A obra epistolar de C. G. Jung não é de forma alguma menos interessante do que seus trabalhos científicos. Pelo contrário, nos permite melhor compreende-los, o que torna justificável a reprodução aqui de uma de suas missivas que aborda especificamente a posição do autor em relação a um tema espinhoso como a vida após a morte... Não temos aqui a posição de um místico, mas do adepto de uma imagem de ciência que transcende o mito da própria ciência através do racional, questionando toda noção de verdade...
“A uma destinatária não identificada
Luxemburgo
30.05.1960
Minha idade avançada e a necessidade de repouso me fazem evitar as muitas visitas e por isso devo limitar-me o quanto possível a respostas por cartas.
Quanto a sua pergunta sobre a vida após depois da morte, posso responder-lhe tão bem por escrito como oralmente. Na verdade, esta pergunta ultrapassa a capacidade da mente humana, que nada sabe dizer que vá alem da mesma. Além disso, qualquer afirmação cientifica é apenas provável. Só é possível formular a pergunta assim: existe alguma probabilidade de a vida continuar após a morte? É fato que- como todos os nossos conceitos- também o tempo e espaço não são axiomas, mas basicamente verdades estatísticas. Evidencia-se assim também que a psique não esta sujeita até certo ponto a estas categorias. Ela é capaz de, por exemplo, de percepções telepáticas e precognitivas. E enquanto isso, ela esta num continuum, fora do espaço e do tempo. Pode-se esperar então que ocorram fenômenos post-mortem que devem ser considerados autênticos. A relativa raridade desses fenômenos sugere em todo caso que as formas de existência dentro e fora do tempo estão de tal forma separadas, que a ultrapassagem desses limites apresenta as maiores dificuldades. Mas isto não impede que paralelamente à existência dentro do tempo corra uma fora do tempo, isto é, que existamos simultaneamente mos dois mundos, tendo as vezes algum pressentimento disso. Mas o que está fora do tempo não pode mudar mais, segundo nossa concepção. Isto tem relativa eternidade.
Talvez a senhora conheça ,meu ensaio “Seele und Tod” no volume Winklichkeit der Seele. Para fundamentação cientifica chamo sua atenção para meu escrito “Sincronicidade: Um principio das conexões acausais” em OC, vol.VIII, p. 437.
Estas são as minhas idéias principais que, oralmente, tembém não exporia de outra maneira.
Com elevada consideração
Sinceramente seu
( C. G. Jung). “
( Cartas de C.G. Jung: Volume III, 1956-1961/ editado por Aniela Jaffé em colaboração com Gerhard Adler; [tradução de Edgar Orth].- Petrópolis: Vozes, 2003, p. 256-257)
“A uma destinatária não identificada
Luxemburgo
30.05.1960
Minha idade avançada e a necessidade de repouso me fazem evitar as muitas visitas e por isso devo limitar-me o quanto possível a respostas por cartas.
Quanto a sua pergunta sobre a vida após depois da morte, posso responder-lhe tão bem por escrito como oralmente. Na verdade, esta pergunta ultrapassa a capacidade da mente humana, que nada sabe dizer que vá alem da mesma. Além disso, qualquer afirmação cientifica é apenas provável. Só é possível formular a pergunta assim: existe alguma probabilidade de a vida continuar após a morte? É fato que- como todos os nossos conceitos- também o tempo e espaço não são axiomas, mas basicamente verdades estatísticas. Evidencia-se assim também que a psique não esta sujeita até certo ponto a estas categorias. Ela é capaz de, por exemplo, de percepções telepáticas e precognitivas. E enquanto isso, ela esta num continuum, fora do espaço e do tempo. Pode-se esperar então que ocorram fenômenos post-mortem que devem ser considerados autênticos. A relativa raridade desses fenômenos sugere em todo caso que as formas de existência dentro e fora do tempo estão de tal forma separadas, que a ultrapassagem desses limites apresenta as maiores dificuldades. Mas isto não impede que paralelamente à existência dentro do tempo corra uma fora do tempo, isto é, que existamos simultaneamente mos dois mundos, tendo as vezes algum pressentimento disso. Mas o que está fora do tempo não pode mudar mais, segundo nossa concepção. Isto tem relativa eternidade.
Talvez a senhora conheça ,meu ensaio “Seele und Tod” no volume Winklichkeit der Seele. Para fundamentação cientifica chamo sua atenção para meu escrito “Sincronicidade: Um principio das conexões acausais” em OC, vol.VIII, p. 437.
Estas são as minhas idéias principais que, oralmente, tembém não exporia de outra maneira.
Com elevada consideração
Sinceramente seu
( C. G. Jung). “
( Cartas de C.G. Jung: Volume III, 1956-1961/ editado por Aniela Jaffé em colaboração com Gerhard Adler; [tradução de Edgar Orth].- Petrópolis: Vozes, 2003, p. 256-257)