Era hora de sair da cama, seguir
pelo labirinto de mais um dia cumprindo rotinas vazias. Meu corpo resistia
bravamente a tal imperativo dos fatos. Sentia-me dominado pela preguiça dos
desesperançados. Queria voltar ao vazio
dos sonhos, aos silêncios da vida, pois nada mais daquele acontecer sem rumo me
parecia digno de manutenção. Tinha
vontade de parar a vida por um tempo, viver qualquer forma de desaparecimento.
Mas a realidade, como de costume, estava contra mim. A sobrevivência estupida
me impunha aquela rotina de horas de trabalho inútil, de convívio social absurdo
e sem conteúdo.
Apesar disso tudo, continuava deitado ignorando o relógio. Fazia de conta
que o tempo havia parado, que não
tinha compromissos, obrigações e tédios.
Tentava apagar meu rosto e , simplesmente,
voltar a dormir e me enterrar na minha
elementar solidão.