Guy Debord, co-fundador da Internacional Situacionista em 1957 e autor
de A Sociedade do Espetáculo, foi um dos grandes expoentes da contra cultura da
segunda metade do século XX e do pensamento revolucionário pós 68.
Um pouco antes de se suicidar em 1994 nas montanhas de Auvergne (
França) ele nos legou uma breve biografia onde faz um melancólico balanço de
sua existência. Em seu Panegírico Debord se define como um homem das ruas e das
cidades, um agitador de tempo integral.
Seu texto é recheado de citações e referências históricas, mas tem um
tom profundamente subjetivo e pessoal. Como ele próprio esclarece, certas
personalidades muitos distantes entre si, ainda comunicam algo precioso sobre o
significado das condutas e inclinações humanas. Nas próprias palavras do autor,
“ As citações são úteis nos períodos de ignorância ou de crenças
obscurantistas.”
Debord se recusa a utilizar em sua narrativa biográfica a linguagem
efetivamente falada nas modernas condições de vida e que se reduz, em ultima
instância, ao imediato da representação, não passando de uma imposição
midiática. Assim, o estilo do enunciado torna-se também um meio de recusa da “dominação
moderna”, uma audácia.
Diferente de seus textos teóricos e políticos, Panegírico é um texto sereno
onde, de modo bastante comedido, Debord se propõe a contar sua “verdadeira
história” como um velho general experimentado no campo de batalha refletindo
sobre uma guerra ainda em curso.
Sua conclusão é que no capitalismo tardio o valor de uso impôs seu domínio
autônomo, mobilizando todo costume humano e estabelecendo o monopólio de sua
satisfação, inaugurando, assim, a franca decadência da civilização ocidental.
Tal leitura remete a dicotomia situacionista entre a vida falsificada do
espetáculo e a vida autentica da contra mão cultural.
Creio que é justamente esta autenticidade de ser que o autor procura
comunicar em seu panegírico , em seu discurso de louvor a verdadeira vida.