De repente me dei conta de que
o autor que estou lendo já esta
morto a mais de um século. Aquele livro
é apenas a sombra de alguém que nunca conheci, que nunca bebeu comigo, mas está
ali, dentro dos meus pensamentos e enfeitando a minha vida miserável.
Aquele livro...
Aquele autor....
Ou, simplesmente, o cara morto
que nunca me imaginou como leitor.
Ao qual não posso dar nada, nem
dizer nada.
É estranho como uma pessoa pode
ser reduzida a experiência de alguns livros legados ao vento do tempo que nos
ultrapassa. Esta é a única eternidade possível.... A eternidade não é lá mesmo
grande coisa.
Eu ainda podia falar, comer,
beber e reclamar daquele livro com alguém, falar do seu autor como se tivesse
bebido com ele ontem durante a
madrugada. Mas aquele autor morto, mesmo assim, estava mais vivo do que eu do
ponto de vista da humanidade. E isso não ffazia mais qualquer diferença para
ele, pois, afinal, estava morto.
Não. Isso não me incomoda. Talvez
fosse melhor ser aquele autor morto do
que este leitor vivo.