O tema central dos escritos de Virginia Woolf é invariavelmente o tempo que passa em nossas vidas... No caso de Os Anos (1937), romance em 11 episódios em, torno do dia a dia da família Pargiter, nos deparamos com um verdadeiro ensaio literário sobre a experiência cotidiana, sobre a complexa relação entre individuo e cultura coletiva ou sociedade. Considero este, seu livro mais elaborado e intensamente humano, um mergulho profundo nos fatos, no fluxo abstrato de consciência e sentimento de mundo que nos define o movimento da própria vida.
A estrutura narrativa articula-se naturalmente em anos: 1880, 1891, 1907, 1908, 1910, 1911, 1913, 1914, 1917,1918 que desembocam no conclusivo “ O dia de hoje”. O acumulo dos anos nos conduz assim ao tempo presente e sua vitalidade perene e quase onírica diante da qual nos auto questionamos: E agora?...
“Era um crepúsculo de verão. O sol se punha. O céu ainda azul tingia-se de dourado, como se tudo se cobrisse de um fino véu de gaze. Aqui e ali, na amplidão ouro e azul, pairavam ilhas de arminho em suspenso. Nos campos as árvores se erguiam majestosas e ricamente ataviadas por suas inumeráveis folhas. Viam-se ovelhas e vacas, cor de pérola ou malhadas, jacentes as mais das vezes ou passando através da relva translúcida. Tudo estava orlado de luz. E o pó vermelho que subia das estradas como um rolo de fumaça tinha também um corte de ouro. Até as pequenas casas de tijolo vermelho aparente à margem das estradas eram porosas, incandescentes de claridade, e as flores nos jardins dos cottages, lilás e róseas como vestidos de algodão, brilhavam e tinham veios como que iluminados por dentro. E os rostos das pessoas paradas às soleiras das portas ou flanando pelas calçadas mostravam o mesmo rubro fulgor, como se encarassem de frente o sol que aos poucos desaparecia.”
( Virginia Woolf. Os Anos/tradução de Raul de Sá Barbosa. RJ: Nova Fronteira, 1982, p.335 )
A estrutura narrativa articula-se naturalmente em anos: 1880, 1891, 1907, 1908, 1910, 1911, 1913, 1914, 1917,1918 que desembocam no conclusivo “ O dia de hoje”. O acumulo dos anos nos conduz assim ao tempo presente e sua vitalidade perene e quase onírica diante da qual nos auto questionamos: E agora?...
“Era um crepúsculo de verão. O sol se punha. O céu ainda azul tingia-se de dourado, como se tudo se cobrisse de um fino véu de gaze. Aqui e ali, na amplidão ouro e azul, pairavam ilhas de arminho em suspenso. Nos campos as árvores se erguiam majestosas e ricamente ataviadas por suas inumeráveis folhas. Viam-se ovelhas e vacas, cor de pérola ou malhadas, jacentes as mais das vezes ou passando através da relva translúcida. Tudo estava orlado de luz. E o pó vermelho que subia das estradas como um rolo de fumaça tinha também um corte de ouro. Até as pequenas casas de tijolo vermelho aparente à margem das estradas eram porosas, incandescentes de claridade, e as flores nos jardins dos cottages, lilás e róseas como vestidos de algodão, brilhavam e tinham veios como que iluminados por dentro. E os rostos das pessoas paradas às soleiras das portas ou flanando pelas calçadas mostravam o mesmo rubro fulgor, como se encarassem de frente o sol que aos poucos desaparecia.”
( Virginia Woolf. Os Anos/tradução de Raul de Sá Barbosa. RJ: Nova Fronteira, 1982, p.335 )
Nenhum comentário:
Postar um comentário