segunda-feira, 18 de julho de 2016

NOTA SOBRE O EU , OS OUTROS E O MUNDO

O acumulo de vivências é o que faz de cada personalidade um quebra cabeça, um arranjo irracional de afetos, sentimentos e convicções, definem o modo próprio de cada um apreender o mundo situando-se no lugar comum do acontecer dos outros.


Isso estabelece uma presentificação da existência singular em um dado contexto social ou impessoal. Existimos como um corpo que se auto representa e assim requalifica suas ações no plano das representações de sua própria existência. Neste contexto, consciência deve ser entendida como intencionalidade voltada para  o aqui e agora de uma totalidade inscrita na dualidade do eu e do mundo.

INDIVIDUALIDADE E SOCIEDADE DE MASSAS

A incapacidade de se autodeterminar frente o outro e a realidade, de ser plenamente um eu no mundo, é o grande pathos da consciência diferenciada do indivíduo contemporâneo.

Tendemos a um estado de inautenticidade coletiva, a experiência da multidão onde a singularidade é reduzida a um dado estatístico definido pela homogeneização crescente das sensibilidades e  praticas comportamentais. A esfera da intimidade e da privacidade, premissa do acontecer da singularidade humana, torna-se cada vez mais uma questão pública, um acontecer socialmente estabelecido e descaracterizado como estratégia de construção de subjetividade. 

quarta-feira, 13 de julho de 2016

QUASE UM SONHO

Gosto de dias vastos,
De manhãs que parecem deslocadas do tempo
Amanhecendo para o estático
De qualquer eternidade.

É como se o agora fosse sempre
E vitoriosa minha esperança de vida e constância.
Nada de perdas, danos e barganhas com o futuro.
Apenas a vida radiante e serena

Dançando no horizonte do efêmero.

terça-feira, 12 de julho de 2016

NOTA SOBRE HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE

O tempo onde concretamente nos inserimos como indivíduos, não é um amalgama informe destinado ao domínio das circunstâncias e da opinião. Pode, ao contrario, fomentar reflexões e analises através do qual nos beneficiamos de nosso próprio testemunho para caracterizar e entender uma determinada época histórica. É uma premissa tola supor que a historiografia pressupõe distanciamento e que o vivido só pode se reduzir a fórmulas efêmeras de analise.


O testemunho ocular e a reflexão critica permitem, ao contrario, uma consideração mais apurada dos fatos que, longe de conduzir a construção de verdades, busca uma tomada de posição diante das circunstancias inspirada por uma apropriação não superficial dos fatos, seus desdobramentos e efeitos sobre as sensibilidades e sociabilidades individuais e  coletivas.  

IMPROVISO

Estou habituado a viver
De improvisos,
De piruetas e peripécias.
Não levo a sério o mundo,
As pessoas e as certezas cotidianas.

Tenho um universo inteiro
A ser inventado
Entre os abismos e imensidões
De mim mesmo.

Não me perguntem o que penso
Sobre qualquer tema,
Pois minha reflexão é livre
E incerta.

Amanhã não acordarei novamente
Para o hoje,
Mas sempre para o improvável
De um passado redescoberto.


segunda-feira, 11 de julho de 2016

CONHECIMENTO E SUBJETIVIDADE

As pessoas, de modo geral, acreditam demasiadamente em suas configurações egoicas e nas verdades objetivas como premissa de todo conhecimento. Tal “positividade” da capacidade de conhecer, em certa medida, apenas seculariza a metafisica, perpetuando o conhecimento como um acreditar ingênuo na possibilidade de formatar o real a partir de determinadas fórmulas conceituais e matemáticas.

Na contramão desta necessidade  de segurança simbólica e domínio conceitual da realidade, pode-se dizer que as novas tecnologias digitais, cada vez mais presentes no mero cotidiano,  criam a expectativa de  uma reconfiguração de nossos padrões cognitivos e mentais que, privilegiando o irracional do fluxo de imagens de pensamento, sobrepõem sob os fatos camadas de entendimento subjetivo de modo que, cada vez mais,  o real se faça um artifício ou uma simples questão de ponto de vista sobre os fatos.


sexta-feira, 8 de julho de 2016

GRAMÁTICA DE MIM MESMO

Não tenho tempo para escutar todos  os discursos.
A totalidade de vozes que povoam o mundo me escapa.
Mas sei que o que realmente importa
É escutar minhas próprias palavras,
Esclarecer meus medos, confusões
E emoções.
As pessoas falam demais
E na maioria das vezes
Não dizem nada  que o valha.
Eu, ao contrário,
Sei apenas falar sobre mim mesmo

Até quando falo dos outros.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

POEMA EFÊMERO

Venho de um tempo antigo
Onde ainda era possível
Acreditar no futuro.
Venho de muito longe,
De muito tarde,
Para sofrer o vazio do agora
Quebrado no vento
E em toda esta vida

Que me mata.

SOU FEITO DE NOITES...

Sou feito de noites,
Estrelas e luas
Na febre da imaginação
Que me inventa madrugadas.
Mas sou escravo do diurno
Nas vertigens da liberdade.
Quase não existo

Entre o impossível e o fato.

terça-feira, 5 de julho de 2016

ALIMENTAR O PASSADO

Não me sinto a vontade com o futuro.
Prefiro o passado e suas diferentes versões
De si mesmo.
Gosto de me abrigar nele.
Já o futuro é tão abstrato
Que não pode ser mudado.
Grande parte dele
Jamais chegará a existir.
No final das contas existimos

Apenas para alimentar o passado.