segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

TEMPO ÍNTIMO

De quanto tempo
precisa meu tempo
para periodicamente
reinventar minha vida?
Ou já não tenho mais tempo
nesta desesperada urgência
que agora me atropela.

Façam o passado parar
de crescer.
Preciso respirar futuros,
vencer o tempo afirmando existência
deste tempo abstrato e incerto

intimamente meu.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

META SOCIEDADE

O que define nossos mínimos consensos humanos? O que nos permite a convivência apesar de todas as nossas diferenças? Por mais que tendamos a um comportamento pré- moldado em  uma sociedade de massas e aos encantos quase totalitários de uma vida de consumismo simbólico,  ainda nos confrontamos com a angustia diante do efêmero e o insignificante de nossas existências.  Mas na luta contra esta insignificância, nos distanciamos cada vez mais uns dos outros na inflação de nossos egos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

ELOGIO AO INDIVÍDUO

A irracionalidade da individualidade pressupõe o desvio, a recusa do padrão e dos lugares comuns do coletivo, como  estratégia de realização de si mesmo além das metas e pressupostos da sociedade. Tornar-se um indivíduo é recusar-se como  opaca mimese social, uma arte elitista que depende exclusivamente de nossa  capacidade de reinventar o cotidiano na contramão do mundo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O VAZIO DAS VIRTUDES

Não são poucas as pessoas caricatas que circulam por ai  afirmando o imperativo de seus egos, de suas vontades pequenas e banais, contra qualquer realidade do mundo.

Não vale a pena muito falar sobre elas. Afinal, são apenas a sombra da humanidade ou aquelas que revelam o que de pior existe dentro de todos nós.

O mundo seria melhor sem elas. Mas nem por isso mais verdadeiro. Pode-se até dizer que elas revelam o que de fato anima e define a humanidade.

Não vivemos no melhor dos tempos. Mas este jamais será o melhor do mundo possíveis, pois a virtude e a coerência são meros ideias vazios.


HIPER INFORMAÇÃO

Há tantos livros por ai que já não sei mais sobre o que ainda é possível escrever. É cada vez mais difícil dizer alguma coisa realmente original e que não remeta a algum texto já consagrado. A banalização do significado desertificou as palavras através da hiper informação. Mas isso também já foi dito e se converteu em mais um entre tantos outros clichês e não nos conduz a lugar algum.


O leitor agora não passa de uma referencia virtual e abstrata para  um autor que apenas sofre de tédio.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

SOBRE LEMBRANÇA E ESQUECIMENTO

A memória é amiga do esquecimento. Lembrar é sempre esquecer de alguma coisa...

A memória flerta com a morte. Assim tem sido através dos tempos. Pois os fatos só existem quando recordados, reinventados e apropriados por significados, por agora e instantes inventados.

A memória dos fatos desaparece em silêncios na fragilidade de nossos atos...


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

PÓS IDENTIDADE

Quem eu sou? Talvez  esta seja a mais inútil  de todas as perguntas. Daqui a cem anos não fará qualquer diferença quem eu fui ou qualquer coisa que vivi. Irei desaparecer na paisagem do tempo como um indigente qualquer.


Então, quem eu sou é este momento que não se sustenta como fato concreto. Sou apenas aleatório caos de sentidos, sentimentos e sensações, entre a dúvida e o tédio...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

GUY DEBORD: CONTRA CULTURA E BIOGRAFIA

Guy Debord, co-fundador da Internacional Situacionista em 1957 e autor de A Sociedade do Espetáculo, foi um dos grandes expoentes da contra cultura da segunda metade do século XX e do pensamento revolucionário pós 68.

Um pouco antes de se suicidar em 1994 nas montanhas de Auvergne ( França) ele nos legou uma breve biografia onde faz um melancólico balanço de sua existência. Em seu Panegírico Debord se define como um homem das ruas e das cidades, um agitador de tempo integral.

Seu texto é recheado de citações e referências históricas, mas tem um tom profundamente subjetivo e pessoal. Como ele próprio esclarece, certas personalidades muitos distantes entre si, ainda comunicam algo precioso sobre o significado das condutas e inclinações humanas. Nas próprias palavras do autor, “ As citações são úteis nos períodos de ignorância ou de crenças obscurantistas.”
Debord se recusa a utilizar em sua narrativa biográfica a linguagem efetivamente falada nas modernas condições de vida e que se reduz, em ultima instância, ao imediato da representação, não passando de uma imposição midiática. Assim, o estilo do enunciado torna-se também um meio de recusa da “dominação moderna”, uma audácia.

Diferente de seus textos teóricos e políticos, Panegírico é um texto sereno onde, de modo bastante comedido, Debord se propõe a contar sua “verdadeira história” como um velho general experimentado no campo de batalha refletindo sobre uma guerra ainda em curso.

Sua conclusão é que no capitalismo tardio o valor de uso impôs seu domínio autônomo, mobilizando todo costume humano e estabelecendo o monopólio de sua satisfação, inaugurando, assim, a franca decadência da civilização ocidental. Tal leitura remete a dicotomia situacionista entre a vida falsificada do espetáculo e a vida autentica da contra mão cultural.


Creio que é justamente esta autenticidade de ser que o autor procura comunicar em seu panegírico , em seu discurso de louvor a verdadeira vida.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

LINGUAGEM E CONDIÇÃO HUMANA

Vivemos enterrados em redes linguísticas de crenças e significados que nos desenham abstratamente os contornos de tudo aquilo que nos é possível conceber.

Somos definidos por interações mentais. Não é tão evidente a premissa de um sujeito abstrato e introspectivo que demarque a fronteira entre “o que está fora” e “o que esta dentro”. Ainda não é possível determinar o que somos ou, simplesmente, como acontecemos. Mas o velho binário sujeito X objeto já não grande apelo cognitivo. A linguagem pode ser tudo aquilo que nos permite, através de enunciados, inventar o mundo. Mas já não é mais suficiente inventar o mundo...


O PASSADO COMO EVASÃO

É sempre suspeito interpretar o passado a luz do presente. O agora não pode ser um dogma ou uma prisão. Pelo contrário, o passado deve nos servir como uma estratégia de evasão, um espelho que torna circunstancial tudo aquilo que hoje nos parece confiável e digno de valoração. O conhecimento de outras épocas ou culturas deve nos conduzir a um questionamento de nossa própria identidade através do reconhecimento de sua perenidade. Aquilo que chamamos de história  não é um processo linear, mas um acervo de ruinas que inventariamos enquanto sofremos o arruinar-se de nossa própria época.