segunda-feira, 11 de maio de 2015

PRIVACIDADE

As pessoas nas ruas me parecem demasiadamente iguais e desinteressantes.

É monótono estar entre elas, observa-las, ficar exposto.

Sempre preferi lugares fechados e, de preferência, reservados. A ideia de privacidade me fascina. É quase um sinônimo para intimidade.

Não sou definitivamente um homem de muitos amigos.

No mínimo aprendi a não esperar muita coisa dos outros.

Já é suficientemente difícil  ter de lidar comigo mesmo.

A VIDA QUE SEGUE....


A gente nunca sabe o que vai acontecer no dia seguinte. Mas nos comportamos como se tudo fosse previsível, como se a rotina domesticasse a vida. Ledo engano... Nada está sobre controle. Absolutamente tudo pode acontecer. Este é o problema. Não temos segurança de porra nenhuma.

Aprender a conviver com isso é  sempre nosso maior desaio. Enquanto isso o tempo passa e a gente vai perdendo um monte de gente e coisas, a gente vai perdendo a si mesmo. O tempo é uma coisa absurda que rouba da vida qualquer signicado na exata medida em que faz ela acontecer.

Precisamos lutar o tempo todo contra nossa tendência a estupidez.



sexta-feira, 8 de maio de 2015

VENENO

Lembro de quando éramos apenas duas crianças
Que não entendiam o mundo.
Tudo era mais fácil
E não tínhamos o peso de tantas certezas ruins.
Hoje convivemos com o desencanto
Das mais duras verdades,
Quase não sorrimos
E pouco vivemos.
O mundo se fez para nós

Um violento veneno.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

REINVENTAR O PASSADO....

De tudo aquilo que foi vivido
Ficou um pouco de saudade,
Um vazio que cresce
E apaga o tempo
No desespero
De correr de encontro ao passado,
Fugir   de todo futuro.
Apagar a morte,
Os erros e a tempestade.
Mas já é tarde,
Muito tarde.
O dia acabou mais cedo.


segunda-feira, 4 de maio de 2015

FILOSOFIA DA CHUVA


... E um pouco de chuva encanta a cidade
Quebrando a noite em melancolias,
Apagando qualquer ilusão de felicidade.

Há mais verdade na introspecção da pedra
Do que realidade  na subjetividade
De um ato de humanidade.

Somos todos
Tempo, espaço  e desvio,
Mas isso pouco importa
Enquanto cai a chuva...

FUTURO PERDIDO

Todos os sonhos que tenho hoje
Não passam de variações
De algum passado perdido
Onde ficou esquecida
Minha própria vida,
Tudo aquilo que não me foi possível
No mais profundo do Eu.
Tudo que sou hoje
É o resultado desta primordial subtração
Que roubou de mim,
Desde e o início,

O mais autentico futuro.

PREGUIÇA MATINAL

Era hora de sair da cama, seguir pelo labirinto de mais um dia cumprindo rotinas vazias. Meu corpo resistia bravamente a tal imperativo dos fatos. Sentia-me dominado pela preguiça dos desesperançados.  Queria voltar ao vazio dos sonhos, aos silêncios da vida, pois nada mais daquele acontecer sem rumo me parecia digno de manutenção.  Tinha vontade de parar a vida por um tempo, viver qualquer forma de desaparecimento. Mas a realidade, como de costume, estava contra mim. A sobrevivência estupida me impunha aquela rotina de horas de trabalho inútil, de convívio social absurdo e sem conteúdo.


Apesar disso tudo, continuava deitado ignorando o relógio. Fazia de conta  que o  tempo havia parado, que não tinha compromissos, obrigações  e tédios.  Tentava apagar meu rosto e , simplesmente, voltar a dormir e me enterrar  na minha elementar solidão.

domingo, 3 de maio de 2015

SOBRE INDIVIDUALIDADE E CONVENÇÕES SOCIAIS

Vivemos em uma cultura onde somos encorajados a fazer de nossa própria individualidade uma artifício para agradar aos outros. Então, apresentar-se de forma a atender as convenções de beleza, dizer e fazer aquilo que esperam de você, ter aprovação social, é visto como algo mais importante do que o aprendizado de sua própria singularidade Já que isso lhe aproxima mais dos loucos e dos desajustados do que aqueles considerados bem sucedidos.

É preciso ter uma vida “apresentável”, mesmo que isso signifique recorrer a uma boa dose de hipocrisia  ou deixar-se perder em meio as contradições entre atender as exigências coletivas e viver de acordo com seus impulsos irracionais.

É obvio  que se trata aqui de um falso dilema. As pessoas apenas não são capazes de pensar, de viver de acordo com suas contradições, com suas fraquezas, limites e angustias, quando isso é tudo aquilo que realmente as define.  Preferem ao contrario existir no artifício da aparência, no culto ao corpo, a saúde e a uma suposta qualidade de vida que traduz a estúpida ilusão da possibilidade de uma vida que supera suas próprias deficiências.

Ma a verdade é que nada pode nos salvar daquele caos que nos agita a confusão de vontades e nos faz “feios” aos olhos dos mais elevados ideais sociais. Uma vida real nunca será perfeita, nunca será livre de imperfeições e angustias.

Nunca viveremos em um comercial de TV, felizes , satisfeitos e bem ajustados.

A busca da construção da própria individualidade é uma meta que, na contramão dos valores estabelecidos, exige o esforço de abrir mão de corresponder as artificiais exigências de uma vida “bem sucedida” e socialmente apresentável.


quarta-feira, 29 de abril de 2015

NOTA SOBRE O CAOS HUMANO

O que há de errado com o mundo? Com nosso tradicional conceito de humanidade?
O que não deu certo com nosso projeto de  civilização?
O que nos fez fracassar como indivíduos?
Creio  aqui dizer o mais profundo questionamento filosófico de nosso tempo.
Não se trata mais de “ conhecer a  si mesmo”,

Mas investigar em que tipo estranho de ficção nos tornamos na afirmação de nossas identidades e contradições....

segunda-feira, 27 de abril de 2015

COMO FAZER AINDA BOA LITERATURA HOJE EM DIA....

O problema não é aquilo que você  esta dizendo quando escreve um texto, mas justamente o que não consegue dizer. Acho que é justamente isso  que define um bom escritor: o desespero de  fazer de tudo, o tempo todo, para escrever  alguma coisa que não cabe na palavra, alguma coisa que  a grande maioria das pessoas a sua volta não consegue perceber ou entender direito.

Bons escritores não são pessoas felizes ou satisfeitas. Na maioria dos casos são uns desajustados mergulhados na solidão e na angustia. Escritores “otimistas” me causam nojo, perdem seu tempo afirmando a aparente ordem das coisas, quando o que realmente importa é revelar o caos que define, de alguma forma, a todos. Para tanto, deve-se abdicar de toda boa retórica.

Quando se escreve, é sempre bem vindo um pouco de irritação, de frustração e mau humor.  No mínimo é necessário um pouco de espanto, de susto  e perplexidade. A melhor literatura é aquela inspirada por alguma modalidade de desespero.