sexta-feira, 2 de setembro de 2016

CO-AGENCIAMENTO, COLETIVO E LINGUAGEM

O coletivo é um hibrido de homens e coisas, uma infinitude de matérias heterogêneas entrelaçadas em uma rede de relações, compromissos e dissensos simbólicos  que nos levam a superação da logica dicotômica  estabelecida entre individuo e sociedade. Pois o coletivo é essencialmente linguagem,  lugar onde não há uma clara distinção entre as varias dimensões do real, na medida que é através delas que toda experiência possível torna-se inteligível enquanto tal. A premissa da linguagem, por sua vez, é o agenciamento, que como define Deleuze,

(...)  É uma multiplicidade que comporta muitos termos heterogêneos e que estabelece ligações, relações entre eles, através das idades, sexos, reinos - de naturezas diferentes. Assim, a única unidade do agenciamento é o co-funcionamento: é a simbiose, uma "simpatia". [p.84]- Gilles Deleuze e Claire Parnet: Diálogos, 1996.

O agenciamento é o principio de ligação das palavras, aquilo que estrutura o coletivo enquanto fenômeno totalizante, em outros termos,

....A unidade real mínima não é a palavra, a idéia ou o conceito; nem o significante, mas o agenciamento. É sempre um agenciamento que produz os enunciados. Os enunciados não têm por causa um sujeito que agiria como sujeito da enunciação, principalmente porque eles não se referem aos sujeitos como sujeitos do enunciado. O enunciado é o produto de um agenciamento, sempre coletivo, que põe em jogo, em nós e fora de nós, as populações, as multiplicidades, os territórios, os devires, os afetos, os acontecimentos. O nome próprio não designa um sujeito mas qualquer coisa que se passa, pelo menos entre dois termos que não são sujeitos, mas agentes, elementos. Os nomes próprios não são nomes de pessoas, mas de povos e tribos, de faunas e de floras, de operações militares e tufões, de coletivos, de sociedades anônimas e escritórios de produção. O autor é um sujeito da enunciação, mas não o escritor, que não é um autor. O escritor inventa os agenciamentos a partir de agenciamentos que se inventaram, ele faz passar uma multiplicidade na outra. O difícil é fazer conspirar todos os elementos de um conjunto não homogêneo, os fazer funcionar juntos. As estruturas estão ligadas às condições de homogeneidade mas não os agenciamentos. O agenciamento é o co-funcionamento, é a "simpatia", a simbiose. [p.65]
 idem.

O que aqui se apresenta é a recusa de qualquer logica dicotômica na construção e vivencia dos conceitos; uma concepção de relação entre as coisas que pressupõe o “lugar meio” do processo do dizer. Neste processo fluido, o coletivo, enquanto experiência ontológica, é um co-agendramento. Não há, assim, uma distinção entre individual e coletivo, já que o individual esta contido em um determinado ponto e, ao mesmo tempo, distribuído por toda uma rede de relações de fenômenos que compõem a totalidade do real.

Afinal, o que é um acontecimento?

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