“O status dos ateus na América de hoje é
equivalente ao dos homossexuais cinqüenta anos atrás. Agora,
depois do movimento do Orgulho Gay, é possível, embora não
muito fácil, para um homossexual ser eleito para um cargo público.
Uma pesquisa da Gallup realizada em 1999 perguntou aos
americanos se eles votariam em uma pessoa qualificada que fosse
mulher (95% votariam), católica (94% votariam), judia (92%),
negra (92%), mórmon (79%), homossexual (79%) ou atéia (49%).
É evidente que há um longo caminho a percorrer. Mas os ateus
são muito mais numerosos, especialmente entre a elite culta, do
que muita gente imagina. Já era assim no século XIX, quando John
Stuart Mill pôde dizer: “O mundo ficaria surpreso se soubesse
como é grande a proporção dos seus ornamentos mais brilhantes,
dos mais destacados até na apreciação popular por sua sabedoria
e virtude, que são completamente céticos no que diz respeito
à religião”.
Isso pode ser ainda mais verdadeiro hoje em dia, e apresento
evidências para tal no capítulo 3. O motivo de muitas pessoas
não notarem os ateus é que muitos de nós relutam em “sair do
armário”. Meu sonho é que este livro ajude as pessoas a fazê-lo.
Exatamente como no caso do movimento gay, quanto mais gente
sair do armário, mais fácil será para os outros fazer a mesma coisa.
Pode ser que haja uma massa crítica para o início da reação
em cadeia.
Pesquisas americanas sugerem que o número de ateus e
agnósticos supera de longe o de judeus religiosos, e até o da maioria
dos outros grupos religiosos específicos. Diferentemente dos
judeus, porém, que notoriamente são um dos lobbies políticos
mais eficazes dos Estados Unidos, e diferentemente dos evangélicos,
que exercem um poder político maior ainda, os ateus e
agnósticos não são organizados e portanto praticamente não têm
nenhuma influência. Na verdade, organizar ateus já foi comparado
a arrebanhar gatos, porque eles tendem a pensar de forma
independente e a não se adaptar à autoridade.Mas um bom primeiro
passo seria construir uma massa crítica daqueles dispostos
a “sair do armário”, incentivando assim os outros a fazer o
mesmo. Embora não formem um rebanho, gatos em número
suficiente podem fazer bastante barulho e não ser ignorados.”
RICHARD DAWKINS, IN DEUS UM DELIRIO