sexta-feira, 27 de abril de 2012

LINGUAGEM E MORTE DA FILOSOFIA TRADICIONAL


Conceitos e preposições gramaticais normalmente nunca estão em acordo. 
Até o presente momento histórico nossas codificações de realidade nunca incorporaram o corpo, a consciência, como produto do "inconsciente biológico" e matriz de toda codificação do concebível ...
Nunca fomos reduzidos a linguagem como um componente físico, como um neuro linguístico ato de inventar rostos e mundos  no mero devir físico químico de nossa fisiológica condição humana.... 
Mas o fato é que hoje em dia toda tradição, tradução metafisica e filosofica do mundo está morta...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

NOTA SOBRE PRAGMATISMO ANARQUICO

A simultânea pluralidade intima de um indivíduo, suas diversas possibilidades e tendências de consciência de si mesmo dentro do mundo, escrevem a incerteza como condição de seu próprio existir na economia dos atos cotidianos.

Não se deve, portanto, esperar de qualquer individuo qualquer rígida coerência com qualquer ethos ou representação social de si mesmo, apenas o pragmatismo anárquico de suas escolhas de dia a dia condicionadas as opções definidas por seu quadro cognitivo.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

LIMITES DO VERSO


Não sei
De que palavra
Ainda
É feito o mundo...

Talvez o verbo
Já não caiba
Nas imaginações
No tato das imagens
E sensações
Que radicalmente definem agora
O  virtual acontecimento  humano.

Só sei
Que tudo que me cabe
Ainda
É o gordo gole e a embriaguez
Do acontecer nervoso
De todas as coisas
Que me ferem os olhos
E o corpo...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

NOTAS DO SUBSOLO

Escrita em 1864, a novela NOTAS DO SUBSOLO de Fiódor Dostoiévski permanece uma obra emblemática da literatura ocidental. Pois foi através dela que um dos grandes arquétipos da narrativa ficcional moderna encontrou sua origem. Refiro-me ao mito do anti herói, aqui personificado por um narrador anônimo identificado ao final da narrativa apenas pelo rótulo de “paradoxista”.

Trata-se de um longo monólogo dividido em duas partes em que o narrador intercala a beliciosa investida contra imaginários interlocutores e contra todas as tendências do pensamento do seu tempo com a coloquial exposição de suas experiências e angustias mais intimas.

Considero NOTAS DO SUBSOLO um texto incomum sobre os limites do mundo e das codificações humanas do real, uma brochura desafiadora aos lugares comuns da vida compartilhada em sociedade e a própria cultura.

Poder-se-ia dizer ainda que trata-se aqui do trágico testemunho da impotência do individuo frente ao mundo que lhe define...

Ilustro o presente comentário com alguns fragmentos da obra em questão:



“...estou convencido de que o homem nunca renunciará ao sofrimento verdadeiro, isto é, à destruição e ao caos. O sofrimento é a única causa da consciência. E, embora eu tenha declarado no inicio que , na minha opinião, a consciência é a maior infelicidade para o homem, eu sei que o homem ama a consciência e não a trocará por satisfação alguma.” P.46



“Porque para mim o que importa é brincar com as palavras, é sonhar, e quanto a realidade, sabe do que preciso? De que vocês todos vão para o diabo! É isso ai! O que eu quero é tranquilidade. Sou capaz de vender agora mesmo o mundo inteiro por um copeque para que me deixem em paz. Entre o mundo acabar e eu beber o meu chá, eu quero que o mundo se dane, quero ter sempre o meu chá para beber. Você sabia disso ou não? Pois eu sabia que era canalha, patife, egoísta, preguiçoso.” P. 140



“Um romance precisa de um herói, e aqui foram reunidos intencionalmente todos os traços para um anti-herói, e , o que é mais importante, tudo isso vai produzir uma impressão muito desagradável, porque nós todos nos desacostumamos da vida, uns mais, outros menos, e nos desacostumamos ao ponto de sentirmos às vezes uma certa repugnância pela verdadeira “vida viva”, e por isso não podemos suportar que nos façam lembrar dela. Pois chegamos ao ponto de quase achar que a verdadeira “vida viva” é um trabalho, quase um emprego, e todos nós no íntimo pensamos que nos livros é melhor. E porque as vezes ficamos irrequietos, inventamos caprichos? E o que pedimos? Nos mesmos não sabemos. Nós mesmos nos sentimos pior se nossos pedidos delirantes forem atendidos . Pois bem, façam uma experiência, deem-nos, por exemplo, mais independência, desamarrem as mãos de qualquer um de nós, ampliem nossa esfera de ação, relaxem a tutela e nós... eu lhe asseguro: nós imediatamente pediremos a volta da tutela. Sei que os senhores talvez fiquem bravos comigo, comecem a gritar e a berrar com os pés: “Fale somente sobre si mesmo e sobre suas misérias de subsolo, mas nunca ouse dizer todos nós”. Permitam-me, senhores, eu não estou me justificando quando digo todos. E , no que me diz respeito, eu apenas levei as ultimas consequências na minha vida aquilo que os senhores não tiveram coragem de levar nem à metade, e ainda por cima acharam que sua covardia era bom senso, consolando-se e enganando a si próprio com isso. De modo que talvez eu esteja mais “vivo” que os senhores. Olhem com mais atenção! Nós nem sabemos sabemos onde vive essa coisa viva, o que ele é, como chamá-la! Deixem-nos sós, sem livros, e imediatamente ficaremos confusos, perdidos- não saberemos a quem nos unir, o que devemos apoiar; o que amar e o que odiar; o que respeitar e o que desprezar. Até mesmo nos é difícil ser gente- gente com seu próprio e verdadeiro corpo e sangue; sentimos vergonha disso, achamos que é um desmérito e nos esforçamos para ser uma espécie inexistente de homens em geral. Somos natimortos, e há muito tempo nascemos não de pais vivos , e isso nos agrada cada vez mais. Estamos tomando gosto. Em breve vamos quere nascer da ideia, de algum modo. Mas basta, não quero mais escrever do “subsolo”... p. 1458/149



( Fidor Dostoievski. Nota do Subsolo. Tradução de Maria Aparecida Botelho Pereira Soares-Porto Alegre: L &PM, 2011 )



quarta-feira, 18 de abril de 2012

NOTA SOBRE A NOSTALGIA

Os bons tempos só se tornam bons depois que passam, depois de perdidos e reinventados como recordação e memória na matéria viva de nossas ilusões e ânsias.

Pode-se dizer, em outros termos, que nos arranjos das imaginações, o passado ganha a forma dos vazios da consciência de agora.

As diversas possibilidades de arranjos de memória em sua dimensão seletiva, mediante  eleições afetivas/subjetivas, revelam que quando invocado no presente, o passado é de certa maneira um ato de pura imaginação, uma construção identidária...



segunda-feira, 16 de abril de 2012

HERÁCLITO X WITTGENTEIN: UM LÚDICO EXERCÍCIO DE IMAGINAÇÃO FILOSÓFICA:


Trata-se , como afirmado no título,  de um ato de imaginação e linguagem contra os lugares comuns de nossas metafísicas certezas verbais...
Segundo uma das mais populares citações  filosóficas  atribuídas ao filósofo pré socrático Herácrito, é impossível a um homem banhar-se duas vezes no mesmo rio. Pois da segunda vez, nem o homem, nem o rio seriam os mesmos.
Parece-me, entretanto, absurdo que de alguma maneira  pseudo lógico um rio e um indivíduo possam ser outro na ocasião de um banho.
Isso porque o banho, não importa o rio, é sempre o mesmo enunciado de banho. Não faz diferença  se o rio é o mesmo ou outro. Um banho é um banho em qualquer rio contra toda metafísica representação de um devir que escapa ao mero fato linguístico...

NOTA SOBRE O INUTIL COTIDIANO

Metas e objetivos deixam de ser importantes quando vislumbramos apenas a vida nua e crua no acontecer das coisas onde o suceder dos dias, a simples sobrevivência, já é um grande objetivo a ser alcançado e re-alcançado constantemente.

Tudo o mais é no fundo mera decoração biográfica, fugaz e pragmático horizonte de passageiras rotinas onde nos embebedamos de nossas próprias personas.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

PSICOLOGIA DA ALIMENTAÇÃO


O almoço posto
Sobre a mesa
Me convida
Ao cotidiano ato
Do acontecer do corpo
Que sou
Em fome concreta e abstrata
De mundo exterior...
Toda refeição
É um concreto e abstrato ato
De exteriorização...

VAZIO DA CASA

A casa abandonada



E despida de telhados


Em suas paredes nuas


Ao sabor do vento,


É um ponto zero


De memórias humanas,


Um não lugar


De tempo e espaço


Onde silêncios gritam


O desfeito das coisas

segunda-feira, 9 de abril de 2012

MUDANÇA E SOCIEDADE

Desde o advento da alta modernidade, as codificações socioculturais das sociedades ocidentais apenas parcialmente definem o jogo societário estabelecido pelas diversas redes objetivas ou pessoais de intersubjetividade no definir-se de seu maior ou menor grau de organicidade.

Nos últimos dois séculos, pelo menos, a construção social da realidade embora ainda mantenha como elementar premissa a adesão voluntária ou coercitiva dos indivíduos a determinado cânone cultural epocal já não exige a homogeneização ou pacificação das consciências. Mesmo porque a cultura pós industrial introduziu padrões que transformaram a mudança e a inovação em padrão inerente a dinâmica social. Devir e instabilidade já não assustam o status quo cultural.

Esta tendência do imaginário ocidental para a mudança, que alcança cenários novos e mais amplos nesse limiar de milênio, permite a cada indivíduo uma liberdade maior para construção de experiências e vivencias que tendem a inovação e a criatividade.

Essa verdadeira ditadura da mudança constante pesa hoje sobre nossas cabeças em todos os níveis da experiência humana. Nossos hábitos, valores e visões de mundo são atualmente desafiados pelo império da novidade.

Já não é seguro fixar-se em coisa alguma...