terça-feira, 15 de março de 2016

ANOTAÇÕES SOBRE WATCHMEN

Watchmen representa para mim uma das mais ousadas experiências já realizadas no campo das Histórias em Quadrinhos. Mas seria redundante falar sobre a originalidade da trama que  revela os aspectos sombrios do mundo dos super- heróis.  Nenhum dos personagens de Allan Moore e David Gibbons são exemplos morais, todos demonstram fragilidades, fraquezas, contradições e dilemas. Embora, de um modo geral, se considerem de alguma maneira acima dos simples mortais e imponham a sociedade seus próprios  paradigmas.

O cenário de guerra fria que serve de pano de fundo a história, ambientada nos anos 70/80, associada à iminência de uma terceira guerra mundial, sugere um mundo amoral e decadente onde os super- heróis, que tomam para si o papel de seus salvadores,  acabam se revelando como agentes de suas  contradições. Assim, os heróis de Moore não são virtuosos ou dignos de admiração, são perturbadores por sua radical e conturbada humanidade.

Os dilemas filosóficos do Dr. Manhattan, o singelo e ingênuo romance entre Espectral e o Homem Coruja, tal como a insanidade de Rorschach, quando contrastadas, compõem um mosaico de situações  realmente caóticas, diante do qual, nos questionamos se o conjunto das coisas vividas ainda fazem qualquer sentido. O jogo entre fantasia e realidade dar-se ainda através dos Contos do Cargueiro Negro, uma história em quadrinhos lida por um rapaz em uma banca de revistas. A história dentro da história é mais do que um exercício metalinguístico , mas expressão do lugar dos quadrinhos em um mundo onde os super heróis são reais.

São muitas as chaves de leitura e detalhes que poderia explorar aqui, mas me limitarei a uma passagem fascinante do Dr. Manhattan,

O tempo é simultâneo, uma joia intricada que os humanos insistem em ver apenas por um ângulo, quando o desenho completo é visível em todas as suas facetas.”

A transcendência de todas as questões, a indiferença que caracteriza O DR. Manhattan e o conduz ao exílio, representa uma postura niilista com relação à condição humana, com a própria vida.




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