O
coletivo é um hibrido de homens e coisas, uma infinitude de matérias heterogêneas
entrelaçadas em uma rede de relações, compromissos e dissensos simbólicos que nos levam a superação da logica dicotômica
estabelecida entre individuo e sociedade.
Pois o coletivo é essencialmente linguagem,
lugar onde não há uma clara distinção entre as varias dimensões do real,
na medida que é através delas que toda experiência possível torna-se inteligível
enquanto tal. A premissa da linguagem, por sua vez, é o agenciamento, que como
define Deleuze,
(...) É uma multiplicidade que comporta muitos
termos heterogêneos e que estabelece ligações, relações entre eles, através das
idades, sexos, reinos - de naturezas diferentes. Assim, a única unidade do
agenciamento é o co-funcionamento: é a simbiose, uma "simpatia".
[p.84]- Gilles
Deleuze e Claire Parnet: Diálogos, 1996.
O agenciamento é o principio de
ligação das palavras, aquilo que estrutura o coletivo enquanto fenômeno
totalizante, em outros termos,
....A unidade real
mínima não é a palavra, a idéia ou o conceito; nem o significante, mas o
agenciamento. É sempre um agenciamento que produz os enunciados. Os enunciados
não têm por causa um sujeito que agiria como sujeito da enunciação,
principalmente porque eles não se referem aos sujeitos como sujeitos do
enunciado. O enunciado é o produto de um agenciamento, sempre coletivo, que põe
em jogo, em nós e fora de nós, as populações, as multiplicidades, os
territórios, os devires, os afetos, os acontecimentos. O nome próprio não
designa um sujeito mas qualquer coisa que se passa, pelo menos entre dois
termos que não são sujeitos, mas agentes, elementos. Os nomes próprios não são
nomes de pessoas, mas de povos e tribos, de faunas e de floras, de operações
militares e tufões, de coletivos, de sociedades anônimas e escritórios de
produção. O autor é um sujeito da enunciação, mas não o escritor, que não é um
autor. O escritor inventa os agenciamentos a partir de agenciamentos que se
inventaram, ele faz passar uma multiplicidade na outra. O difícil é fazer
conspirar todos os elementos de um conjunto não homogêneo, os fazer funcionar
juntos. As estruturas estão ligadas às condições de homogeneidade mas não os
agenciamentos. O agenciamento é o co-funcionamento, é a "simpatia", a
simbiose. [p.65]
idem.
idem.
O
que aqui se apresenta é a recusa de qualquer logica dicotômica na construção e
vivencia dos conceitos; uma concepção de relação entre as coisas que pressupõe
o “lugar meio” do processo do dizer. Neste processo fluido, o coletivo,
enquanto experiência ontológica, é um co-agendramento. Não há, assim, uma
distinção entre individual e coletivo, já que o individual esta contido em um
determinado ponto e, ao mesmo tempo, distribuído por toda uma rede de relações
de fenômenos que compõem a totalidade do real.
Afinal,
o que é um acontecimento?
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