Sei que sou invisível ao mundo em
minha individualidade convulsa. Não passo de mais um rosto afogado na multidão.
Entretanto, considero apenas o fato de que o mundo não cabe nesta pouca coisa
que sou. Isso é tudo que me importa na orquestração dos atos contra os fatos
que me definem no anonimato cotidiano
das ruas. Realizo através dos meus tantos eus minha
mais limitada e concreta finitude.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
terça-feira, 29 de março de 2016
segunda-feira, 28 de março de 2016
UM SONHO SOBRE FANTASMAS
Havia sonhado com fantasmas na
noite passada. No sonho eu havia ido a uma festa. Mas havia chegado muito cedo
ao local e a anfitriã me recebeu naquele estranho casarão colonial com formal
cordialidade. Ela me conduziu a cozinha onde serviu uma pequena refeição para ninguém. Depositou o prato em uma mesa
vazia e voltou sua atenção para mim em seguida. Percebendo minha aparente perplexidade diante do fato, me
questionou se eu não podia vê-lo...
Depois disso comecei a enxergar
pessoas portando trajes do século XIX em todas as partes. Não eram exatamente aparições, estavam ali
vivendo seu cotidiano indiferentes a mim. Mas eu sabia que não se tratava de
uma viagem no tempo. Aquelas pessoas e seu tempo estava ali agora,
simultaneamente ao meu presente.
Em dado momento uma delas me
percebeu e atirou um objeto qualquer na minha direção. Chamou minha atenção sua expressão de espanto
quando o objeto arremessado simplesmente me atravessou.
O sonho sugeria a ideia de que o passado continua acontecendo
paralelamente ao tempo presente, como se em uma outra dimensão normalmente
invisível.
Evidentemente, não estou
formulando aqui qualquer teoria absurda sobre vida após a morte, mas apenas
descrevendo uma curiosa experiência onírica, uma fantasia irracional. O que
realmente me parece estar aqui em jogo é minha obsessão pelo passado, minha
incapacidade de aceitar o simples fato objetivo de que a finitude e o devir
configuram toda experiência humana.
segunda-feira, 21 de março de 2016
ESCAPISMO
Tudo que eu mais precisava
era de um fortuito desencontro
com todas as coisas
na serenidade dos meus
desenraizamentos.
Era urgente fugir as obrigações,
responsabilidades e ilusões de
dia a dia.
Precisava me despir de todas as
certezas
e explicações.
Sair por ai como um ninguém,
me perder dos outros
e do mundo.
sexta-feira, 18 de março de 2016
FORTUNA
Triunfalismos sempre nos conduzem
a derrotas.
Pois não há vitória que não se
reverta.
Alternamos posições na roda da
fortuna
e o dia depois do outro
é nossa única certeza .
Não recomendo, portanto,
o engodo da felicidade.
Não estamos destinados ao
sucesso,
mas a arte de reinventar
constantemente o possível
sem grandes expectativas.
terça-feira, 15 de março de 2016
ANOTAÇÕES SOBRE WATCHMEN
Watchmen representa para mim uma
das mais ousadas experiências já realizadas no campo das Histórias em
Quadrinhos. Mas seria redundante falar sobre a originalidade da trama que revela os aspectos sombrios do mundo dos
super- heróis. Nenhum dos personagens de
Allan Moore e David Gibbons são exemplos morais, todos demonstram fragilidades,
fraquezas, contradições e dilemas. Embora, de um modo geral, se considerem de
alguma maneira acima dos simples mortais e imponham a sociedade seus
próprios paradigmas.
O cenário de guerra fria que
serve de pano de fundo a história, ambientada nos anos 70/80, associada à
iminência de uma terceira guerra mundial, sugere um mundo amoral e decadente
onde os super- heróis, que tomam para si o papel de seus salvadores, acabam se revelando como agentes de suas contradições. Assim, os heróis de Moore não
são virtuosos ou dignos de admiração, são perturbadores por sua radical e
conturbada humanidade.
Os dilemas filosóficos do Dr.
Manhattan, o singelo e ingênuo romance entre Espectral e o Homem Coruja, tal
como a insanidade de Rorschach, quando contrastadas, compõem um mosaico de
situações realmente caóticas, diante do
qual, nos questionamos se o conjunto das coisas vividas ainda fazem qualquer
sentido. O jogo entre fantasia e realidade dar-se ainda através dos Contos do
Cargueiro Negro, uma história em quadrinhos lida por um rapaz em uma banca de
revistas. A história dentro da história é mais do que um exercício metalinguístico
, mas expressão do lugar dos quadrinhos em um mundo onde os super heróis são
reais.
São muitas as chaves de leitura e
detalhes que poderia explorar aqui, mas me limitarei a uma passagem fascinante
do Dr. Manhattan,
“O tempo é simultâneo, uma joia
intricada que os humanos insistem em ver apenas por um ângulo, quando o desenho
completo é visível em todas as suas facetas.”
A transcendência de todas as
questões, a indiferença que caracteriza O DR. Manhattan e o conduz ao exílio,
representa uma postura niilista com relação à condição humana, com a própria vida.
AS AGONIAS DO TEXTO
Texto é sinônimo de tessitura, é
um a trama que envolve contextos, uma
ocorrência linguística e semântica que se fecha sobre si mesma.
O adversário do texto são as
interpretações , as reconstruções de seu significado. Não é raro que as
interpretações substituam o próprio texto e passam a falar por ele.
O texto tenta salvar-se através
de notas de roda-pé...
sexta-feira, 11 de março de 2016
VIDA
Viver é brincar de realidade
enquanto o tempo passa e a gente aprende o relativo da vida em sociedade. No
fundo, o existir coletivo é um desencontro de todo mundo, um caos do eu e dos
outros domesticado pelo senso comum. Cada um de nós é menos do que isso...
DEFINIÇÃO DE SOCIEDADE
Sociedade é o modo como os
indivíduos se associam em nome da sobrevivência da espécie inspirados por um conjunto de representação de mundo e fantasias coletivas. A
capacidade de comunicação entre os seres humanos é a premissa do existir social,
aquilo que nos torna o que somos no intercâmbio de consciências individuadas
pelas representações culturais. Cada um de nós é objeto de símbolos e imagens
impessoais que configuram nossa singularidade e experiência diferenciada de
mundo.
quinta-feira, 10 de março de 2016
TÉDIO E REPETIÇÃO
Concentre-se no possível,
no pouco do agora
contra as vontades urgentes.
Esqueça todas as soluções,
os inquéritos, dilemas e impasses
sobre a realidade das coisas.
Tudo é ilegível e perecível.
Não vale qualquer reflexão.
No fundo existir é feito de tédio
e repetição.
quarta-feira, 9 de março de 2016
OBJETIVIDADE
Sou em meus delírios
um provisório objeto dos outros,
apenas um assessório qualquer
que nem decora a paisagem.
Quase não sou notado.
As pessoas seguem suas vidas
indiferentes ao cenário.
Eu, ao contrário,
permaneço estático
enterrado no inanimado
a espera de qualquer coisa
que jamais será
algum dia
um acontecimento.
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