quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

ACROOS THE UNIVERSE


Percorro o universo
Em cada palavra viva,
Em qualquer louco pensamento
Que me surpreenda aberto
Em algum sentimento de dia
E de mundo.

Tudo é absurdo e absoluto
Particular multiverso
De coisas em movimento
Que em mim se transformam
Em onírica, concreta e fixa
Quase realidade...
Nada vai mudar meu mundo...

http://www.youtube.com/watch?v=Rj-4t9drUlM

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

APOLOGIA A PALAVRA


Nada é definitivamente mais humano que a palavra. No além do signo, da concretude da letra, ela é viva expressão d’alma, de sentidos e significados que nos arrastam em tempestades, emoções e pensamentos.
A palavra, no mais que si mesmo da gente, é sentimento das coisas e pessoas que configuram o mundo e estruturam nosso universo particular, aquela mínima moralia ou dimensão de gentes, objetos e realidades aos quais nos irmanamos eletivamente em afinidade estranha e irracional de dia a dia da vida. Amar a palavra é amar o humano e o meta humano, fazer de cada coisa e ser um interlocutor em um ato de subjetividade no qual descobrimos, construímos, desconstruimos, o próprio humano em nós em paradoxos... O que podemos ser fora dos diálogos, das buscas, certezas, decepções e, acima de tudo, movimento que a vida ensina alem dos conceitos e na abstração delirante do brincar com as palavras enquanto jogos mágicos de linguagem e imagens? Nada há de mais mortal, mais criativo....
http://www.youtube.com/watch?v=kZjCGF57v4Q

VIRGINIA WOOLF:OS ANOS


O tema central dos escritos de Virginia Woolf é invariavelmente o tempo que passa em nossas vidas... No caso de Os Anos (1937), romance em 11 episódios em, torno do dia a dia da família Pargiter, nos deparamos com um verdadeiro ensaio literário sobre a experiência cotidiana, sobre a complexa relação entre individuo e cultura coletiva ou sociedade. Considero este, seu livro mais elaborado e intensamente humano, um mergulho profundo nos fatos, no fluxo abstrato de consciência e sentimento de mundo que nos define o movimento da própria vida.
A estrutura narrativa articula-se naturalmente em anos: 1880, 1891, 1907, 1908, 1910, 1911, 1913, 1914, 1917,1918 que desembocam no conclusivo “ O dia de hoje”. O acumulo dos anos nos conduz assim ao tempo presente e sua vitalidade perene e quase onírica diante da qual nos auto questionamos: E agora?...

“Era um crepúsculo de verão. O sol se punha. O céu ainda azul tingia-se de dourado, como se tudo se cobrisse de um fino véu de gaze. Aqui e ali, na amplidão ouro e azul, pairavam ilhas de arminho em suspenso. Nos campos as árvores se erguiam majestosas e ricamente ataviadas por suas inumeráveis folhas. Viam-se ovelhas e vacas, cor de pérola ou malhadas, jacentes as mais das vezes ou passando através da relva translúcida. Tudo estava orlado de luz. E o pó vermelho que subia das estradas como um rolo de fumaça tinha também um corte de ouro. Até as pequenas casas de tijolo vermelho aparente à margem das estradas eram porosas, incandescentes de claridade, e as flores nos jardins dos cottages, lilás e róseas como vestidos de algodão, brilhavam e tinham veios como que iluminados por dentro. E os rostos das pessoas paradas às soleiras das portas ou flanando pelas calçadas mostravam o mesmo rubro fulgor, como se encarassem de frente o sol que aos poucos desaparecia.”

( Virginia Woolf. Os Anos/tradução de Raul de Sá Barbosa. RJ: Nova Fronteira, 1982, p.335 )

A UMA JANELA...

Uma fantasia
Me puxou a pouco
Pelo braço
Convidando a um passeio,
A um devaneio,
Pela paisagem
Urbana e anônima.

Por algum tempo
Esqueci o dia,
As calçadas,
Semáforos, pessoas
E lojas.

Concentrei-me
No segredo de uma silenciosa janela,
Daquela pequena abertura
Ao outro mundo de um prédio perdido
No infinito do dia presente.

A janela, entretanto,
Oferecia – me apenas questões
E realidades entre abertas
Na desconstrução de respostas
e portas.

domingo, 4 de janeiro de 2009

SOBRE “ O ILUMINADO” DE STANLEY KUBRICK E O SOBRENATURAL


Adaptação de uma história de Stephen King, “O Iluminado” ( 1980) de Stanley. Kubrick, contrariando a obra original, é quase um tratado cinematográfico sobre o ceticismo e a ficção envolvendo o sobrenatural.
Afinal, o filme parece focado na pura e simples decadência de um homem fraco e problemático que, incapaz de conduzir a bom termo a oportunidade de reconstrução de sua própria vida, sucumbe a pressão e a loucura, mergulhando em, uma atmosfera insólita, imaginativa e alegórica mediante a qual desconstroi sua própria vida.
A presença do componente sobrenatural confunde-se assim, de modo ambíguo, com o aspecto psicológico induzindo a uma relativa recusa da premissa de uma causalidade metafísica na narrativa para sustentar o clima de terror e suspense que define a trama.
A originalidade desta heterodoxa adaptação para o cinema de uma história de terror encontra-se justamente nesse surpreendente realismo anti-metafísico que nos induz a pensar sobre a natureza de nossas crenças e superstições, seus “poderes” e “possibilidades” enquanto expressão de estados de consciência bastante peculiares. Afinal, como se define e até onde nos conduzem as imagens de realidade dentro das quais existimos? ...

YEAR AND FREEDOM


No ano que se inicia
Quero a mais plena
Existência,
A vida intensa em ventanias,
Saber o imprevisível
E impossível de cada momento
Na absoluta surpresa de mim mesmo.

No ano que se inicia
Meus caminhos serão
Sem esperanças e destinos
Em uma certeza de pedra
E imensidões;
Serei como um pássaro
Em espaços abertos
E corpo de movimento
De puro e livre pensamento
In a hurry,But carefully...

MULTICULTURALISMO

A vontade que vivo,
A necessidade
Que tenho,
É ir ao fundo
Do mais que profundo
Deste instante,
Percorrer o riso do tempo
Oculto em todas
As coisas que passam
Até desvelar em totalidade
As múltiplas possibilidades
Do meu pequeno rosto.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

QUENTIN TARANTINO: CINEMA, VIOLÊNCIA E PÓS-MODERNIDADE


Se é possível falar sobre a influencia ou construção de uma estética e sensibilidade pós-moderna no campo da sétima arte, alguém que poderíamos sem sombra de duvida indicar como um de seus mais talentosos representantes, seria o renomado diretor, roteirista e ator norte americano Quentin Tarantino ( 1963-...). Desde seu filme de estréia, Cães de Aluguel (1992), passando pelo brilhante e original Pulp Ficcion (1994) e os dois volumes de Kill Bill ( 2003-2004) Tarantino construiu uma linguagem e um estilo próprio combinando como ninguém violência e humor em uma descontraída leitura alegórica da realidade.
Para sustentar a “pós modernidade” de Tarantino, basta observar que o roteiro de todos os filmes aqui citados não são organizados em ordem cronológica, estão recheados de diálogos que contradizem ou extrapolam a trama, em meio a citações de outros filmes e, principalmente, de referências a cultura dos anos 70, criando normalmente uma charmosa atmosfera retro.
Quanto a pseudo questão do abuso e banalização da violência em seus filmes, argumento que a violência é elevada por ele a condição de linguagem estética e não se reduz a um instrumento ou recurso utilitário e apelativo de expressão destinado a atrair a atenção do público, diga-se de passagem, propenso a consagração de filmes violentos. A violência nos filmes de Tarantino é desconcertadamente pop e alegórica, não-realista ou impressionista.
Considero-o um diretor "META-alternativo", o caso único de um aficcionado por cinema que, de funcionário de uma locadora de vídeos em Los Angeles, tornou-se um criador de filmes ímpar justamente por jamais ter perdido a sensibilidade de um devorador ANÔNIMO de filmes.

INDIVIDUIALIDADE, PÓS - MODERNIDADE E EXPERIÊNCIA VIVIDA


O domínio da experiência imediata da própria individualidade pressupõe uma codificação provisória do mundo, uma organicidade e hierarquização dos desejos e das emoções moldada apenas pelas especificidades biográficas e aleatórias escolhas de cada um ao sabor dos momentos.
Isso é o mesmo que vincular a individualidade HOJE a uma espécie de estilhaçamento do mundo empírico e coletivo. Tal recusa relativa da objetividade do mundo e valorização de uma subjetividade aleatória é o que agora permite a cada individuo um esboço de autonomia e liberdade cada vez maior frente a vida coletiva e ao irracional vinculo natural de espécie inerente ao animal humano. Afinal, a individualidade tornou-se em todos os sentidos um não lugar dentro do mundo em lugar da afirmação inútil do próprio ego.
Surpreender-se como um individuo hoje é tão somente aceitar a própria fluidez e finitude ontológica como referencial de não ou virtual sentido no exercício de nossos cotidianos e pseudo-metafísicos apetites de auto-realização pueril.
Afinal, a individualidade transcende o pensamento e a lógica de qualquer conceituação positiva ou estável...