terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ALGUMAS RAZÕES PARA UM ATEU "SAIR DO ARMÁRIO" by RICHARD DAWKINS



“O status dos ateus na América de hoje é
equivalente ao dos homossexuais cinqüenta anos atrás. Agora,
depois do movimento do Orgulho Gay, é possível, embora não
muito fácil, para um homossexual ser eleito para um cargo público.
Uma pesquisa da Gallup realizada em 1999 perguntou aos
americanos se eles votariam em uma pessoa qualificada que fosse
mulher (95% votariam), católica (94% votariam), judia (92%),
negra (92%), mórmon (79%), homossexual (79%) ou atéia (49%).
É evidente que há um longo caminho a percorrer. Mas os ateus
são muito mais numerosos, especialmente entre a elite culta, do
que muita gente imagina. Já era assim no século XIX, quando John
Stuart Mill pôde dizer: “O mundo ficaria surpreso se soubesse
como é grande a proporção dos seus ornamentos mais brilhantes,
dos mais destacados até na apreciação popular por sua sabedoria
e virtude, que são completamente céticos no que diz respeito
à religião”.

Isso pode ser ainda mais verdadeiro hoje em dia, e apresento
evidências para tal no capítulo 3. O motivo de muitas pessoas
não notarem os ateus é que muitos de nós relutam em “sair do
armário”. Meu sonho é que este livro ajude as pessoas a fazê-lo.
Exatamente como no caso do movimento gay, quanto mais gente
sair do armário, mais fácil será para os outros fazer a mesma coisa.
Pode ser que haja uma massa crítica para o início da reação
em cadeia.
Pesquisas americanas sugerem que o número de ateus e
agnósticos supera de longe o de judeus religiosos, e até o da maioria
dos outros grupos religiosos específicos. Diferentemente dos
judeus, porém, que notoriamente são um dos lobbies políticos
mais eficazes dos Estados Unidos, e diferentemente dos evangélicos,
que exercem um poder político maior ainda, os ateus e
agnósticos não são organizados e portanto praticamente não têm
nenhuma influência. Na verdade, organizar ateus já foi comparado
a arrebanhar gatos, porque eles tendem a pensar de forma
independente e a não se adaptar à autoridade.Mas um bom primeiro
passo seria construir uma massa crítica daqueles dispostos
a “sair do armário”, incentivando assim os outros a fazer o
mesmo. Embora não formem um rebanho, gatos em número
suficiente podem fazer bastante barulho e não ser ignorados.”
RICHARD DAWKINS, IN DEUS UM DELIRIO

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

META REALIDADE



Não ficarei aqui
Deitado
Sobre o passado.
Também não sairei correndo
Em busca
De qualquer futuro
E muito menos
Provarei das urgências
Do tempo presente...

Talvez me baste
Permanecer inerte
A sofrer pensamentos
Inventando dentro de mim
Íntimos mundos...

APOSTA DE TOLO



Sem querer,
Guardei em teus olhos
O sonho de um antigo jardim
Para fugir de toda incomoda realidade...

Desde o inicio
Sabia  inútil
Meu ato...
Mas que outra escolha
Se apenas mentiras
Sustentam felicidades?

domingo, 6 de fevereiro de 2011

CÔNICA DO PóS MUNDO



Retalhos de nuvens
Chovem
Sobre a cidade em branco
Enquanto o sol
Se desfaz em espirais...

O tempo apertado
No espaço
Cospe passados virgens
Sobre a avenida central
Onde meus restos
Desfilam em carro aberto
Vestidos de borboletas.

Depois de hoje
Todas as coisas
Serão incertas...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

NIETZSCHE CONTRA A FALÁCIA DA IDEIA DE "CRIAÇÃO" DO MUNDO...


A nova concepção de mundo.- O mundo subsiste; não é nada que vem  a ser, nada que perece. Ou antes: vem a ser, perece, mas nunca começou a vir a ser  e nunca cessou de perecer, - conserva-se em ambos... Vive de si próprio: seus excrementos são seu alimento.
A hipótese de um mundo criado não deve afligir-nos nem por um instante. O conceito “criar” é hoje perfeitamente indefinível, inexeqüível , meramente uma palavra ainda, rudimentar, dos tempos da superstição; com uma palavra não se explica nada.  A ultima tentativa de conceber um mundo que começa foi feita recentemente, várias vezes, com o auxilio de uma procedura lógica- na maioria das vezes, como é de adivinhar, com uma segunda intenção teológica.”

F. Nietzsche.  O Eterno Retorno. A VONTADE DE POTENCIA, TEXTOS DE 1884-1888; in Obras Incompletas, seleção de textos de Gerard Lebrun; tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho; 5 ed. SP: Nova Cultural, 1991- ( Coleção Os Pensadores); p.  176.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A CONTEMPORANEIDADE DO UNIVERSO FICCIONAL DAS HISTORIAS DE DETETIVE


Historias de detetive podem ser consideradas por alguns como um sub gênero literário datado e fadado ao esquecimento ou a alimentar para sempre a pálida caricatura de si mesmo através de versãos contemporâneas sem qualquer gramour ...

Creio, ao contrario, que tal gênero é o que melhor personifica o devaneio inspirado pela nova racionalidade que passa a formatar o existir coletivo na sociedade urbana pós –industrial e massificada a partir da segunda metade do sec. XIX .

O herói das histórias de detetive é, afinal, justamente o individuo que se destaca das massas pelo domínio da inconfundível arte de ler a vida em seus pormenores, através do efêmero e do singular da paisagem urbana, onde o único significado e sentido, refugia-se no particular , no ínfimo, vislumbrando-o como um novo universo de possibilidades de codificação do real.

O detetive, em suas variadas versões, é antes de tudo um observador da vida cotidiana, alguém que despido das convenções da cultura vigente, aprendeu a codificá-la nas entrelinhas, em seus silêncios e hiatos mais significativos. Ele é alguém que aprendeu a viver a vida e a si mesmo como um grande quebra cabeça...

Creio que tais palavras se aplicam perfeitamente ao celebre Sherlock Holmes criado por Connan Doyle, ou ao Auguste Dupin de “Os assassinos da Rua Morgue” de Edgar Allan Poe, tanto quanto as reinvenções contemporâneas da velha formula das histórias de detetive personificadas pela rica ficção de series como House MD ou CSI.

Afinal, o individuo contemporâneo é cada vez mais o teimoso leitor de um livro em branco que se confunde com o mundo vivido... o que torna as velhas histórias de detetive cada vez mais contemporâneas.

O NADA E AS COISAS


Nada é preciso ou seguro na elementar indeterminação do ininterrupto devir de todas “as coisas” que somadas figuram agora como “existência”...

Pois perpetuadas no continuum do efêmero e do superficial em sua máxima e profunda materialização diária, “as coisas” se despem das teleologias e significações socialmente estabelecidas, convertendo-se em opaca e imediata finitude de múltiplas abstrações e variações do nada...

Tudo hoje está tão próximo quanto distante em nosso profundo sentimento de tempo e rosto...