Um leitor passivo se apropria de um livro apenas para confirmar aquilo
que pensa e sente e que jamais foi capaz de materializar como narrativa. Todo
texto é refém de interpretações, mas não se deixa escravizar por elas. Pode-se
dizer que nenhuma leitura esgota um bom livro. Ele transcende o real como
acontecimento para abstrai-lo como uma rede de imagens e significados que
extrapolam o imediato da vivencia cotidiana. O sentido de um bom livro é,
portanto, propiciar através da imaginação, uma experiência de evasão e degredo
de tudo aquilo que vivemos como imediato.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
terça-feira, 23 de agosto de 2016
SOBRE O SILÊNCIO QUE HABITA AS PALAVRAS
O mundo existe na
palavra compartilhada,
Mas é essencialmente
silencio.
No fundo escutamos
pouco uns aos outros.
O entendimento é
aquela vivencia comum
Compartilhada por
todos
Que ofusca o
dizer privado dos dias.
Mas o sentir não cabe
em palavras,
É essencialmente
corpo.
Corpo onde a voz se
revela
Escondendo a experiência
incomum
Onde inventamos a
gramatica de nossa individualidade.
Não me julguem pelo
que digo.
Tentem escutar meus silêncios.
FABULAÇÃO LITERÁRIA HOJE: ESCREVER PARA NÃO ENLOUQUECER
A capacidade de narrar, de inventar imagens literárias, tornou-se um
inadequado exercício a existência comum.
Quando mais absurda a natureza de uma história, mais profundamente ela nos
inspira o desconforto com a realidade e assim revela-se fiel a contemporaneidade do dizer literário.
O que é literatura hoje? Apenas vertigem e mau estar...O desconforto é
tudo que nos resta buscar em um texto ficcional. Logo, ele não nos ensina nada,
não pretende nada... É um entretenimento
gratuito e banal como um filme B.
Cada livro deve ser o colapso de alguma certeza, de algum sentimento ou
sonho. Nem mesmo a forma romance me parece ainda uma estratégia narrativa
valida por sua tendência natural à teleologia de um eu racional.
A fabulação literária, como Bukowiski afirmava, deve ser apenas uma compulsão, um modo de
salvar o próprio rabo ou, simplesmente, uma forma de terapia contra o peso da
realidade vivida e pensada.
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
NADA ESTÁ SOB CONTROLE
A margem dos acontecimentos existe todo um micro universo de
fatos que afetam o mais imediato do nosso acontecer como indivíduos. Falo daqueles acidentes que em um milésimo de segundo redefinem o rumo das coisas.
Pode ser um desvio na estrada, um esquecimento, ou qualquer
imprevisto que nos leve a situações que
contrariam todas as expectativas e planejamentos. Não são raras as pessoas que
guardam boas histórias sobre acidentes e situações inesperadas.
A verdade é que nem sempre nossas vidas fazem sentido, nem tudo pode
ser codificado de modo racional ou objetivado mediante um encadeamento de causalidades. O aleatório e o não
sentido fazem parte de nossas biografias,deforma surpreendentemente decisiva quando pensamos no modo como certas coisas
acontecem.Esta ausência de significado, este silencio teleológico, é o que torna no fundo a
existência interessante. Nada está sob controle...
terça-feira, 16 de agosto de 2016
MEMÓRIA DA PÓS IDENTIDADE
Minhas lembranças não
valem um instante de agora,
Não valem as marcas
das perdas sofridas,
As saudades e as
vontades quebradas
Cujos cacos se
espalharam pela realidade.
Como pesa a memória
sobre os meus ombros....
Quase tornam viver indesejável
a sombra de tanto passado.
Mas o futuro não me
proporcionará mais do que ontem.
Tudo que me resta
agora é inventar quem fui
Para saber onde estou
e depois me esquecer.
INTENCIONALIDADE
Desconheço a vontade que me conduz adiante,
Que me faz tentar enxergar mais longe
Até o ponto de me perder do chão.
Mas ela me move e faz acontecer à vida
Apesar de todas as minhas inercias.
Quase não penso nela.
Apenas deixo que ela aconteça
Como uma segunda pessoa
Dentro do meu corpo
Inventado outras teleologias.
Não tento antecipar o significado dos meus
atos,
Nem imprimo grandes intenções ao exercício da
minha vontade.
Na maior parte do tempo apenas aconteço.
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
INDIVÍDUO E LINGUAGEM
Nossas habilidades cognitivas não são inatas, mas uma consequência do
domínio da linguagem e da capacidade de abstrações simbólicas. O que é o mesmo
que dizer que o que torna o pensamento possível é a linguagem. Pois ele
acontece através de seu exercício.
Mesmo considerando que cada ser humano nasce com uma capacidade minima
para interpretar e interagir com os estímulos do mundo exterior a partir de
certa intencionalidade rudimentar, cabe ponderar que sem a base logica
conceitual do pensar intencional mais sofisticado, não é possível estabelecer
uma imagem de mundo que torne a realidade inteligível a partir de alguma crença
instrumental.
A possibilidade da ação, a racionalização ou direcionamento objetivo da
vontade através de escolhas, pressupõe a interiorização de uma imagem
consensual de realidade no plano linguístico.
Mas isso não significa que somos
formatados por simulacros racionais em nossa relação com a realidade. O
componente subjetivo, a fantasia, insere-se em nosso aparato cognitivo de modo
privilegiado. Caso fizéssemos a diversas pessoas provenientes de lugares
diferentes, e com variados graus de instrução e histórico vivencial, diversas sobre perguntas abstratas como o
sentido e o significado da vida , obteríamos respostas provavelmente peculiares
a cada um.
A forma como estabelecemos uma leitura pessoal da
realidade, mesmo compartilhando um só instrumental linguístico cognitivo, aponta
para o fato de que cada personalidade é um arranjo único de consciência.
Somos corpo, voz e palavra. Isso define nossa singularidade enquanto
indivíduos, nosso modo próprio de acontecer no mundo. Mas, ao mesmo tempo, por
si só, não é isso que nos proporciona distinção ou assegura a singularidade.
Pois esta se estabelece na relação com os outros na medida em que
compartilhamos um arranjo singular de realidade e de mundo, uma forma própria
de codificar o real.
sexta-feira, 12 de agosto de 2016
ANTI DOGMATISMO
Já não carrego grandes verdades no bolso.
Nem mesmo tenho uma carteira de identidade.
Estou farto de princípios e definições.
Quero ser livre do peso de todas as
certezas
E não ter qualquer compromisso com as boas opiniões.
A vida não cabe em qualquer pensamento
E preciso de algumas duvidas
Para respirar liberdade.
Não sou destes que vivem binários
Oscilando entre o sim e o não.
terça-feira, 9 de agosto de 2016
A INDETERMINAÇÃO DO DESTINO
Não sei se existe liberdade nas pré
fabricadas escolhas que moldam meu cotidiano, meu destino e possibilidades. As
circunstancias sempre definem a vida, Mas não determinam
o que sinto. Como todo indivíduo eu porto a possibilidade do inesperado,
do inédito que pode de repente mudar o rumo de todos, reescrever o cotidiano e
sorrir ao futuro.
Não se trata aqui de livre arbítrio, mas da
invenção de si mesmo como uma equação complexa de variáveis diversas. Mesmo quando
a realidade fala mais alto do que o desejo, há sempre a opção do degredo em sonhos e devaneios que nos
conduzem além de nós mesmos.
Por isso categoricamente me oponho a todos
os determinismos e absolutismos. Não sou um dado objetivo, mas uma auto invenção
e reinvenção constante de mim mesmo. Minha mente é a medida de todas as
coisas...
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
PARA UMA FILOSOFIA DO CORPO
As manifestações
linguísticas de nossas vivências privadas são banais, mesmo quando pretendem
profundidade. Falo aqui da publicidade
cotidiana de um “eu” que não se realiza
no jogo semântico . Sempre guardamos
algum voluntário ou involuntário silêncio quando falamos sobre nós mesmos. Não há como fugir disso,
pois o próprio “eu” do discurso se edifica a partir de indeterminações e
fronteiras ontológicas. Entre o
biológico e o artifício cultural este eu se afirma a margem da natureza, revela
nossa incapacidade de codificar a realidade enquanto totalidade de fenômenos
abstratos inscritos em um corpo vivo inspirado por pulsões. Sempre nos movemos
no campo das idealizações abstratas e parciais.
Assim, é preciso que se diga, que a saúde física
é mais essencial do que qualquer
representação ideal de felicidade.
Mesmo quando infelizes, é essencial a manutenção de nossa integridade física,
pois dela sempre depende a possibilidade de nosso acontecer no mundo. Claro que
um corpo no pleno gozo de suas funções não nos torna mentalmente saudáveis ou
garante uma existência criativa e fecunda.
O corpo é a medida de tudo aquilo que
somos, o meio, o fim e o principio de nossa condição humana. Cada um é em todos
os sentidos seu corpo e, através dele, sua voz entre os outros como testemunho
de sua singularidade e ação. O próprio pensamento torna-se um fenômeno físico através
de nossos atos.
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