sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

CHARLES BUKOWISKI: TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS


Charles Bukowiski: Textos Autobiográficos, uma antologia  editada por John Martin, editor e amigo do escritor maldito de Los Angeles, é tudo aquilo que promete: um registro magistral da relação profunda  entre literatura e vida.

Todo escritor cria-se através de sua obra a partir da matéria prima de seu mais elementar cotidiano.  Escrever é justamente isso: desfigurar o dia a dia. Bukowiski sabia fazê-lo como ninguém. A ferocidade, angustias, escárnios, fracassos e surpreendente e angustiado lirismo que nos espancam a consciência através de seus textos, os descaminhos do seu Henry Chinaski pelas paisagens degradadas da existência mais marginal e desumana, oferecem ao leitor desta ampla coletânea um retrato do século XX na genialmente pessimista visão de Bukowiski.

Não é um livro para pessoas bem adaptadas e resolvidas. Esta leitura é recomendada aos desajustados, aos loucos, que tem fome de vida e sensibilidade o suficiente para encarar as coisas como elas são.


Um pouco de bebedeira e musica erudita são recomendações que faço aos possíveis leitores desta indigesta coletânea.

A LITERATURA HOJE EM DIA

Os escritores de ontem martelavam em maquinas de escrever, acumulavam papeis e angustias.
Hoje temos computadores, e esculpimos palavras em uma folha abstrata.
Podemos publicar tudo na internet. Não dependemos mais do milagre de um livro.
Por outro lado, agora já não existem leitores para tanto escritores.
A literatura perdeu um pouco do encanto e a leitura já não  passa de um hábito. Ninguém lembra dos livros que lê. Já não há mais clássicos.
Escrevemos apenas por necessidade e delinquência.

Mas, enquanto um livro ainda é um livro, os escritores.... esses, por sua vez, já não são mais  os mesmos, já não sangram ao escrever.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

SER E NÃO SER

Sempre serei aquilo que sou,
Não o que você vê.
Sou muitos dentro de mim.
Cada um sabe um pouco,
Jamais a soma das partes
Que nunca diz o todo.
Me faço no outro,
Sou devir e pluralidade
Na profunda arte  de não ser
Qualquer coisa que me defina
Além da embriaguez dos fatos,
Acasos e mortes

Que carrego dentro de mim.

LEITURA NIETSCHIANA DE WITTGENSTEIN


Para Wittgenstein o limite do conhecimento encontra-se na “inversão de todas as considerações”. O limite do sentido é determinada pelo emprego da gramática em nossa linguagem ordinária. Além dele, apenas existe o abismo do não sentido. Penso, entretanto, que ele não deve ser desconsiderado ou descartado. Já não se trata de pensar, mas de dês-pensar, de não entender o mundo, os fatos e as razões.

Trata-se aqui de curvar o sentido das coisas, as convenções da linguagem, e ir além do humano...

Todas as tradições, todas as certezas devem cair por terra na transfiguração dos valores,

Tudo deve ser revisto, tudo deve ser repensado e dês pensado.
Pois nenhum humanismo já nos sustenta sobre a terra e sobre duas pernas bambas e fracas.


Falo apenas aqueles indivíduos que ousam a plenitude de si mesmos, não aos fracos de espírito e de razões conformadas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A ARTE E A DIGITALIZAÇÃO DO MUNDO VIVIDO

Não consigo mais acompanhar o cinema e a literatura contemporânea. Publica-se em profusão e os filmes já nascem  banais e indignos da condição de clássicos. São do tipo eu veremos daqui a dez anos por simples distração ou nos esqueceremos inteiramente deles na medida em que outros são feitos e lançados. A arte se dobra a marca do efêmero e acho isso muito natural em tempos de digitalização da existência.

No mundo digital  tendemos a submergir em um fluxo interminável e frenético de informações e conteúdos que. Até então, não éramos capazes de codificar em nossa consciência das coisas. A diversidade e a pluralidade se faz neste nível elementar do estar diante das coisas.O mundo nos escapa. Já não temos em que nos agarrar. E, no entanto, estamos em pré na correnteza informacional. Só precisamos aprender a surfar...


A arte já não é privilégio de “gênios” ou grande escritores. È um ato técnico acessível a qualquer um. Já não podemos derivar da arte atual qualquer grande estética. Mas isso não é ruim. Só difícil de digerir.....

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

TORNE-SE VOCÊ MESMO

Eu esperava ter sido capaz de muito mais de tudo aquilo que eu disse.
É difícil dizer meus limites, meus erros, meus defeitos e minhas ilusões.
Mas no fundo não há quem não se engane um pouco consigo mesmo.
Ou não esteja pronto o suficiente para realizar tudo aquilo que gostaria que fosse realidade.
Somos limitados. Transcender pessoalmente nossos limites não são uma meta de reconhecimento e aceitação social.
São uma forma de nos tornamos aquilo que vemos de melhor em nós mesmos,
Apesar de todas as limitações....
Tornar-se um indivíduo psicológico, em grande parte significa reconhecer seus próprios limites e ser criativo a partir deles.
Pessoalmente, não sei se estou preocupado com reconhecimento pessoal quando me debruço sobre mim  mesmo. Acho que é ,ais o contrario...


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

DESALENTO

Enquanto os sonhos me prendem ao sono
A vida passa mal feita pelos noticiários.
O mundo anda, como sempre,
De pernas para o ar.
Minha existência a beira da delinquência
De um quase impossível vir  a ser.
Ando na contramão dos fatos
Mendigando significados.
Nada é como deveria ser...


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

NÃO SER

Guardo dentro de mim
Muitos destinos perdidos,
Diversos sonhos abortados
E o grito de tudo aquilo
Que não pode ter sido.
Sou o resto de tudo aquilo
Que nunca me tornei.
A vida é apenas
Um modo estranho

De não ser.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

SOLIDÃO E DIVERSIDADE

A diversidade de sentimentos,
As várias faces das opiniões,
A pluralidade de rostos
E decisões...

Somos todos discordantes,
Intimamente distantes uns dos outros.
Nada nos une mais do que a pluralidade.

Aprender a viver apartados é uma arte difícil
Que acima de tudo inclui o dialogo e a solidão.
Cada um deve, ao seu próprio modo,
Aprender a ser sozinho entre os outros.

domingo, 29 de novembro de 2015

A ESCURIDÃO DA NOITE SEGUNDO EDWARD HARRISON

Faz parte de nosso processo  de adaptação a realidade converter tudo aquilo que é estranho e desconhecido a uma fórmula familiar. Assim o intelecto humano domestica os fenômenos. Por isso questões aparentemente bobas podem revelar uma profundidade surpreendente. É o caso da questão proposta pelo professor de Física e Astronomia  da Universidade de Massachusetts, Edward Harrison, em A Escuridão da Noite: Um Enigma do Universo. é peculiarmente interessante aos não especialistas como eu.

Afinal, não deve surpreender o fato de que, como afirma o autor, a interpretação que damos  “a escuridão por detrás das estrelas” depende da natureza do universo em que imaginamos viver. Alem disso, ele também nos chama atenção para o fato de que o enigma tem sua própria história, tendo sido objeto, ao longo de séculos, da reflexão de cientistas, filósofos e poetas. Dentre estes últimos vale registrar meu caro Edgar Allan Poe.

Mesmo com todo o avanço da astronomia, nós leigos, quando olhamos para o céu, tendemos a pensar irrefletidamente que  as estrelas estão arranjadas “divinamente” no espaço produzindo o céu noturno. Não levamos em conta a questão da velocidade da luz  e, consequentemente, o fato de que o universo que nos é visível  na verdade esconde um universo invisível ilimitado.

As estrelas que vemos são apenas uma imagem de um universo primitivo. Nas próprias palavras de Harrison,

“A ar livre, à noite, contemplamos o céu escuro. Por entre as estrelas, olhamos  para imensas  distâncias no espaço e para um tempo muito remoto, anterior a formação das galáxias e ao nascimento de suas primeiras estrelas. Nossa visão se estende  até o horizonte do universo visível, na fronteira do big bang. Em todas as direções, por toda parte, entre as estrelas, vemos a criação do universo recobrindo inteiramente o céu. Muito tempo atrás, quando o universo era jovem e repleto de energia, o céu primordial resplandecia com uma luz fulgurante.”

Edward Harrison. A escuridão da noite: um enigma do universo. RJ: Jorge Zahar Editores, 1995, p. 233


Evidentemente, não sou competente para questionar ou endossar a tese aqui exposta, mas até onde me parece ela faz todo sentido. Alem disso, nos leva ao questionamento de uma experiência cotidiana  naturalizada, a revelia de toda a sua complexidade.