quinta-feira, 22 de outubro de 2015

STAR TREK

A terra não tem quatro cantos,
é plena esfera
que  nos inventa
na alternância dos dias e noites.

É um grão de areia
perdido no universo.
Qualquer quase nada
onde nos cabe tudo.

A terra talvez
um dia
se faça nosso passado
no navegar o universo
na aventura das estrelas.

SOBRE A COINCIDÊNCIA DO PENSAMENTO COM O CORPO

Não é raro ficar dias tentando escrever sobre alguma coisa da exata maneira que acredito que ela deveria ser escrita. Entretanto, não faço a mínima ideia, nestas ocasiões do que isso exatamente significa.

É como se houvesse na palavra um limite para personificar certas ideias e experiências realçadas por tonalidades afetivas e emocionais. Por isso costumo dizer que as coisas mais importantes não cabem em palavras, estão condenadas ao silêncio e só podem ser percebidas no superficial dos gestos e expressões corporais.

Quando pensamos com o corpo, quando sentimos profundamente determinadas ideias como imagens, não conseguimos satisfatoriamente converte-las em palavras, pois elas se tornam concretas, físicas e irracionais.   



A CONDIÇÃO HUMANA DA REALIDADE

A realidade  existe apenas enquanto representação de nossa própria condição humana. Como não podemos perceber o mundo de fora de nossas possibilidades cognitivas, então a realidade, que é a dialética do eu e do mundo, é apenas aquilo que nos é sensualmente e intelectualmente  legível.

A realidade não está condicionada a nossa vontade, mas a nossa própria vontade é parte dela. Mesmo quando nossa engenhosa imaginação elabora imagens e fantasias irracionais e que parecem distantes da realidade, ela ainda é a matéria prima de tais fantasias.

A realidade não existe em si ou para si, mas através de nossa percepção. Ela só é na medida em que existimos e a tornamos  real. Desta forma, tudo aquilo que sabemos e potencialmente podemos saber já está prefigurado por nossas possibilidades cognitivas. Assim, o humano é, de certa forma, a medida de tudo aquilo que pode ser conhecido ou criado.

Não existe uma meta consciência fora da percepção humana capaz de eclipsar sua apreensão do mundo, um absoluto cognitivo que ofereça uma alternativa a percepção humana, da mesma forma as coisas não existem em si mesmas, não apresentam uma “natureza”.


Somos aquilo que concebemos e pensamos, e a realidade é um ato humano que acontece através da linguagem.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

EXISTÊNCIA E DEVIR

Não sou mais o mesmo de antigamente.
Mesmo sem nunca  ter sido  quem eu era
nos atos e pensamentos  incertos
que me definem em cada  momento.

Sou indeterminado, uma abstração,
que se reinventa ao sabor dos fatos.

Não me prendam a identidades,
sentimentos ou escolhas.

Sou aquele que nunca se sabe
entre as náufragas certezas
da simples existência.


Não estou aberto a diálogos.

BREVE DIVERTIMENTO FILOSÓFICO SOBRE O TEMA DA AUTO CONSCIÊNCIA

As pessoas são sempre o centro de suas próprias vidas na medida em que a realidade só existe enquanto consciência de algo fora de nós. Em contrapartida, não é obvio o que significaria o oposto “dentro de nós”. Pois o que somos é pura abstração. A auto consciência é um dado, mais do que um conceito. Não há como julga-la de fora dela mesma. Logo, somos em nossa consciência e ela é a medida de todas as coisas concebidas.

Pode-se dizer, entretanto, que a própria autoconsciência, em suas atuais configurações,  é formatada pelo mundo exterior através da cultura. Logo, a própria auto consciência é uma construção social.  Tal hipótese não exclui a primeira. Apenas a complementa. Pois a auto consciência é, paradoxalmente, as duas coisas. A auto consciência se define como consciência de alguma coisa estabelecida na dialética com o mundo. Ela é auto representação que se forma como consciência de alguma coisa que ela não é, que a transcende e, ao mesmo tempo, engendra.

Assim, se tradicionalmente, a questão da auto consciência remete a ideia de identidade e de Ser, hoje tais grandezas já não exercem grande importância na definição da questão. Pois o Ser e sua metafísica já não são entidades do pensamento, não dizem quem somos enquanto abstração coletiva.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

NOSTALGIA DA CASA ANTIGA


Nunca mais voltei a casa em que cresci.
Sei que hoje ela abriga outras vidas.
Já não é a mesma
E não exibe as marcas dos meus dias de pequeno infante.
A casa em que cresci  mora apenas  na memória.
Não sinto  seu teto, suas paredes ou fundações.
Tudo que dela restou foi o vazio de uma opaca lembrança.
É como se nunca tivesse existido,
Como se tudo aquilo que um dia foi tão vivo
Não tivesse mais realidade do que  um sonho bom que se desfaz com a aurora.
Queria poder deitar de novo em meu velho quarto,
Guardar a vida em um abraço e voltar nos anos.
Fingir que o tempo não importa

E ser novamente eu nos jardins da casa antiga.

AS VIRTUDES DA SOLIDÃO

“Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar das fontes igual à deles;
e era outro o canto, que acordava
o coração de alegria
Tudo o que amei, amei sozinho.”


A solidão aconteceu em mim como um estado de descontínuos íntimos e subjetivos. Foi como me tornar para mim mesmo um outro quando já não sabia de mais ninguém. Através dela a vida se tornou só minha, um desentender dos sentidos e dos pensamentos, onde pouco me importava o resto do mundo.

Há grande alegria em viver sem a opinião dos outros, sem diferenças e discordâncias.

A solidão é o único caminho possível para a embriaguez da paz com sentimento das coisas vividas.

Aconselho a todos o bom remédio da solidão contra as inevitáveis dores do mundo.


NOTA SOBRE A NOSSA CONDIÇÃO PÓS MODERNA

A condição pós moderna ( ou o tempo de agora) é definido pelo desencanto e falência das grandes narrativas, pelo esgotamento do próprio real e pelo  advento da hiper-realidade. A mentira e a verdade se abraçam agora em franca promiscuidade, enquanto enterramos de vez a ilusão da subjetividade na orgia dos objetos.

Quem e o que ainda é digno de confiança atualmente? 

domingo, 18 de outubro de 2015

OBJETIVIDADE

Vivemos hoje de alguns passados,
De alguns erros e poucas esperanças.
Não continuamos o sonho
Do velho prometeu.
Ficamos pelo caminho
Observando desejos quebrados no chão.
Muito cedo desistimos das sedutoras ilusões
De formulas simples de felicidade.
Temos o suficiente para viver
E isto era tudo que imporá agora.


sábado, 17 de outubro de 2015

ESCREVA

Quanto  custa o delicado exercício de alguns versos?
Quantos silêncios devem ser escritos,
Quantos impasses e quimeras devem ser rasgadas
em  palavras?

Escreva sob os abismos dos dias
E sobre as maravilhas do absurdo.
Traga uma bebida.
Não de ouvido aos lugares comuns
Do simples dia a dia.

Escreva como se fosse seu último suspiro.
Prenda neste instante todas as abstrações de eternidade
No branco da folha...

Escreva versos livres e sujos como se não houvesse amanhã.