quinta-feira, 15 de outubro de 2015

CONTRA A TEORIA LIQUIDA DE BAUMANN

O sucesso social ou o reconhecimento do individuo pela irracionalidade do coletivo, pressupõe sua conversão em símbolo, em imagem transpessoal que se consagra como na ilusão do "grande indivíduo", da figura do lider. Hegel nada sabia sobre isso em seu idealismo vazio e aposta na realização da História como vitória ilustrada de uma racionalidade abstrata e absoluta.

Mas estamos aqui falando de algo bem simples: A personalidade é uma mascara, nos tornamos aquilo que somos nos posicionando contra e através dos outros. Os laços e vínculos societários se enfraquecem na exata medida em que tornar-se um individuo é mau visto e, ao mesmo tempo, a única meta do existir diferenciado que nos define enquanto representantes desta triste espécie animal que auto proclama humana.


Pessoalmente estou farto de humanidades e dos lugares comuns de mim mesmo> Na mesma medida em que repudio tudo que é liquido, tenho aversão aos crédulos do coletivismo e do social como compartilhamento de um mundo comum que já não mais existe.

O AUTOR, O LEITOR E O LIVRO

De repente me dei conta de que o  autor que estou lendo já esta morto  a mais de um século. Aquele livro é apenas a sombra de alguém que nunca conheci, que nunca bebeu comigo, mas está ali, dentro dos meus pensamentos e enfeitando a minha vida miserável.
Aquele livro...
Aquele autor....
Ou, simplesmente, o cara morto que nunca me imaginou como leitor.
Ao qual não posso dar nada, nem dizer nada.
É estranho como uma pessoa pode ser reduzida a experiência de alguns livros legados ao vento do tempo que nos ultrapassa. Esta é a única eternidade possível.... A eternidade não é lá mesmo grande coisa.
Eu ainda podia falar, comer, beber e reclamar daquele livro com alguém, falar do seu autor como se tivesse bebido com ele ontem  durante a madrugada. Mas aquele autor morto, mesmo assim, estava mais vivo do que eu do ponto de vista da humanidade. E isso não ffazia mais qualquer diferença para ele, pois, afinal, estava morto.

Não. Isso não me incomoda. Talvez fosse melhor ser aquele  autor morto do que este leitor vivo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

NATALÍCIO

Neste dia dedicado ao passar dos anos
contemplo o passado espalhado
sobre os vazios agora preenchidos
por saudades e  lembranças.
É no ontem onde existo
contra o futuro.
 Nele resisto ao presente
que me prende ao perder-se
das coisas
consumindo minha queda.
Sou os lugares onde cresci,
as pessoas que vivi
e todos os sonhos que  se perderam
ainda moços no vento.
Neste dia dedicado ao passar dos anos,
O tempo é um acoite
e apenas aguardo o silencio

e a noite.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

ESCREVER É UM ABUSO

Sei que o que vou dizer já foi dito , de diversas outras maneiras, por escritores melhores do que eu, mas não custa nada repetir esta premissa obvia da arte de escrevinhar:

Quando for rabiscar alguma coisa, deixe de lado suas emoções. Ninguém escreve nada de bom inspirado por dilemas existenciais, bons sentimentos ou certezas eleitas. Escreva como se fosse um outro a observar a si mesmo  reinventando sua própria vida através da imaginação.

Escrever é uma arte estranha. Exige sim um certo domínio da gramática, mas acima de tudo, o que importa é ter uma imaginação que transborda, uma necessidade de não ser e se refazer  através  da palavra, em simples exercício de individuação e isolamento.

Não é aquilo que você diz que importa, mas como você diz e se faz no extraterritorial da gramática viva e subversiva da sua solidão em movimento.  No abstrato corpo de uma prosa ou de um verso você inventa um deslocamento, um metaespelho de abstrações do cotidiano.

Escrever é fugir de si mesmo através de imagens que te comunicam ao outro.


Escrever não é um discurso, é um abuso.

DESCONSTRUINDO A SI MESMO

Ainda estamos em busca de nós mesmos.
Passamos a vida toda esperando 
pela realização deste encontro.

Apenas tarde demais percebemos
o desacordo
entre quem nos tornamos
e o que somos.

O Ser não existe.
De todas as maneiras,
não somos.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

SEJA CURIOSO

Encontre  vida em  sua perene  existência
Onde sopram mais fortes
Os ventos da sua vontade.

Não se detenha frente aos lugares comuns
Do seu tempo ou da sociedade.
Não deixe que lhe imponham os Hades.

Desafie o improvável,  as desrazões dos fatos.
Invente sempre!

Seja criativo,
Criança sombria e faminta

A desbravar escuridões e desfazer metafísicas.

A VONTADE DE SABER

Nunca foi um problema para mim estar errado sobre alguma coisa. Na verdade na maior parte das vezes eu lamentava estar certo.  Um pouco de ilusão faz falta para que a vida seja mais suportável.

Não sou movido unicamente pelos desejos e pelas vontades que me possuem no nível mais imediato e sensual da existência. O que mais me inspira é a doentia necessidade de lucidez, de saber mesmo aquilo tudo que  sempre irá escapar ao meu conhecimento.


O conhecido será sempre muito pouco pra mim. O desejo de saber consome quase toda  minha vontade. É através dela que existo.

O JOGO DO CONHECIMENTO

A verdade não é uma construção dada, não se apresenta como algo imediatamente evidende, mas pressupõe a analise cuidada dos detalhes. E isso se aplica aos discursos e realidades humanas , antes de tudo.

Não de seve tomar como aceitável qualquer discurso, qualquer precipitado arranjo do pensamento que sempre esconde intencionalidades que em muitos casos oscilam entre a ingenuidade e a manipulação pura e simples.

As pessoas nunca são sinceras. Daí a necessidade de bem analisar deus discursos e desvendar suas intencionalidades.


O conhecimento é um jogo, não uma virtude.

EM NOME DA LIBERDADE

Fui apenas um cara solitário
Que por anos a fio
Marchou em zigue zague
Em busca de qualquer sonho
Requentado de liberdade.
Fui destes que nunca cresceram o suficiente
Para perder a esperança.
Hoje ainda persigo, mesmo vencido,
O antigo delírio de um dia de infância.
Seria mais do que um rosto
E menos do que os outros.
Seria eu mesmo.
Até hoje não sei direito
O significado disso.
Mas foi o que me levou a este vazio
Onde agora habito.


domingo, 11 de outubro de 2015

BALZAC E O CÓDIGO DOS HOMENS HONESTOS: UMA BREVE INTRODUÇÃO AO EGOÍSMO

O Código dos Homens Honestos ou a arte de não se deixar enganar pelos larápios é uma obra de juventude de Balzac escrita  em 1825.
Trata-se aqui de um manual de sobrevivência para a França oitocentista e frente a industriosidade da extorsão que define o cotidiano e as relações humanas em uma sociedade em que o bolso se torna a medida de todas as coisas.
Uma determinada passagem desta obra me parece essencial a sua apresentação:

“Um homem honesto deve estar sempre atento e em guarda, pois os camaleões, cujas cores e formas tentaremos captar, apresentam-se sob seu melhor aspecto. São amigos, parente e até-  o que é sagrado em París-conhecidos. Atores deste pequeno drama, golpeiam diariamente no coração, comovem a sensibilidade, os sentidos, deixam o amor próprio imerso em cruel perplexidade, e sempre acabam por vencer as mais heroicas resoluções.
Para proteger-se desta chuva de pedidos legítimos , lembre-se sempre de que o egoísmo tornou-se uma paixão, uma virtude nos homens; que poucas almas dele estão isentas, e que pode apostar cem contra um que vocês são vítimas, vocês e seus bolsos, dessas belas invenções, dessas efusões de generosidade, desses complôs honestos a que somos inclinados a pagar tributo.
Lembre-se sempre desta frase incisiva de um pensador:’ Meu amigo, não há amigos’”

 Honore de Balzac. Código dos Homens Honestos ou a arte de não se deixar enganar por larápios. Tradução: Lea Novaes 1º Ed. RJ: Nova Fronteira, 2005, p. 80-81

A sociedade institucionaliza o roubo de forma sutil através da micro economia de nossas relações pessoais e com instituições que ao oferecer qualquer serviço nos leva um pouco mais do que o devido pelo mero prazer do lucro fácil.
Este manual de Balzac ainda diz muito sobre a nossa sociedade e  a modernidade tardia em seu cotidiano mais sutil. Por isso é preciso ao indivíduo ocupar-se sempre do exercício do seu egoísmo.