A obra do sociólogo alemão Niklas Luhmann ( 1927-1998) abrange uma considerável quantidade de temas, desde a teoria geral da sociologia, da ciência, do direito, do poder, da religião até uma sociologia da intimidade, etc. Podemos classificar sua sociologia como uma teoria dos sistemas elaborada como alternativa ao conceito tradicional de causalidade utilizado pelo funcionalismo.
Nesse sentido, seu método pressupõe a realidade social como uma pluralidade complexa, como um conjunto de interações diversas que produzem conjuntos de sistemas e sub-sistemas definidores de ethos coletivos e, ao mesmo tempo, de alternativas de tendências que configuram o horizonte de experiências que é o próprio mundo.
Mas a pesquisa que pretendo aqui enfocar, dentre as tantas realizadas pelo autor, é aquela apresentada em seu clássico estudo O AMOR COMO PAIXÃO: PARA A CODIFICAÇÃO DA INTIMIDADE, na qual Luhmann aplica com maestria o método aqui muito superficialmente apresentado.
O código do amor como paixão surge na França do séc. XVII como alternativa ao então desgastado código do amor cortes inspirado no séc. XII pela chamada matéria da Bretanha. Trata-se obviamente aqui de uma interpretação possível para origem do amor romântico que figura ainda nos dias de hoje como um código de intimidade, da descoberta do outro como objeto.
Cabe considerar que, segundo Luhmann:
“... o meio de comunicação amor não é um sentimento em si mesmo, mas um código de comunicação cujas regras determinarão a expressão, a formação, a simulação, a atribuição indevida aos outros e a negação de sentimentos, bem como a assunção das conseqüências inerentes, sempre que tiver lugar uma comunicação deste gênero. Como demonstraremos nos capítulos seguintes, já no século XVII, e apesar de todo o ênfase posto no amor como paixão, tem-se plena consciência de que se trata de um modelo de comportamento simulável e que se nos depara antes de embarcarmos na demanda do amor; modelo de comportamento que está disponível enquanto orientação e como consciência do respectivo alcance, antes de acontecer o encontro com o outro, tornando também notória a falta deste, o que por sua vez se pode transformar mesmo num destino. O amor poderá então movimentar-se em primeiro lugar e em certa medida numa zona indefinida e ser orientado para um modelo prospectivo generalizado que facilite a seleção capaz, porem, de perturbar também uma realização emocionalmente aprofundada. Trata-se de uma significação do significado, enraizada no código que proporciona a aprendizagem do amor, a interpretação dos indícios e a transmissão de pequenos sinais para exprimir grandes sentimentos; é o código que permite a experiência da diferença bem como o destaque dado à ausência de realização.”
(Niklas Luhmann. O amor como paixão. Para a codificação da intimidade. Tradução de Fernando Ribeiro. RJ/Lisboa: Editora Bertrand Brasil/ Difel, s/d, p.21)