As vezes fico me questionando se
ainda cabe escrever. Quem escreve quer comunicar qualquer coisa. Mas eu só
escrevo por necessidade, para me sentir alguma coisa e ainda sentir alguma
coisa. Não escrevo para agradar ninguém.
Não espero que as pessoas me entendam. Escrevo apenas porque é muito chato
falar sozinho. Mas tenho medo de não ser
o único. Talvez venha por ai uma geração inteira de novos escritores vazios
escrevendo a ermo por mera questão de sobrevivência. Escrever pode estar se tornando uma forma de se suportar a
existência. Escrever pode ser a única coisa que ainda nos resta. Não há no
mundo leitores suficientes para aguentar ou saber de tantos escritores. Então
desista de qualquer sucesso e apenas escreva.... antes que seja tarde.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
PARA COMPREENDER A NOVA BARBÁRIE
Um dos feitos culturais mais
impactantes da modernidade sob o cotidiano pós revolução industrial, foi tornar
as pessoas cada vez mais invisíveis umas as outras. Já não nos percebemos como
parte das vivencias coletivas acumuladas e compartilhadas através daqueles que
convivemos. Pouco sabemos, por exemplo, sobre o conjunto de experiências e
realidades que configuraram ao menos duas gerações das famílias as quais pertencemos. E não digo
isso vislumbrando o resgate de qualquer ideal caduco de comunidade ou
pertencimento de mundo fundado pela vivencias de tradições abstratas. Trata-se
de outra coisa. Falo de termos plena
consciência do quanto a contemporaneidade nos distancia cada vez mais
vertiginosamente do passado, o quanto a experiência de poucas décadas põe a
perder hábitos e protocolos de existência. O mundo se tornou um acumular de ruínas que se multiplicam mais rapidamente
do que nossa capacidade de apreender a realidade.
Do mesmo modo, as ruas e os
lugares que frequentamos já não detém vestígios ou referências realmente instáveis.
Tudo se perde, inclusive as marcas que deixamos em nos objetos, em nossas casas. O individuo liberta-se do peso do processo
histórico e da própria ideia teleológica de que “tudo faz sentido”. Ao mesmo tempo já não conta mais com a
promessa oitocentista da construção de
um universo privado, consagrado a sua subjetividade e longe do olhar dos
outros.
Vivemos, para ser breve e nada
conclusivo, tempos de decadência de toda consciência diferenciada do
coletivo. Apenas seguimos com a
avalanche.
INDIVIDUALIDADE E ESTÉTICA
A felicidade é um veneno ao qual
sou imune.
Isso me garante aptidão para
buscar sempre a realidade e não cair na armadilha de nenhuma ilusão. Tenho por
objetivo alguma concepção estética de vida onde sejam transpostas as fronteiras
entre arte e existência no mínimo cotidiano do acontecer do meu eu.
Não me importo muito com o
destino do mundo. Minha matéria prima é o raso da realidade e as possibilidades
afetivas dos atos mais pragmáticos.
Através dos artificialismos da
cultura estamos sempre buscando nos evadir de nossa pequena condição humana, acrescentar
significados ao raso acontecer concreto que possam tornar nossas vidas
individuais relativamente
significativas.
Estou cada vez mais convencido de
que é apenas isso que importa.
domingo, 4 de outubro de 2015
AS AVENTURAS DO PENSAMENTO
Era senhor de minhas dúvidas
E vítima de minhas certezas.
Tentava fugir
A qualquer armadilha da fé.
Não tinha tempo para conformismos,
Seguranças ou fáceis
caminhos
Que não me levariam a nada além
Do comodismo de qualquer convicção.
Estava disposto a estar sempre perdido
Em meus labirintos.
O que eu buscava ainda não tinha nome
Nem havia sido inventado.
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
A LITERATURA E A DESCONTRUÇÃO DO REAL
Uma das virtudes da literatura
contemporânea é a possibilidade de
escrever contra a realidade, a partir justamente daquilo que nos incomoda
nela. Tendemos a ser hoje em dia antirrealistas
e levar as ultimas consequências a ideia de
ficção.
Já não se trata apenas de
inventar histórias e personagens. Nossa matéria prima mais desafiadora é o próprio
real enquanto conceito. Trata-se de
perseguir uma intuição: Há algo de muito errado no jeito como o mundo e as
pessoas se comportam e socialmente inventamos a realidade. Interpretações possíveis a parte,
o fato é que a fronteira entre o real e a fantasia tornam-se duvidosas.
Talvez o mundo só exista como
representação e a realidade seja apenas uma modalidade defeituosa de ficção.
terça-feira, 29 de setembro de 2015
FILOSOFIA DA EVOLUÇÃO
Estou condenado ao inacabamento,
ao provisório dos pensamentos
e ao transitório dos sentimentos.
Tudo é incerto
E a vida segue aberta,
apesar do estreito das minhas rotinas.
Talvez eu ainda não
me conheça.
Ainda não terminei de nascer.
Amanhã serei outro
na filogênese do meu rosto.
Mas não saberei o obvio
do desatino de ser eu.
Tudo que fui foi prematuro.
Queria rescrever meus atos.
Parar o tempo e sonhar,
Não ser apenas este esboço
de solitário trabalho inútil
de se fazer e perder
para acontecer de novo.
Mas nada é definitivo
e eu me desfaço em
devir.
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
SOBRE MEUS LIMITES
É certo que errei e errarei muitas vezes.
Mas não cobrirei de culpa meus erros.
Nem irei me condenar pelo erro
Que dentro de mim, por um momento,
Foi profunda certeza.
De nada me arrependo.
A vida é um quebra cabeça
E eu não sou feito de dogmas.
Apenas me invento na arte
Da tentativa e erro.
Tudo para mim é incerto.
Mas um dia, quem sabe,
Eu me surpreenda realizado,
Dentro de meus tantos limites.
domingo, 27 de setembro de 2015
A HUMANIDADE DOS OBJETOS
A existência era o interagir
constante com as coisas externas. Era saber aquela paisagem, sentir o
vento, escutar os sons espalhados pelas
ruas, fumar um cigarro ou beber uma
cerveja.
A existência era a polifonia das coisas todas a minha volta. Pouco importava as pessoas. A vida estava nas coisas... Na minha consciência intima do inanimado, do silencioso barulho dos objetos.
A existência era a polifonia das coisas todas a minha volta. Pouco importava as pessoas. A vida estava nas coisas... Na minha consciência intima do inanimado, do silencioso barulho dos objetos.
Oscilando entre os artefatos de
cultura através das horas, percebo o quanto a engenhosidade humana ultrapassou
os limites da natureza. Minha plena consciência
dos objetos é onde reside o mais profundo da condição humana, pois é isso que nos proporciona a curiosa habilidade de representar a
realidade e reinventa-la segundo nossas mais abstratas necessidades.
O ser humano não se conforma a
natureza, ele inventa e reinventa constantemente seu próprio mundo através dos
artefatos culturais.
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
A JANELA E OS TELHADOS
Meus olhos visitavam uma paisagem antiga
Através da janela do quarto de hóspedes.
Via apenas telhados e melancolias
E a copa de algumas árvores.
Ruas e pessoas não atrapalhavam
A vista.
E eu imaginava infâncias brincando
Naqueles telhados sujos
Que pareciam elevar-se
Acima do mundo.
Eu tinha os olhos abertos.
Mas não estava acordado.
UM DIA VAZIO
Precisamos todos de um dia vazio,
sem nada para dizer
ou sobre o que pensar.
Apenas um dia
para se viver sem qualquer responsabilidade
ou obrigação.
Um dia para não se preocupar com alguém
e esquecer de si mesmo também.
Apenas um dia ,
onde não caiba definições, aflições
ou conclusões.
Um dia que seja tão vazio
que nos permita, finalmente,
saber realmente da vida.
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