quinta-feira, 18 de abril de 2013

CITAÇÃO DE O PRESENTE, O INTOLERÁVEL... Focault e a História do Presente. by Andre Queiroz

“Como o próprio Deleuze mencionará  no corpo de um outro texto, o de sua entrevista com Claire Parnet, inttulada “Um retrato de Foucault”(1986)- a história não seria aquilo que nos esgota na sua teia de causalidade, no seu corpo irremovível de possibilidades já delimitadas. Isto  fosse, e tal como vimos naquele caustro desenhado e no funcionamento do poder sem fora, estaríamos  subsumidos desde logo nos seus limites fechados. Ela não coincidiria com o próprio da experimentação. O que ela nos oferece é apenas “o conjunto das condições quase negativas que possibilitam a experimentação de algo que escapa à história. Se a tarefa do pensamento, tal como mencionamos, implica no vazio do homem, o desmembrar das formatações  históricas nas quais se encontra  fundado/arregimentado- é pois porque pensar  não pode remeter ao dentro, a uma interioridade do sujeito que pensa, ao limite datado e histórico em que se funda a razão no Ocidente. Ele, o pensar do pensamento, o seu trabalho critico sobre nós mesmos naquilo que somos,pensamos e fazemos, implica o evidenciar, cada vez mais, desta fresta depositada no entre do histórico e do atual( nos termos de Deleuze), no interstício carregado de incompletude que separa o que já não somos daquilo que ainda não somos. ( o não mais de ontem e o ainda não do porvir)- o pensar o presente.”
ANDRE QUEIROZ Foucault e a História do presente.RJ: 7 letras, 2004, pg. 190


quarta-feira, 17 de abril de 2013

INDIFERENÇA

O avesso do meu sentimento
É a essência do meu pensamento.
Pois o tempo todo
Caminho ao contrário
Do que sinto,
Zigzagueando sem rumo
E sem emoção
Pelos lugares comuns
Do nublado do dia. 


Sinto exatamente
Como penso.
Nada no fundo
Me importa...

segunda-feira, 15 de abril de 2013

LEMBRANDO O FUTURO

A lembrança empalidecida
De um dia qualquer  e perdido
Acompanha-me
Na incerta aventura
Do meu futuro.
É como se todo
Amanhã
Fosse um retalho
De passado
Preso na lapela.
Minhas opções
Pouco importam...

sábado, 13 de abril de 2013

O EREMITA



Estive ausente
Enquanto os sonhos
Se tornavam reais
E a realidade transcendia atônica
O vazio dos fatos.
Não vivi primaveras
Ou soube do meu outro
No espelho esquecido
Naquela rua ao lado.
Tive da existência
Tão pouco
Que nunca  vi a vida.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

ADEUS

Aos poucos vou ficando  pelo caminho,
Me desfazendo como uma estatua de areia
Enquanto o tempo sopra.


Aos  poucos vou abandonado
A estrada e a paisagem,
Não me importando.
Deixando...


Já é tarde demais
Para a importância
Das coisas...
Já é tarde...

FILOSOFIA DO ANONIMATO

O mundo é a premissa errada
Da existência.
Pois existir é  algo
Tão maravilhosamente pequeno
Que não cabe neste mundo
Que de milhões de formas
Não sabe  e nunca saberá
Que existo.


Prossigo apartado de tudo,
Sem direções ou mundos
Em busca do ermo
De estar entre as coisas.

RENASCIMENTO

Queria poder nascer de novo,
Ser eu de novo,
Reinventar-me em tudo
Profundamente
Sabendo-me no nada tão intensamente
Até o ponto de respirar
A simples felicidade
De estar vivo
Através das pequenas
Coisas
Gratuitamente...

O TEMPO QUE CORROE O TEMPO



 Mary Werther acordou aquela manhã profundamente indisposta.
Um intenso mal estar a fazia pensar seriamente na hipótese de permanecer na cama e ignorar a maçante rotina. Talvez não fosse má ideia perder um dia de trabalho. Daria qualquer desculpa e, no final das contas, seu mal estar era bastante real. No fundo não seria uma desculpa, estava de fato inapta ao cotidiano.
Consolidada a decisão, espreguiçou-se  e voltou a dormir.
Despertou novamente um pouco depois do meio dia. Levantou-se, escovou os dentes e de repente sentiu  certo estranhamento das coisas. Havia definitivamente algo errado...
Quando saiu do banheiro em direção à sala, surpreendeu-se em outro lugar, em um cômodo estranho e irreconhecível. A sala não estava lá... 
Deu-se conta de que tudo a sua volta estava fora do lugar. Mais precisamente: Nada estava onde deveria estar, nada era como deveria ser. Todas as suas referencias de realidade não correspondiam ás coisas.
De repente, não estava mais em seu apartamento. Encontrava-se em uma sala vazia e de paredes vermelhas.  Ouvia vozes sussurrando ao fundo, mas não compreendia o que diziam e muito menos conseguia identificar sua origem.
No momento seguinte a sala não estava mais vazia. Diversas pessoas vestidas de preto conversavam descontraidamente entre si. Todas pareciam ignorar a presença de Mary.
Palavras surgiram em uma das paredes vermelhas da sala:
“O TEMPO QUE CORROI O TEMPO 
DOMA O DESTINO DO VENTO 
E DORME SEM MUNDO EM ALGUM SILÊNCIO”
Mary não fazia a menor ideia do que aquelas palavras significavam.
Mas agora ela já não estava mais na sala de paredes vermelhas. Corria por uma estrada aberta e deserta que parecia não ter fim. Corria como se sua própria vida dependesse disso, como se alguém lhe perseguisse, ou como se buscasse alcançar... quem sabe o que? Seus pensamentos, seus sentimentos, eram confusos.  Lembrava-se de diversos momentos da sua vida. Todo seu passado subia a garganta.
Via-se criança no aconchego do colo materno. Sentia-se protegida. Mirava um céu azul profundo que quase lhe engolia o olhar.
Agora lembrava a ingenuidade da adolescência, o encanto e a decepção do primeiro beijo. O amor lhe fora sempre uma ilusão estupida. Nunca seria a mulher eterna de qualquer homem ou de outra mulher. Não servia para isso. Ninguém a esperava na porta do baile da vida  com um convite para um bailado entre os lábios.
Lembrou-se das palavras na parede vermelha:
“O TEMPO QUE CORROI O TEMPO 
DOMA O DESTINO DO VENTO 
E DORME SEM MUNDO EM ALGUM SILÊNCIO.”
Revivia agora a morte estupida dos pais. Um motorista bêbado atropelou-os na noite de natal de 1990. Justo quando mais precisava deles ela os perdeu. Desde então sua vida nunca mais fora a mesma. Nunca superou a perda. Como poderia? 
Todos esses anos buscara aprender a ser sozinha no mundo, a viver do pouco que lhe restara na vida.  Mas sua vida era tão pouco, tão vazia, que se quer sentia-se de fato existindo nela. A realidade lhe parecia algum sonho estranho ou o delírio de uma consciência objetiva. O que chamamos de realidade seria sua doentia imaginação onírica. Em outras palavras, a existência era uma ilusão absurda.
E Mary corria por uma estrada aberta. Quanto mais corria mais estrada surgia. Estava exausta, molhada de suor. Mas não podia parar. Precisava continuar correndo. Continuar buscando, fugindo... O tempo lhe escorria dos olhos.
Lembrou-se de seus planos de desfuturos, de seus tantos pós objetivos. A vida lhe era a ato constante de desistir das coisas, de se perder em tudo. Tropeçava em suas próprias pernas.
Estava caída agora, perdida  e com o coração apertado no peito.
Invejava toda mulher que conhecia pelo simples fato de não ser como ela. Achava que todas tinham uma vida melhor do que a sua, ou então, simplesmente eram mais bonitas e atraentes.  Talvez por isso não conseguisse contrair amizades duradouras.
Como as pessoas não conseguiam perceber o quanto o mundo era absurdo e perverso? Mary não conseguia entender como todo mundo a sua volta lidava tão serenamente com a realidade. Sentia-se só; profundamente só.
Esvaziava-se de si mesma, esvaziava-se de tudo.  Pela primeira vez  sentia-se inteiramente ausente, inexistente.
Definitivamente, o suicídio era o modo mais digno de se morrer, de construir seu próprio destino. Jamais morreria em um acidente sem sentido como seus pais.  Decidiria o dia e a hora de deixar o mundo no mais radical exercício de sua liberdade e vontade.
Repentinamente uma luz agrediu seus olhos. Acordara... Estava na mesa de operações de algum hospital. Uma equipe medica  a sua volta.  Sim... estava sendo operada. Começou a lembrar de tudo que realmente havia acontecido.
A última coisa que  lembrava era de ter se jogado da janela de seu apartamento...
Então era isso: “O tempo que corrói  o   tempo” é a morte....
Gosto de sangue na garganta... 
sentiu frio... 
Uma sensação de prazer que nunca sentira antes apoderou-se de todo o seu ser.
Depois.....................................................................................................................................................................................................................................................................................
FIM

quinta-feira, 11 de abril de 2013

CAOS COTIDIANO

O dia embaralhado
Em fatos extravagantes
Sobre o sol de verão
Estremece as horas
E escurece o tempo.


Já não me sinto
Dentro da vida
Que passa apreçada
Pela avenida central
No tumulto de carros,
Pessoas e prédios.
Não me sinto
Em parte alguma,
Se quer em mim mesmo.


Tudo é desencontro,
Dissonância...
Vazio que cresce
No franco tumulto
Das imaginações de mundo.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O MEIO DO CAMINHO

Durante toda a existência estive distante de mim mesmo a procura do meio do caminho. Vivi de errâncias, de ausências, memórias encardidas e restos de realidade em busca... do meio do caminho.
Sempre distante e tão perto, tão abstrato e tão concreto; incapaz de qualquer realidade em todos os casos e possibilidades. Quando mais buscado, mais etéreo e ausente do próprio caminho.
 Afinal, o que é o meio do caminho?