Havia sonhado com fantasmas na
noite passada. No sonho eu havia ido a uma festa. Mas havia chegado muito cedo
ao local e a anfitriã me recebeu naquele estranho casarão colonial com formal
cordialidade. Ela me conduziu a cozinha onde serviu uma pequena refeição para ninguém. Depositou o prato em uma mesa
vazia e voltou sua atenção para mim em seguida. Percebendo minha aparente perplexidade diante do fato, me
questionou se eu não podia vê-lo...
Depois disso comecei a enxergar
pessoas portando trajes do século XIX em todas as partes. Não eram exatamente aparições, estavam ali
vivendo seu cotidiano indiferentes a mim. Mas eu sabia que não se tratava de
uma viagem no tempo. Aquelas pessoas e seu tempo estava ali agora,
simultaneamente ao meu presente.
Em dado momento uma delas me
percebeu e atirou um objeto qualquer na minha direção. Chamou minha atenção sua expressão de espanto
quando o objeto arremessado simplesmente me atravessou.
O sonho sugeria a ideia de que o passado continua acontecendo
paralelamente ao tempo presente, como se em uma outra dimensão normalmente
invisível.
Evidentemente, não estou
formulando aqui qualquer teoria absurda sobre vida após a morte, mas apenas
descrevendo uma curiosa experiência onírica, uma fantasia irracional. O que
realmente me parece estar aqui em jogo é minha obsessão pelo passado, minha
incapacidade de aceitar o simples fato objetivo de que a finitude e o devir
configuram toda experiência humana.