Um dos feitos culturais mais
impactantes da modernidade sob o cotidiano pós revolução industrial, foi tornar
as pessoas cada vez mais invisíveis umas as outras. Já não nos percebemos como
parte das vivencias coletivas acumuladas e compartilhadas através daqueles que
convivemos. Pouco sabemos, por exemplo, sobre o conjunto de experiências e
realidades que configuraram ao menos duas gerações das famílias as quais pertencemos. E não digo
isso vislumbrando o resgate de qualquer ideal caduco de comunidade ou
pertencimento de mundo fundado pela vivencias de tradições abstratas. Trata-se
de outra coisa. Falo de termos plena
consciência do quanto a contemporaneidade nos distancia cada vez mais
vertiginosamente do passado, o quanto a experiência de poucas décadas põe a
perder hábitos e protocolos de existência. O mundo se tornou um acumular de ruínas que se multiplicam mais rapidamente
do que nossa capacidade de apreender a realidade.
Do mesmo modo, as ruas e os
lugares que frequentamos já não detém vestígios ou referências realmente instáveis.
Tudo se perde, inclusive as marcas que deixamos em nos objetos, em nossas casas. O individuo liberta-se do peso do processo
histórico e da própria ideia teleológica de que “tudo faz sentido”. Ao mesmo tempo já não conta mais com a
promessa oitocentista da construção de
um universo privado, consagrado a sua subjetividade e longe do olhar dos
outros.
Vivemos, para ser breve e nada
conclusivo, tempos de decadência de toda consciência diferenciada do
coletivo. Apenas seguimos com a
avalanche.
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