ROCK AND ROLL, UMA HISTÓRIA SOCIAL de Paul Friedlander, é definitivamente uma referência impar para os interessados na história e significado cultural do Rock no século XX e, de muitas formas, enquanto fenômeno sociológico e comportamental ainda contemporâneo. Professor da Universidade de Oregon de História do Rock e membro da Associação Internacional para o estudo da musica popular, o autor nos oferece um quadro realmente completo da evolução e impacto sócio cultural desta significativa vertente da musica popular contemporânea mediante uma cuidadosa analise de seus diversos estilos e variações simbólicas/identidárias.
Cabe frisar que Friedlander adota como referência o conceito de pop rock no estudo do tema. Opção terminológica que justifica da seguinte maneira:
“ Cada livro sobre rock vem com sua própria definição do termo. Alguns autores utilizam “rock and roll” para denotar a musica dos anos 50 e “rock” para representar todos os estilos subseqüentes. Nós utilizamos uma abordagem ligeiramente diferente. A musica compreendida neste livro é o “pop/rock”. Isto reflete uma natureza dupla: raízes musicais e líricas derivadas da era clássica do rock (rock) e seu status como uma mercadoria produzida sobre pressão para se ajustar a industria do disco (pop).
Os numerosos estilos criados durante os primeiros trinta anos do pop/rock receberam nomes específicos segundo suas raízes, características musicais, conteúdo das letras e a relação com o meio político e cultural que os circundavam. Assim, a musica de Chuck Berry, Elvis e outros artistas dos primórdios denomina-se de “rock clássico”, enquanto seus descendentes da Bay Área do final dos anos 60 são chamados de artistas de rock de “San Francisco”.
(Paul Friedlander. Rock and Roll: Uma História Social. Tradução de A. Costa. 4º ed, RJ: Record, 2006, p.12)
“... Outro tratamento que se pode dar a esta musica é seguir uma abordagem conhecida como “analítica”. Para isto é necessário ouvir uma peça musical com o objetivo de coletar uma grande gama de informações sobre ela. O ouvinte, então, passa a ter condições de realizar julgamentos próprios sobre a natureza da musica, sua qualidade em relação a outras musicas e seu contexto social. Usando o exemplo anterior, o ouvinte pode imaginar por que esta versão de Respect é tão poderosa, escutando para ver quais instrumentos estão sendo tocados e que marcações são enfatizadas. Ele também pode refletir sobre a experiência gospel de Aretha para explicar a potência da sua voz. E pode pesquisar a história pessoal da artista ou seu atual estilo de vida para descobrir um fato-como um marido desrespeitoso- que explique a urgente necessidade de respeito que o artista pode estar sentindo.
Descobrir, organizar e raciocinar sobre o significado de uma extensa gama de informações relevantes enriquece nosso entendimento da obra musical.”
(Paul Friedlander. Rock and Roll: Uma História Social. Tradução de A. Costa. 4º ed, RJ: Record, 2006, p.13)
Tudo isso nos conduz aquilo que o autor chama de “janela do Rock”, em outras palavras, um modo de entender musica a partir da perspectiva analítica aqui sumariamente apresentada.
Em linhas gerais, portanto, o “usuário de rock” encontra nesta singular obra sugestões úteis para um aprofundamento de sua experiência sonora/existencial. Isto é, transcendendo o nível direto e emocional orientado pela mera intuição, o ouvinte e “participante” da magia do rock pode construir uma compreensão maior de suas opções mediante a reunião de um numero significativo de informações sobre uma determinada banda ou cantor a ponto de melhor avaliar sua simpatia e envolvimento pessoal com determinado estilo ou banda.
Se o rock and roll é mais do que um gênero musical e uma industria, se constitui um verdadeiro ethos social, a pesquisa de Friedlander certamente muito nos acrescenta a compreensão de sua contemporaneidade, significado cultural e vivências anônimas.