O Código dos Homens Honestos ou a
arte de não se deixar enganar pelos larápios é uma obra de juventude de Balzac
escrita em 1825.
Trata-se aqui de um manual de sobrevivência
para a França oitocentista e frente a industriosidade da extorsão que define o
cotidiano e as relações humanas em uma sociedade em que o bolso se torna a
medida de todas as coisas.
Uma determinada passagem desta
obra me parece essencial a sua apresentação:
“Um homem honesto deve estar sempre atento e em guarda, pois os
camaleões, cujas cores e formas tentaremos captar, apresentam-se sob seu melhor
aspecto. São amigos, parente e até- o
que é sagrado em París-conhecidos.
Atores deste pequeno drama, golpeiam diariamente no coração, comovem a
sensibilidade, os sentidos, deixam o amor próprio imerso em cruel perplexidade,
e sempre acabam por vencer as mais heroicas resoluções.
Para proteger-se desta chuva de pedidos legítimos , lembre-se sempre de
que o egoísmo tornou-se uma paixão, uma virtude nos homens; que poucas almas
dele estão isentas, e que pode apostar cem contra um que vocês são vítimas,
vocês e seus bolsos, dessas belas invenções, dessas efusões de generosidade,
desses complôs honestos a que somos inclinados a pagar tributo.
Lembre-se sempre desta frase incisiva de um pensador:’ Meu amigo, não
há amigos’”
Honore de Balzac. Código dos Homens Honestos
ou a arte de não se deixar enganar por larápios. Tradução: Lea Novaes 1º Ed.
RJ: Nova Fronteira, 2005, p. 80-81
A sociedade institucionaliza o
roubo de forma sutil através da micro economia de nossas relações pessoais e
com instituições que ao oferecer qualquer serviço nos leva um pouco mais do que
o devido pelo mero prazer do lucro fácil.
Este manual de Balzac ainda diz
muito sobre a nossa sociedade e a
modernidade tardia em seu cotidiano mais sutil. Por isso é preciso ao indivíduo
ocupar-se sempre do exercício do seu egoísmo.
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