segunda-feira, 6 de julho de 2015

CONSIDERAÇÕES CÉTICAS

“A dialética nasce no terreno do agonismo. Quando o fundo religioso se afastou e o impulso cognoscitivo não precisa mais ser estimulado por um desafio do deus, quando uma desputa pelo conhecimento entre os homens não mais requer que estes sejam advinhos, eis que aparece um agonismo apenas humano.”

Giorgio  Colli in  O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

Estamos acostumados a acomodação com opiniões superficiais sobre tudo. Raramente nos damos o trabalho de tentar entender porque pensamos como pensamos e não de outra maneira. A soma de impressões e ideias que nos parecem afetivamente significativas muita vezes, aliais, encontram-se em desacordo com nossos atos.
Por tudo isso não é de fácil definição o problema das verdades diárias que nos orientam entre os outros através da vida coletiva. Raramente voltamos contra nós mesmos a arte do juízo. Estamos sempre  superficialmente convictos de alguma coisa.
Mas  as convicções humanas são frágeis, circunstanciais e tolas. Daqui a cem anos nossas mais caras convicções podem ser consideradas tolices infantis abandonadas por algum novo consenso de mundo.

Não vale a pena viver grandes verdades ou render-se a alguma fé ou “positividade” de um mundo inteligível e permeável a qualquer noção de ordem e sentido.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

ANOTAÇÃO SOBRE AS NOTAS DE SUSOLO

“Um romance precisa de um herói, e aqui foram reunidos intencionalmente todos os traços para  anti-herói,e, o que é mais importante, tudo isso vai produzir uma impressão muito desagradável, porque nós todos  nos desacostumamos  da vida, uns mais, outros menos, e nos desacostumamos  ao ponto de sentirmos às vezes uma certa repugnância pela verdadeira “vida-viva”, e por isso não podemos suportar que nos façam lembrar dela. Pois chegamos ao ponto de achar que a verdadeira “vida viva” é um trabalho,quase um emprego, e todos nó no intimo pensamos que nos livros é melhor. E porque às vezes ficamos inquietos, inventamos caprichos? E o que pedimos? Nós mesmos não sabemos. Nós mesmos nos sentiremos pior se nossos pedidos delirantes forem atendidos..”
DOSTOIÉVSKI in NOTAS DO SUBSOLO

A psicologia de Dostoiévski nos defronta com a decadência do indivíduo na modernidade e a própria morte da cultura. Talvez seja este o grande impasse que se apresenta ao “paradoxista” , o protagonista narrador de Notas do Subsolo. Sua angustia é a constatação da falência de um mundo onde nenhum indivíduo encontra seu lugar e  a sociedade nos impõe seus piores defeitos como regra e moral do existir coletivo.
É diante desta opacidade de um real que se decompõe que o paradoxista mergulha em si mesmo em atitude hostil a tudo aquilo que o cerca. A vida encontra-se danificada, mas as pessoas continuam vivendo ignorando o naufrágio da civilização.

Ainda somos contemporâneos deste dilema. Fato que sustenta a atualidade desta novela espetacular do ponto de vista narrativo e psicológico. Mas ela não nos oferece respostas ou soluções as questões que apresenta. Apenas nos faz consciente da desastrosa avalanche cultural que nos carrega tragicamente em direção ao abismo. 

O ANTI HERÓI E A LITERATURA MODERNA

Creio que  a grande imagem da literatura moderna do século XX tenha sido a do anti herói impotente diante  da dramática tragédia  que é a própria vida humana em suas vertigens e ausência de significados. Notas do Subsolo de Dostoievski talvez tenha sido a obra responsável pela constelação arrebatadora desta imagem no imaginário ocidental elevando a litertura a condição de extraterritoriedade do real.

Ainda hoje o anti herói encanta nossas imaginações e nos inspira na construção caótica de nossa individualidade que já não conta mais com o consolo de um existir linearmente definido e sustentado por falsas certezas coletivas sobre o progresso do bem comum e triunfo da razão instrumental.


Seguimos justamente na direção contrária. Despimos nossas vidas de  da alegria ingênua de migalhas de realizações pessoais e momentos de bem estar e prazer. Aprendemos vertigens e desconfortos, absurdos e vazios como as condições essenciais da miséria de nossa condição humana.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

PARA ALÉM DO HUMANO

Desafiar a lógica e o senso comum é reduzir ao absurdo nosso ordinário sentimento de mundo. Trata-se de um questionamento sobre o  “fazer-sentido” das coisas. Afinal, a razão não passa de um  artifício humano e não uma propriedade da realidade.

Nossa capacidade de cognição, de inventar esta realidade, nunca deve tentar reduzir tudo o que existe aquilo que podemos conceber. Em contrapartida devemos com a mesma ousadia duvidar de nossas imaginações. Estas são mais perigosas do que nossas razões, considerando todos os absurdos que já foram cometidos ou ditos em nome de qualquer metafisica.

O alcance de nossas realizações e ações possuem limites, mas não  é prudente substitui-los por delírios megalomaníacos onde somos parte de um cosmos ordenado que só existe em nossas limitadas cabeças.  

A vida é essencialmente caos, um caos que muito precariamente somos capazes de apreender. E nunca seremos capazes. Por maiores que sejam os avanços tecno científicos sem superarmos nossa condição humana.


segunda-feira, 29 de junho de 2015

NÔMADAS

Não deixarei que minha existência se reduza a meia dúzia de tolices sobre a beleza da vida ou algumas asneiras sobre o futuro da humanidade.

Viverei de vertigens, da ousadia dos abismos, em busca de qualquer coisa sem nome que desvele o mais profundo do pensamento.

O sentimento de si mesmo que nos define como indivíduos é algo incomunicável, uma espécie de caos pessoal que domesticamos a cada palavra dita.


Mas quão insuficiente é todo o dizer das coisas frente a emoção da auto consciência! È justamente quando nada consigo dizer quando melhor defino quem sou nas inércias de minhas imaginações. Por isso gosto de me largar aqui as vezes em perplexidade e auto contemplação.

sábado, 27 de junho de 2015

ESCREVER É VIVER

“Assim como a leitura, a mera experiência não pode substituir o pensamento. A pura empiria está para o pensamento como o ato de comer está para a digestão e assimilação. Quando a experiência  se vangloria  de que somente ela, por meio de suas descobertas, faz progredir o saber humano, é como se a boca quisesse se gabar por sustentar sozinha a existência do corpo.”
SCHOPENHAUER in  A ARTE DE ESCREVER


O pensamento é a mais nobre realização do cérebro humano. Mas poucos se dedicam a sua arte. A maioria das pessoas apenas comem, trepam e cagam. Isto lhes basta como existência. Poucos ascendem aos cenários das abstrações e questionamentos de tudo aquilo que julgamos real.
Por isso desconfio da humanidade. Seu estado habitual é a mansa insanidade de cultivar o umbigo segundo o ethos dominante. Não passa de uma manada cega e infame a procurar satisfação vazia no deserto do mais imediato cotidiano.

Aprecio por isso os desajustados, os inconformados, que transformam sua inquietude em feroz poesia contra os lugares comuns do existir. Escrever é inventar a si mesmo. O mundo seria melhor se todos fossem escritores. 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

WITTGENSTEIN E O DESESPERO NA FILOSOFIA

“É A VIDA QUE É PRECISO MUDAR”

Para Wittgenstein filosofar era uma desesperada luta contra a doença da incompreensão da lógica de nossa linguagem mais cotidiana.  Construímos diariamente frases  gramaticalmente corretas que, paradoxalmente, não fazem sentido.

A linguagem é a maior das patologias, considerando que o mundo vivido não passa de um ato de linguagem. Como ele afirma, ainda na primeira fase de seu esforço filosófico representado pelo Tractatus Lógico-Filosófico:

“O objetivo da filosofia é a clarificação lógica do pensamento. A filosofia não é uma teoria, mas uma atividade. Não se deve esperar da filosofia ‘proposições filosóficas’, mas a clariicação das proposições.”
O que mais nos conduz ao desespero é o quanto a maioria das pessoas é incapaz de um uso preciso da linguagem e não fazem a mínima noção do que seja um dialogo autêntico.


A VIDA ESTÁ MORTA...

quarta-feira, 24 de junho de 2015

NOSTALGIA

A vida é demasiadamente efêmera. Tudo acontece e se perde rápido demais.

Fico pensando em todas as situações e coisas que já vivi e deixaram um amargo sabor de nostalgia.

O passar do tempo é realmente desagradável e nos rouba tudo aquilo que nos define e consideramos importante. Nada é definitivo... as vezes não é fácil conviver com isso.

No fundo somos todos colecionadores de escombros e ruínas que vão se acumulando dentro da gente até que chega uma hora em que nós mesmos nos tornamos ruína.


Por isso fico sempre desconfortável. Principalmente quando me sinto alegre. A satisfação dura quase nada. Menos que um por do sol. 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

FUGA

As vezes me vestia de frio
E ia buscar a companhia da chuva
Para esquecer meus fracassos.

Tentava apagar as mágoas,
Os amores perdidos,
Os sonhos despedaçados
E as vontades feridas.

Tentava esquecer de mim,
Afogar em meus silêncios,

Calar o mundo e o destino.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

A DIALÉTICA DOS MEUS EUS

Amanhã posso não ser mais eu.
Posso ser ninguém, silencio e lembrança.
Posso ser a lágrima na face de alguém
Ou, talvez, apenas outro
De mim mesmo
Buscando  o vazio
Em novas ilusórias certezas.
Amanhã pode ser tarde
Ou cedo demais
Para meus tantos eus.