terça-feira, 20 de outubro de 2015

NOSTALGIA DA CASA ANTIGA


Nunca mais voltei a casa em que cresci.
Sei que hoje ela abriga outras vidas.
Já não é a mesma
E não exibe as marcas dos meus dias de pequeno infante.
A casa em que cresci  mora apenas  na memória.
Não sinto  seu teto, suas paredes ou fundações.
Tudo que dela restou foi o vazio de uma opaca lembrança.
É como se nunca tivesse existido,
Como se tudo aquilo que um dia foi tão vivo
Não tivesse mais realidade do que  um sonho bom que se desfaz com a aurora.
Queria poder deitar de novo em meu velho quarto,
Guardar a vida em um abraço e voltar nos anos.
Fingir que o tempo não importa

E ser novamente eu nos jardins da casa antiga.

AS VIRTUDES DA SOLIDÃO

“Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar das fontes igual à deles;
e era outro o canto, que acordava
o coração de alegria
Tudo o que amei, amei sozinho.”


A solidão aconteceu em mim como um estado de descontínuos íntimos e subjetivos. Foi como me tornar para mim mesmo um outro quando já não sabia de mais ninguém. Através dela a vida se tornou só minha, um desentender dos sentidos e dos pensamentos, onde pouco me importava o resto do mundo.

Há grande alegria em viver sem a opinião dos outros, sem diferenças e discordâncias.

A solidão é o único caminho possível para a embriaguez da paz com sentimento das coisas vividas.

Aconselho a todos o bom remédio da solidão contra as inevitáveis dores do mundo.


NOTA SOBRE A NOSSA CONDIÇÃO PÓS MODERNA

A condição pós moderna ( ou o tempo de agora) é definido pelo desencanto e falência das grandes narrativas, pelo esgotamento do próprio real e pelo  advento da hiper-realidade. A mentira e a verdade se abraçam agora em franca promiscuidade, enquanto enterramos de vez a ilusão da subjetividade na orgia dos objetos.

Quem e o que ainda é digno de confiança atualmente? 

domingo, 18 de outubro de 2015

OBJETIVIDADE

Vivemos hoje de alguns passados,
De alguns erros e poucas esperanças.
Não continuamos o sonho
Do velho prometeu.
Ficamos pelo caminho
Observando desejos quebrados no chão.
Muito cedo desistimos das sedutoras ilusões
De formulas simples de felicidade.
Temos o suficiente para viver
E isto era tudo que imporá agora.


sábado, 17 de outubro de 2015

ESCREVA

Quanto  custa o delicado exercício de alguns versos?
Quantos silêncios devem ser escritos,
Quantos impasses e quimeras devem ser rasgadas
em  palavras?

Escreva sob os abismos dos dias
E sobre as maravilhas do absurdo.
Traga uma bebida.
Não de ouvido aos lugares comuns
Do simples dia a dia.

Escreva como se fosse seu último suspiro.
Prenda neste instante todas as abstrações de eternidade
No branco da folha...

Escreva versos livres e sujos como se não houvesse amanhã.



sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O PENSADOR SOLITÁRIO

Pensar é uma atividade solitária e ingrata.
Mas que prazer em ser só
Abraçado as brumas densas da imaginação criativa!
Enquanto os outros apenas sofrem o mundo
Sem maiores preocupações,
Você o reinventa como gramática.

Deixe que os outros sigam juntos.
Contempla teu universo intimo
Na combinação infinita de palavras
No corpo dos textos

Que te inspiram o mais radical da vida.
Jamais espere estar entre iguais.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

CONTRA A TEORIA LIQUIDA DE BAUMANN

O sucesso social ou o reconhecimento do individuo pela irracionalidade do coletivo, pressupõe sua conversão em símbolo, em imagem transpessoal que se consagra como na ilusão do "grande indivíduo", da figura do lider. Hegel nada sabia sobre isso em seu idealismo vazio e aposta na realização da História como vitória ilustrada de uma racionalidade abstrata e absoluta.

Mas estamos aqui falando de algo bem simples: A personalidade é uma mascara, nos tornamos aquilo que somos nos posicionando contra e através dos outros. Os laços e vínculos societários se enfraquecem na exata medida em que tornar-se um individuo é mau visto e, ao mesmo tempo, a única meta do existir diferenciado que nos define enquanto representantes desta triste espécie animal que auto proclama humana.


Pessoalmente estou farto de humanidades e dos lugares comuns de mim mesmo> Na mesma medida em que repudio tudo que é liquido, tenho aversão aos crédulos do coletivismo e do social como compartilhamento de um mundo comum que já não mais existe.

O AUTOR, O LEITOR E O LIVRO

De repente me dei conta de que o  autor que estou lendo já esta morto  a mais de um século. Aquele livro é apenas a sombra de alguém que nunca conheci, que nunca bebeu comigo, mas está ali, dentro dos meus pensamentos e enfeitando a minha vida miserável.
Aquele livro...
Aquele autor....
Ou, simplesmente, o cara morto que nunca me imaginou como leitor.
Ao qual não posso dar nada, nem dizer nada.
É estranho como uma pessoa pode ser reduzida a experiência de alguns livros legados ao vento do tempo que nos ultrapassa. Esta é a única eternidade possível.... A eternidade não é lá mesmo grande coisa.
Eu ainda podia falar, comer, beber e reclamar daquele livro com alguém, falar do seu autor como se tivesse bebido com ele ontem  durante a madrugada. Mas aquele autor morto, mesmo assim, estava mais vivo do que eu do ponto de vista da humanidade. E isso não ffazia mais qualquer diferença para ele, pois, afinal, estava morto.

Não. Isso não me incomoda. Talvez fosse melhor ser aquele  autor morto do que este leitor vivo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

NATALÍCIO

Neste dia dedicado ao passar dos anos
contemplo o passado espalhado
sobre os vazios agora preenchidos
por saudades e  lembranças.
É no ontem onde existo
contra o futuro.
 Nele resisto ao presente
que me prende ao perder-se
das coisas
consumindo minha queda.
Sou os lugares onde cresci,
as pessoas que vivi
e todos os sonhos que  se perderam
ainda moços no vento.
Neste dia dedicado ao passar dos anos,
O tempo é um acoite
e apenas aguardo o silencio

e a noite.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

ESCREVER É UM ABUSO

Sei que o que vou dizer já foi dito , de diversas outras maneiras, por escritores melhores do que eu, mas não custa nada repetir esta premissa obvia da arte de escrevinhar:

Quando for rabiscar alguma coisa, deixe de lado suas emoções. Ninguém escreve nada de bom inspirado por dilemas existenciais, bons sentimentos ou certezas eleitas. Escreva como se fosse um outro a observar a si mesmo  reinventando sua própria vida através da imaginação.

Escrever é uma arte estranha. Exige sim um certo domínio da gramática, mas acima de tudo, o que importa é ter uma imaginação que transborda, uma necessidade de não ser e se refazer  através  da palavra, em simples exercício de individuação e isolamento.

Não é aquilo que você diz que importa, mas como você diz e se faz no extraterritorial da gramática viva e subversiva da sua solidão em movimento.  No abstrato corpo de uma prosa ou de um verso você inventa um deslocamento, um metaespelho de abstrações do cotidiano.

Escrever é fugir de si mesmo através de imagens que te comunicam ao outro.


Escrever não é um discurso, é um abuso.