segunda-feira, 8 de agosto de 2016

PARA UMA FILOSOFIA DO CORPO

As  manifestações  linguísticas de nossas vivências privadas são banais, mesmo quando pretendem profundidade.   Falo aqui da publicidade cotidiana  de um “eu” que não se realiza no jogo semântico . Sempre guardamos  algum voluntário ou involuntário silêncio quando falamos  sobre nós mesmos. Não há como fugir disso, pois o próprio “eu” do discurso se edifica a partir de indeterminações e fronteiras ontológicas.  Entre o biológico e o artifício cultural este eu se afirma a margem da natureza, revela nossa incapacidade de codificar a realidade enquanto totalidade de fenômenos abstratos inscritos em um corpo vivo inspirado por pulsões. Sempre nos movemos no campo das idealizações abstratas e parciais.

Assim, é preciso que se diga, que a saúde física é mais essencial do que qualquer  representação ideal  de felicidade. Mesmo quando infelizes, é essencial a manutenção de nossa integridade física, pois dela sempre depende a possibilidade de nosso acontecer no mundo. Claro que um corpo no pleno gozo de suas funções não nos torna mentalmente saudáveis ou garante uma existência criativa e fecunda.


O corpo é a medida de tudo aquilo que somos, o meio, o fim e o principio de nossa condição humana. Cada um é em todos os sentidos seu corpo e, através dele, sua voz entre os outros como testemunho de sua singularidade e ação. O próprio pensamento torna-se um fenômeno físico através de nossos atos.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

CORPO E SIGNIFICADO

A fala e o pensamento reinventam o corpo
Através do significado que traduz o gesto,
O movimento de ser para o outro do mundo
Na mera expressão de mim mesmo.

Toda a condição humana
Não passa de um ato linguístico
Onde a vida se define como envolvimento,

Ato e relação.

Do eu ao outro...
aconteço.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

POESIA É APENAS POESIA

É certo que a poesia nunca mudará o mundo.
Poemas não  corrigem erros
Ou transformam a realidade.

Poemas são apenas poemas;
Mas são mais que palavras...
Há algo neles que nos preserva da vida,
Dos absurdos e silêncios da realidade.

A poesia não muda o mundo,
Mas transform palavras
E, quem sabe,
inventa um pouco as pessoas.


HANNAH ARENDT E A DIGNIDADE DA POLITICA

“Essa falta de significado não é um problema inventado. É um fato real que experimentaríamos todos os dias se nos déssemos ao trabalho de não apenas ler o jornal, mas também, por indignação com a balbúrdia em que se transformaram todos os problemas políticos, de levantar a questão de como, dada essa situação, as coisas poderiam ser feitas de forma melhor.”

ARENDT, Hannah. A Promessa da Política. Rio de Janeiro: DIFEL, 2008.

Qualquer intervenção em um mundo comprometido em suas significações deve recusar o terreno das idealizações e utopias sociais. Mais do que isso, deve partir do banal, da micro realidade do existir cotidiano, para recodificar o mundo que existe em cada indivíduo. Pois a simples manutenção da existência privada e o consumo de bens aprisionou o eu a suas próprias imagens, o afastou do plano da ação politica ao colocar-se no centro de nossas preocupações coletivas.


Quando o ciclo produtivo se tornou a suprema preocupação da sociedade moderna  a politica deixa de garantir a vida em seu sentido mais amplo, parou de se ocupar do mundo e se degenerou na simples consideração da produção e reprodução material da existência, afastando-se de qualquer ideal de liberdade.


A CONDIÇÃO PÓS MODERNA E O FLUXO DO AGORA

A imersão na contemporaneidade, no moderno como imediato agora onde o simples instante se faz eternidade submergindo a consciência, é o que nos induz ao transe da inflação de todos os cinco sentidos.

Tudo que importa é o fluxo frenético do raso de experiências que inventam subjetividades desfocadas.

A tradição e a verdade apodrecem na geladeira da História enquanto cozinhamos o futuro em fogo brando.

Nada mais importa muito, nem mesmo nossas vidas presas no espelho.


SOBRE O O LADO DE FORA DAS PALAVRAS

“A palavra não é desprovida de sentido, já que atrás dela existe uma operação categorial, mas ela não tem esse sentido, não o possui, é o pensamento que tem um sentido, e a palavra continua a ser um invólucro vazio (...), a linguagem é apenas um acompanhamento exterior do pensamento” 
Merleau-Ponty

 Nascemos do mundo e nascemos no mundo. Esta ambiguidade nos define como seres viventes inventando cotidianamente a realidade , antes de tudo, como um fato gramatical, como narrativa.
A palavra é o mundo que só existe na medida em que o digo, em que o significo. Existe , portanto, uma exraterrtoriedade da palavra que é sua dimensão de experiência, de consciencia da coisas. Mesmo que toda a possibilidade de ser só tem realidade através de nossos enunciados.


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

SOBRE A DECADÊNCIA DO DIÁLOGO

Uma condição para realização de um dialogo é o compartilhamento de determinados pressupostos comuns que tornem possível o entendimento mútuo. É necessário que o existe certa cumplicidade conceitual ou gramatical  entre os  interlocutores. Mas hoje em dia  tal coisa não acontece muito frequentemente na arena da vida  concreta. São cada vez mais diversas as possibilidades de codificação da realidade que chego a duvidar as vezes se habitamos todos o mesmo mundo. Por  isso predominam os dissensos  e antagonismos. Diálogos autênticos são cada vez mais raros...


quinta-feira, 28 de julho de 2016

ROMANTISMO E INQUIETUDE

Foram os poetas do velho romantismo europeu que nos legaram a nobre perícia de fazer a arte florescer através do difuso sentimento de que  padecemos da elementar dificuldade de viver em conformidade com o mundo.

Desde então,  através do cultivo da nossa frágil e jovem subjetividade , aprendemos a impossibilidade da estabilidade existencial na modernidade.


Desde então, oscilamos entre o tédio, a inquietude nervosa e a monotonia mecânica da vida cotidiana no desdizer dos fatos.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

O QUE É A REALIDADE?

O conceito de realidade extrapola a dualidade clássica entre o inteligível e o sensível , ou entre aparência e essência, estabelecida pelo materialismo vulgar. Isso acontece  na medida em que por realidade entendemos  a totalidade de tudo aquilo que de algum modo existe, seja como produto da mente humana ou como um dado  objetivo e natural. Assim, o ficcional não é uma “falsificação”, um equivoco a ser desconsiderado, mas compreende certa modalidade do real que não deve ser negligenciado como tal.

Tudo que podemos “conhecer” são nossas próprias representações da realidade e  codificações culturais, logo a realidade é, antes de tudo, mais  uma convenção social do que um dado fenomenológico. Tal enunciado, entretanto, só pode fazer sentido quando desatrelamos o conceito de realidade do conceito de verdade contrariando o senso comum. O que é o mesmo que dizer que realidade e imaginação não são termos excludentes já que do ponto de vista mais elementar nossa mente concebe a realidade fenomenológica através de imagens ainda não articuladas pelo pensamento dirigido dos signos gramaticais.


terça-feira, 26 de julho de 2016

SHOPENHAUER E O FRAGMENTO COMO PREMISSA DO PENSAR FILOSOFICO

Até onde eu sei o aforismo foi introduzido na filosofia por Arthur  Shopenhauer  em franca oposição aos enunciados dedutivos dos sistemas filosóficos como o de seu eterno desafeto Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Assim, podemos atribuir-lhe um modo novo de exercitar o pensamento filosófico que encontrou e Friedrich Wilhelm Nietzsche um dos mais fecundos herdeiros.
Não se trata apenas de uma questão de estilo, mas de uma consideração do particular, do fragmento, como uma estratégia discursiva que busca fugir a gaiola dourada dos conceitos e da narrativa monolítica de uma racionalidade estreita.
O fragmento se faz através de um “dizer aberto” onde o todo não é a soma das partes e se realiza no pressuposto de seus inacabamentos e silêncios.
As mais fecundas narrativas são como complexas tapeçarias artesanal e pacientemente tecidas em imaginações de caleidoscópio. Afinal, nossa própria condição de seres viventes é fragmentada, multifacetada e aberta a possibilidades quase infinitas de interpretações e reelaborações.


Em resumo, as lacunas de uma narrativa são tão necessárias quanto a sua intencionalidade.