quarta-feira, 27 de abril de 2016

INDIVIDUO E SOCIEDADE

A objetivação de nossa subjetividade norteia a relação da sociedade com o individuo na contemporaneidade. A racionalização do comportamento singular através dos imperativos de conduta coletivamente estabelecidos, ainda desempenha algum papel sobre o destino de cada um de nós. Somos induzidos a consumir determinados símbolos, objetos e , até mesmo, necessidades artificialmente estabelecidas. Inscritos no imaginário social como objetos de ideias comuns somos induzidos a mesmice, a ausência de reflexão e criatividade.

Mas se a sociedade é um poder soberano, isso não impede que cada indivíduo, em alguma medida, se reinvente como desvio do mimetismo mecânico do dia a dia. Mas, é importante observar que  a afirmação da própria individualidade é também afirmação de um desinteresse pela individualidade do outro. Peculiaridade que estabelece o exercício da individualidade, muito frequentemente, como uma experiência de marginalidade ou, simplesmente, isolamento. A afirmação do individuo, afinal, tem por essência sua diferenciação dos demais indivíduos.  Logo, é uma constante luta contra a igualdade.


A mais eficiente estratégia de construção da subjetividade é justamente a experiência estética  ou artística. Através dela transbordamos o mundo e nossa própria persona através da experiência simbólica  do real. Subjetividade e evasão andam juntas no esforço individual de invenção de si mesmo. Assim, a grande questão não é de forma alguma o conhecimento de si mesmo, mas o exercício constante de desconstrução de nossas ilusões coletivas.

ENTRE O SIGNO E O SENTIDO

Há um grande desespero em meus escritos,
Uma necessidade profunda de escrever
A própria existência
Como se na palavra coubesse
Qualquer coisa mais profunda
Do que o  signo.
As ideias possuem vida própria
Enquanto imagens
Que transbordam o pensamento
E inventam o mundo.
Talvez meu dizer não caiba
Na letra morta  presa a folha

E eu nunca transcenda o desespero.

terça-feira, 26 de abril de 2016

SOBRE A SUBJETIVIDADE

O mundo não  começa  quando nascemos. Ele nos antecede e supera. Ele  independe do indivíduo isolado e se apresenta para ele como contingência e como  um conjunto de fenômenos  autônomos. Assim, o mundo é  para cada indivíduo como  um enigma. Exige respostas, interpretações, que só  se tornam possíveis  na exata medida em que nos tornamos parte dele, em que nos confundimos com o problema.

A qualidade de nossa consciência do mundo, nossa capacidade de codifica-lo de modo complexo, é  o que faz diferença  em nossas vidas isoladas. A maioria das pessoas apenas reproduz as convenções  sociais sem produzir uma crítica do existente do ponto de vista de si mesmo. Mas é  justamente esta possibilidade que faz cada um de nós  únicos.

sábado, 23 de abril de 2016

NOTA AUTOBIOGRAFICA DE UM ESCREVINHADOR

Desde  muito jovem cultivo o hábito de escrever . Sempre foi uma necessidade para mim e  a ideia de me definir como um escritor me agrada a muito tempo . Mas acho que sou apenas alguém  que aprendeu a habitar mais nas palavras do que no mundo cotidianamente vivido. Escrever  é para mim uma forma de evasão;  mais do que um referencial de identidade; uma  compulsão  antes de um ofício  ou expressão  artística. Por isso a palavra é  um exercício cotidiano, algo tão  necessário quanto respirar. Assim, leitores são  secundários ou um apêndice. Eu escrevo , sequencialmente,  porque não  tenho escolha.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

SENTIMENTO E CODIFICAÇÃO DE MUNDO

Esclarecer como os sentimentos  e emoções  se expressam através  das configurações  específicas  de uma dada codificação  cultural, é  a elementar premissa da  compreensão do acontecer humano em seu devir individual e coletivo.
Um modo de existir é  também  um modo de sentir; o sentir das coisas,  sua valoração,  é  também  uma forma de auto consciência. 
Assim, é  preciso levar sempre em consideração como dado imaginário constelado define o querer viver frente a inadaptação da consciência  a uma realidade objetivamente dada .

quarta-feira, 20 de abril de 2016

SOBRE IMAGÉTICA E DECADÊNCIA DA LINGUAGEM

Uma imagem só é capaz de dizer mais que a palavra quando o pensar extrapola certezas e se dissipa na ambiguidade e fluidez de um devaneio. É preciso que o pensar se cale,  que o corpo se renda a uma impressão estética e a fantasia irracional de uma significação precária.  Mas nunca um quadro será capaz de nos atingir com a mesma intensidade de um bom romance. Assim me parece enquanto a existência exigir uma boa dose de reflexão. Entretanto, uma boa leitura pode ser substituída por um bom filme.

terça-feira, 19 de abril de 2016

UM DIA QUALQUER

Hoje é apenas um dia
Depois de ontem.
Provisório e pre definido
Como as linhas de um romance ruim.

Hoje é apenas mais um dia
Escrito na televisão e jornais.
Quem sabe amanhã

Não tenhamos melhor sorte?

sexta-feira, 15 de abril de 2016

AUTONOMIA E SUBJETIVIDADE

É a carência de autonomia, a inversão entre os meios e os fins, a dissociação da unidade do sujeito e a implosão da subjetividade, que nos lança agora ao desvairado exercício de uma metacrítica da existência ordinária.


Quando a vida se torna refém de ficções coletivas e nos reduzimos a unidades de consumo impessoal, a própria ideia de sociedade perde substância e a reflexão não passa de mitificação vazia.

ESCREVA CONTRA O MUNDO...

O mundo vem se tornando cada vez mais monocromático, previsível e tedioso.

Nos esgotamos em nossas rotinas padronizadas, em nossos pensamentos domesticados de realidade. A singularidade humana, o espaço da privacidade e da construção permanente da singularidade, já não é uma questão com a qual a maioria se importe. Estamos nos esquecendo de ser... O mundo já não é mais habitado por indivíduos. Talvez nunca tenha sido.


Só resta a estratégia de uma  expressividade narrativa , de uma conversão de si mesmo em linguagem, na invenção de um universo abstrato de reflexões que nos  sirva de exílio do próprio real. Por isso escrever ainda faz sentido. 

terça-feira, 12 de abril de 2016

AQUELE RETRATO

Ainda guardo no bolso
Aquele retrato
De dias melhores,
De circunstâncias perdidas
Que nada mais comunicam
Ao aqui e agora.
Em nossos
Descaminhos de existência
Alimentamos passados
Para suportar o presente.
O futuro já não cabe
Em nossas vidas.
Apenas o imediato,
O agora e o fato.
Aquele retrato

Já não diz quem somos.