terça-feira, 11 de novembro de 2008

CRÔNICA RELÂMPAGO XL

Em um determinada e incerta ocasião, ouvi da boca de um velinho uma melancólica argumentação sobre o fato de já ter perdido muitas coisas na vida, a confissão de que já tinha cometido muitos erros e não se importava de viver de ilusões, sonhos e crenças religiosas ou políticas, justamente por não ter mais em que pessoalmente realmente acreditar.
Respondi na ocasião que o que de fato faz diferença em nossas vidas é o modo como enfrentamos a realidade de todos os dias, como confrontamos nossos medos, desejos, frustrações e limites.
Hoje sei que as coisas não são tão simples assim, embora não decline de minha opinião de ocasião. Apenas acho que quanto mais certezas afirmamos para nós e para os outros, mais nos desfazemos em enganos. No presente caso, é fato que, em alguma medida, qualquer um se sente inseguro ou insatisfeito com a própria existência. Na melhor das hipóteses, angustia-se com o natural fato de que um dia ira desaparecer da face da terra como tudo aquilo relacionado a ele ou a seus entes queridos.
Mas é possível ir além desse sentimento. Há algo mais... Algo que diz respeito aquilo que poderíamos provisoriamente definir como “a estética da vida”, a construção subjetiva de significados através de nossa auto expressão mediante empreendimentos pessoais de coisas inúteis e sem importância para o mundo e os outros, mas que de alguma maneira realizam o que somos na medida em que a construímos em árduo processo de auto-expressão irracional e sentido. Pode- se compor uma musica, pintar um quadro, escrever um livro ou simplesmente... viver intensamente a própria vida até o limite de todo acontecimento convencional. O importante é dedicar-se de corpo e alma a alguma coisa que seja pessoalmente significativa, que faça tudo valer a pena.

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