Watchmen representa para mim uma
das mais ousadas experiências já realizadas no campo das Histórias em
Quadrinhos. Mas seria redundante falar sobre a originalidade da trama que revela os aspectos sombrios do mundo dos
super- heróis. Nenhum dos personagens de
Allan Moore e David Gibbons são exemplos morais, todos demonstram fragilidades,
fraquezas, contradições e dilemas. Embora, de um modo geral, se considerem de
alguma maneira acima dos simples mortais e imponham a sociedade seus
próprios paradigmas.
O cenário de guerra fria que
serve de pano de fundo a história, ambientada nos anos 70/80, associada à
iminência de uma terceira guerra mundial, sugere um mundo amoral e decadente
onde os super- heróis, que tomam para si o papel de seus salvadores, acabam se revelando como agentes de suas contradições. Assim, os heróis de Moore não
são virtuosos ou dignos de admiração, são perturbadores por sua radical e
conturbada humanidade.
Os dilemas filosóficos do Dr.
Manhattan, o singelo e ingênuo romance entre Espectral e o Homem Coruja, tal
como a insanidade de Rorschach, quando contrastadas, compõem um mosaico de
situações realmente caóticas, diante do
qual, nos questionamos se o conjunto das coisas vividas ainda fazem qualquer
sentido. O jogo entre fantasia e realidade dar-se ainda através dos Contos do
Cargueiro Negro, uma história em quadrinhos lida por um rapaz em uma banca de
revistas. A história dentro da história é mais do que um exercício metalinguístico
, mas expressão do lugar dos quadrinhos em um mundo onde os super heróis são
reais.
São muitas as chaves de leitura e
detalhes que poderia explorar aqui, mas me limitarei a uma passagem fascinante
do Dr. Manhattan,
“O tempo é simultâneo, uma joia
intricada que os humanos insistem em ver apenas por um ângulo, quando o desenho
completo é visível em todas as suas facetas.”
A transcendência de todas as
questões, a indiferença que caracteriza O DR. Manhattan e o conduz ao exílio,
representa uma postura niilista com relação à condição humana, com a própria vida.
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