Sei que o que vou dizer já foi
dito , de diversas outras maneiras, por escritores melhores do que eu, mas não
custa nada repetir esta premissa obvia da arte de escrevinhar:
Quando for rabiscar alguma coisa,
deixe de lado suas emoções. Ninguém escreve nada de bom inspirado por dilemas
existenciais, bons sentimentos ou certezas eleitas. Escreva como se fosse um
outro a observar a si mesmo reinventando
sua própria vida através da imaginação.
Escrever é uma arte estranha.
Exige sim um certo domínio da gramática, mas acima de tudo, o que importa é ter
uma imaginação que transborda, uma necessidade de não ser e se refazer através
da palavra, em simples exercício de individuação e isolamento.
Não é aquilo que você diz que
importa, mas como você diz e se faz no extraterritorial da gramática viva e
subversiva da sua solidão em movimento. No
abstrato corpo de uma prosa ou de um verso você inventa um deslocamento, um
metaespelho de abstrações do cotidiano.
Escrever é fugir de si mesmo
através de imagens que te comunicam ao outro.
Escrever não é um discurso, é um
abuso.