E OBJETO
A objetivação da realidade
através do conhecimento cientifico apenas nos faz prisioneiros de conceitos abstratos e
pragmáticos. Ela formatou a realidade de tal maneira que nos fez subestimar a dimensão irracional de nossas representações
do mundo. Somos movidos pela
vontade e ela, em ultima instância, molda
o modo como percebemos objetivamente a realidade. Pensar é também um modo de
perceber e ter consciência das coisas, é
o que define a vontade como um continuo impulso para além de si mesmo. Pensar e
querer equivalem na apreensão do mundo. Pois tudo que concebemos como realidade
objetiva é representação, parte de nosso
próprio acontecer no mundo enquanto ente. Assim, a realidade é uma configuração
subjetiva e pouco faz sentido a clássica dicotomia entre sujeito e objeto, pois
ambos coincidem enquanto gramatica de mundo e no ato cognitivo na medida em que
o sujeito define o objeto e ambos existem como ato linguístico.
terça-feira, 13 de setembro de 2016
SOBRE O PENSAR FILOSÓFICO
É um equivoco buscar no pensar filosófico
algum tipo de normatização para a vida
prática. Tudo que ele nos oferece é um estranhamento do cotidiano e do senso
comum. Tomando como referencia Hannah Arendt em
A VIDA DO ESPIRITO: O PENSAR, O JULGAR, O QUERER, ouso afirmar que a
existência humana não pode ser explicada ou entendida a partir do encadeamento
causal ou dialético dos fenômenos que lhe definem. Sua essência é a liberdade,
a constante possibilidade do novo, do inédito, como ato desinteressado, como
devir do discernimento.
terça-feira, 6 de setembro de 2016
PÓS CONCEITO
A realidade é um desacordo entre a verdade e os fatos.
Estou tão certo disso que me engano afirmando positivamente
Qualquer enunciado vazio sobre o assunto.
Já estou farto de dizer o mundo,
De saber qualquer coisa além
Do simples e imediato acontecer da minha existência.
Tenho urgências que não cabem em qualquer conceito,
Em nenhuma premissa,
Geralmente penso contra mim mesmo.
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
O CORPO COMO REFLEXÃO
Enquanto buscava a tranquilidade
desapaixonada dos essenciais silêncios fui, aos poucos, escorrendo de mim,
escapando as ansiedades e vontades, as certezas e convicções, para me saber
apenas no sentimento do corpo. Respirar, olhar, tocar, era o mesmo que pensar.
Não havia distinção entre o fisiológico e o filosófico na consciência precária dos
fenômenos externos. Tudo era para mim auto consciência e a contingencia era
tudo que fazia sentido. A vontade é o ponto onde o dentro e o
fora coincidem como vida em movimento.
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
CO-AGENCIAMENTO, COLETIVO E LINGUAGEM
O
coletivo é um hibrido de homens e coisas, uma infinitude de matérias heterogêneas
entrelaçadas em uma rede de relações, compromissos e dissensos simbólicos que nos levam a superação da logica dicotômica
estabelecida entre individuo e sociedade.
Pois o coletivo é essencialmente linguagem,
lugar onde não há uma clara distinção entre as varias dimensões do real,
na medida que é através delas que toda experiência possível torna-se inteligível
enquanto tal. A premissa da linguagem, por sua vez, é o agenciamento, que como
define Deleuze,
(...) É uma multiplicidade que comporta muitos
termos heterogêneos e que estabelece ligações, relações entre eles, através das
idades, sexos, reinos - de naturezas diferentes. Assim, a única unidade do
agenciamento é o co-funcionamento: é a simbiose, uma "simpatia".
[p.84]- Gilles
Deleuze e Claire Parnet: Diálogos, 1996.
O agenciamento é o principio de
ligação das palavras, aquilo que estrutura o coletivo enquanto fenômeno
totalizante, em outros termos,
....A unidade real
mínima não é a palavra, a idéia ou o conceito; nem o significante, mas o
agenciamento. É sempre um agenciamento que produz os enunciados. Os enunciados
não têm por causa um sujeito que agiria como sujeito da enunciação,
principalmente porque eles não se referem aos sujeitos como sujeitos do
enunciado. O enunciado é o produto de um agenciamento, sempre coletivo, que põe
em jogo, em nós e fora de nós, as populações, as multiplicidades, os
territórios, os devires, os afetos, os acontecimentos. O nome próprio não
designa um sujeito mas qualquer coisa que se passa, pelo menos entre dois
termos que não são sujeitos, mas agentes, elementos. Os nomes próprios não são
nomes de pessoas, mas de povos e tribos, de faunas e de floras, de operações
militares e tufões, de coletivos, de sociedades anônimas e escritórios de
produção. O autor é um sujeito da enunciação, mas não o escritor, que não é um
autor. O escritor inventa os agenciamentos a partir de agenciamentos que se
inventaram, ele faz passar uma multiplicidade na outra. O difícil é fazer
conspirar todos os elementos de um conjunto não homogêneo, os fazer funcionar
juntos. As estruturas estão ligadas às condições de homogeneidade mas não os
agenciamentos. O agenciamento é o co-funcionamento, é a "simpatia", a
simbiose. [p.65]
idem.
idem.
O
que aqui se apresenta é a recusa de qualquer logica dicotômica na construção e
vivencia dos conceitos; uma concepção de relação entre as coisas que pressupõe
o “lugar meio” do processo do dizer. Neste processo fluido, o coletivo,
enquanto experiência ontológica, é um co-agendramento. Não há, assim, uma
distinção entre individual e coletivo, já que o individual esta contido em um
determinado ponto e, ao mesmo tempo, distribuído por toda uma rede de relações
de fenômenos que compõem a totalidade do real.
Afinal,
o que é um acontecimento?
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