terça-feira, 10 de maio de 2011

O EU E OS OUTROS: ensaio de psicodelismo


O rosto que  vejo
No espelho        
Pertence a um estranho
Que me observa
Dentro dos meus próprios
Olhos.


Não sei se sou eu
Ou ele
Quem de fato
Acontece
Na realidade
Ou se através
De nós
Se faz um terceiro
No olhar dos outros...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

GOOGLE, ROGER HARGREAVES E JOÃO NINGUEM


Foram as imagens  do google doosle  deste último dia 9 de maio que me invocaram a memória de Roger Hargreaves ( 1935-1988), autor e ilustrador de histórias infantis britânico muito popular  no mundo todo em tempos passados que me escapam a memória.
Mas as imagens coloridas e serenas  que via no Google me pareciam surpreendentemente familiares em sua infantilidade perfeita, em seu saboroso apelo de sonho, desafiavam-me como um enigma de seletiva e equivocada  memória...
Levei algum tempo para chegar a uma referência de pré- adolescência oculta naquele sentimento de empatia: um álbum de figurinhas publicado pela antiga editora Rio Gráfica no distante ano de 1983  sob o título pouco fiel  de “A turma do João Ninguém”.... Em seus 242 cromos  desfilavam os personagens e imagetico mágico  universo onírico, quase psicodélico, em sua perfeita  simplicidade infantil, que colecionei maravilhado por algum tempo e depois, simplesmente esqueci... Até o dia de hoje pelo menos, quando me reencontrei no espelho do “joão ninguém” e na lembrança de Hargreaves...      

8 DE MAIO: UM VAZIO DIA DA VITÓRIA,


Lembrado ainda hoje como o dia da vitória, por marcar a rendição do exercito alemão e o fim da segunda guerra na Europa, o 8 de maio reduziu-se a uma celebração opaca e restrita aos círculos militares...

Cabe notar que, dentre os marcos do conflito, a ocasião curiosamente não supera em importância aquela representada pelo 06 de junho de 1944, o chamado “dia D” do desembarque dos aliados na Normandia.

Também não tem junto ao imaginário coletivo o mesmo apêlo que a rendição do Japão provocada pela ofensiva atômica norte americana em Nagazaki e Hiroxima.

Nada mais surpreendente que o marco do fim da guerra tenha se diluído na memória coletiva , pois o absurdo da barbárie representada pela Segunda Guerra não poderia ter qualquer final feliz, qualquer celebração, pois através dela, o mundo acabou e ninguém percebeu... Depois da guerra, lembrando Theodor Adorno “A vida tornou-se a ideologia da sua própria ausência.”

NO LABIRINTO DAS ANSIAS

Meu pensamento



É composto de milhões


De ansiedades


Que me devoram em vontades.






Mas são tantas as direções das ânsias


Que já não sei o que quero


ou espero


e duvido da possibilidade


de qualquer saciedade ...



sábado, 7 de maio de 2011

UM POEMA DE PAUL McCARTNEY



Backwards Traveller

Hey, did you Know That I’m
Always going back in time
Rhyming slang, auld lang syne my dears
Through the years

I am the backwards traveler
Ancient wool unraveller
Sailing songs, wailing on the moon

And we were sailing songs, wailing on the moon
Wailing on the moon

Viajante de Diante para Trás

Ei, vocês sabiam que eu
Estou sempre voltando no tempo
Licença poética, os velhos tempos de outrora meus caros
Através dos anos

Sou o viajante de diante para trás
Ancestral cardador de lã
Navegando canções, uivando na lua

E estávamos navegando canções, uivando na lua
Uivando na lua 

 PAUL McCARTNEY.  O CANTO DO PÁSSARO PRETO: POEMAS E LETRAS DE MUSICA 1965-1999/ TRADUÇÃO DE MARCIO  BORGES, SP:Geração Editorial, 2001, pg. 130-131

sexta-feira, 6 de maio de 2011

CHUVA DE FOGO

Um céu azul



Em vários pontos trincado


Quase reinventava a noite


Naquela nostálgica


E vazia tarde


De sonho de primavera.






Nenhum ponto de existência


Nos definia no devir do tempo,


Não tínhamos abrigo


Em qualquer um dos mundos


Possíveis a imaginação humana.






Apenas um aperto de nostalgia


Oprimia as horas


Enquanto o céu se desfazia


Em uma chuva de gostas


De intenso fogo e luz


A desfazer as memórias


Do agora ...



ALÉM DA MEMÓRIA


Uma data passou raspando



Pela vontade


Que me consome,


Correu sem tino


Espalhando fatos


Pela paisagem,


Enquanto rotinas


Trocavam de roupa


Entre o dia e a noite.



Dentro disto


Me rencontrei


No susto de uma antiga


Fotografia


Em que me vejo


Em lugares que já não existem,


Mesmo em minhas lembranças...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

SOBRE O QUASE AGORA DO AQUI DENTRO DO ALÉM LÁ FORA


Lá fora  vida corre
Sem saber de mim
Ou da minha particular versão
Do mundo vivido...

Lá fora tudo acontece,
Pura e simplesmente,
Independente daquilo
Que sei e  penso...

Constantemente lembrando disto,
Aprendo a explorar
Através dos meus mínimos atos,
O máximo micro
Dos meus construídos fatos
Mergulhado
No duvidoso do tempo e do espaço
Que ao mundo me prende...

PAUL McCARTNEY: ENTRE MUSICA E LITERATURA

Um dos mais fascinantes livros que li nos últimos tempos foi definitivamente PAUL McCARTNEY: POEMAS E LETRAS 1965-1999, editado por Adrian Michtell. Esta obra  parece-me confirmar a profunda relação que se estabeleu entre musica popular, literatura e poesia ao longo do séc. XX.
De modo geral, o rock and roll estabeleceu um novo lugar de cultura e imagem de mundo que paulativamente modificou significamente nosso modo de sentir e expressar sentimentos, emoções e ideias...
Mas sem querer ir muito longe no assunto e simplesmente focando na obra em questão, cabe acrescentar que seu titulo original é uma perfeita tradução do universo poetico de McCartney: BLACKBIRD  SINGING, obvia referência a uma de suas composições de maior sucesso.
Em seu prefácio  podemos ler a seguinte e elucidativo comentário :

“Quando eu era adolescente, por alguma razão sentia um desejo irresistível de ter um poema publicado na revista da escola. Escrevia alguma coisa profunda e significativa- que era prontamente rejeitada- e suponho que desde então venho tentando obter minha desforra.
Anos mais tarde, depois de ter escrito muitas letras de canções com – e sem- John Lennon, escrevi um poema ao saber da morte de meu querido amigo Ivan Vaughan. Pareceu-me que um poema, mais do que uma canção, talvez pudesse expressar melhor o que eu sentia. Esse poema, “Ivan” levou a outros, muitos dos quais estão incluídos aqui.
Fui convencido por Adrian Mitchell de que o livro deveria  também incluir algumas letras de musica, e incluí, tanto assim que eu agora concordo com sua opinião de que ambas as formas de escrita têm igual capacidade de conduzir grande profundidade de sentimentos. Espero que vc Leitor, sinta o mesmo."

PAUL MCCartney.
  
O uso da linguagem para construção de imagens poeticas que aprisionem nossos sentimentos  cotidianos, que ressaí na simplicidade complexa dos versos de  McCartney, revela uma caracteristica elementar da estetica contemporânea: sua tendência para explorar  a simplicidade do imediato  desvelando a complexidade que habita a mera superfície das coisas vividas...