segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

ANTI COTIDIANO

Todos os dias
Perco-me nas mesmas rotinas
Em cotidianos ritos.
Mas sonho em cada
Mecânico ato
O inesperado
Da singularidade
De uma noite infinita
Em puro acontecer
De vida
Em súbita subjetividade
E alegria de acaso.

CONTROVÉRSIA DE ESPELHO

Leio nas entrelinhas
Do dia
Que me cobre a face
Os sorrisos escondidos
De distantes instantes
De imaginações e sonhos.
Em tudo que pensamos
Há, afinal,
Mais fantasia
Que realidade,
Mais alegrias e oceanos
Do que certezas
E enganosos acenos
De sedutoras verdades.
Meu destino
É o controvertido esforço
De criar um futuro
Que sustente o presente
Dos meus equívocos
Na intuição de mim mesmo
Alem do rosto
E em aleatório movimento
De plena liberdade.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

CRONICA RELAMPAGO XX


As vezes vislumbro um verdadeiro abismo entre as palavras que cotidianamente me povoam, articuladas por pueris discursos de pragmático estar e ser, e os sentimentos ( valorações) difusos que me inquietam intimamente. Talvez tal distanciamento revele na verdade o abismo que condiciona a relação do meu eu com o mundo; o quanto somos em alguma medida disfuncionais a vida em sociabilidades publicas e privadas ( “sociedade” ). Contra isso, movimenta-se minha própria consciência em construção e busca.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

EXPERIÊNCIA E IMAGINAÇÕES

Um brilho de luz
Em gota de sonora
Chuva
Explode em mim
Um sol de pensamento.

A chuva se faz
Metáfora...
Vida,
Em algum intimo
Alem de mim mesmo.

No obscuro fundo
De imagens e imaginações
De ser
Apreendo e aprendo
Meu próprio rosto.

POEMA QUADRADO

Entre quatro paredes 

Descubro o infinito 

De estar e saber

 Nos quatro cantos do ser.

 

Descubro o limite

entre a pele e o mundo

na intensidade das sensações.

Não há dentro ou fora...

Tudo é intenso

nos quatro cantos da matéria.

 


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

MITO: LINGUAGEM E META LINGUAGEM


Pode-se dizer que o homem é um zoom phonanta, um animal com linguagem. Mas tal afirmação só faz pleno sentido quando transcendemos o verbo e mergulhamos no complexo universo da relação entre linguagem e mito. De certa modo, pode-se dizer que o m,itop é uma ontologia linguistica, em poucas palavras, algo distinto dos conceitos cognoscitivos da elaboração verbal e configurados pela imagetica do simbolo. Tal imagetica nos remete a uma deficiencia linguistica elementar e a busca de sua superação na "paronímia" da palavra, na ambiguidade do verbo tranvertido de imagem, e que jamais pode ser reduzido a formulação e expressão de conceitos verbais. Isso na medida em que remete a um outro da própria linguagem, ao avesso da correspondência entre as palavras e as coisas.

UTOPIA

Impossível dizer
E fazer-se
No próprio rosto
Que no alem do céu
Descobre o oposto.
Sonho a vida,
O acaso
E o outro.
Sonho a realidade
De fantasias
E o sorriso de viver.
Sonho dentro
Do gosto e do sonho
Do sabor do corpo
Em um mundo sem pensamento

A ALQUIMIA E A IMAGINAÇÃO ATIVA

Alquimia e a imaginação ativa reúne seis palestras da Dr. Marie Louise von Franz realizadas no Instituto C G Jung em Zurique durante os meses de janeiro e fevereiro de 1969.
Para explorar este complexo tema a autora toma como base a obra de Gehard Dorn, medico e alquimista que viveu no sul da Alemanha na segunda metade do séc. XVI. Trata-se de um discípulo de Paracelso que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da farmacologia.
Vale lembrar que a partir do séc. XVII a alquimia ocidental diluiu-se na consciência cristã perdendo sua base empírica enquanto filosofia da matéria e da natureza. A partir de então gradativamente ela reduziu-se a uma espécie de ensinamento moralista e relegado ao obscurantismo do ocultismo moderno. Em Dorn, ao contrário, ainda podemos encontrar a tendência inerente à tradição da alquimia ocidental de funcionar como uma vertente compensatória e subterrânea com relação ao cristianismo ortodoxo problematizando suas contradições e limitações..
Como observa a autora, por exemplo :

“... As questões do feminino e do corpo eram enormes problemas para Dorn, e seu plano consciente era, para falar cruamente, o mesmo que castrar a alquimia , como o fizeram mais tarde os franco maçons e os rosa cruzes, e torná-la artificialmente ajustada em sua weitanschauung. Assim, ele era, de certa forma, um daqueles pecadores. Por outro lado, uma genuína fascinação ainda o movia e, como medico e farmacologista, continuava com seus experimentos, portanto, não teve êxito em simplesmente pensar sobre a tradição alquímica e alicerça-la num tipo de visão cristã convencional, ele ficou atolado no conflito, que nunca conseguiu resolver embora tivesse tentado todos os caminhos. ( ...) como medico ele não podia, como fez o pároco Andréa, ignorar por completo o aspecto material do homem, isto é, o corpo e a vida real.”
( Marie Louise von Fran. Alquimia e imaginação Ativa, SP: Cultrix, s/d; p. 39)

Em um capitulo de sua obra “ A Filosofia Especulativa” intitulada “conversação por cujo intermédio o Animus tenta atrair para si o corpo e a alma”, encontramos um dialogo dramático cujo a forma, segundo von Franz, se aproxima do que hoje chamamos de imaginação ativa. Os protagonistas deste dialogo são S- o Spiritus, A- a Anima, C- o Corpo; e F- o Amor Filosófico. Como elucida a autora em outro momento:

“Resumidamente, pode-se ver que Dorn concebe quatro elementos no trabalho interior de unificação e três estágios ou graus. Os quatro elementos são Spiritus, Anima, Corpus e Cosmos. No inicio, Spiritus e Anima se unem, e transformam-se em Mens. A seguir, Mens e Corpus se unem e se convertem em Vir unus e, finalmente, na morte, o vir unus une-se ao universo, embora não em sua forma visível, mas como unus mundus, seu background potencial, invisível.
( idem p.152)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

SHAKESPEARE E A TRAGÉDIA DE McBETH


A tragédia de Macbeth, composta provavelmente entre os anos de 1606 e 1909, impossível maior precisão, é uma das mais conhecidas de Shakespeare, muito embora, não rivalize com Hamlet ou Julio César que de muitas maneiras apresentam com esta certo paralelismo ou simetria temática e imagética.
Macbeth, pressupõe a fusão de dois imaginários destintos : o celta e o romano. É um épico de crime e expiação; uma tragédia cujo pano de fundo é o sombrio universo do poder, da traição, da astúcia, da loucura e do destino.
Esta tragédia, singularmente sangrenta, nos faz pensar sobre o peso das conseqüências e significados possíveis das ações humanas até os meandros que levam cada um de nós a retirada do palco da vida. Sua atmosfera é sombria... ou, poderíamos dizer, demasiadamente humana.
Julgo conveniente para ilustra-la uma pequena fala de Lady Macbeth na cena II do III Ato:

“Nada temos e tudo se gastou quando nosso desejo foi obtido sem alegria. É mais seguro ser o que destruímos do que, pela destruição, viver um contentamento duvidoso. Porque andais sozinho, meu Senhor, fazendo das mais tristes imaginações os vossos companmheiros e usando pensamentos que, na verdade, já deveriam ter morrido com elas? Não se deve estimar o que não tem remédio, e o que esta feito, esta feito.”

(William Shakespeare. A Tragédia de Macbeth. Lisboa: Edição Livros do Brasil, 1987, p.117)

A FLOR, TEMPO E FINITUDE

A natureza
Em aleatório capricho
Faz a beleza
De uma pequena flor selvagem
Surpreender as pedras de um muro.


Improvável combinação
Colhida por olhos humanos
Que na permanência quase eterna da pedra
Questionam a presença daquele perene adorno.

Como se entre a flor e a pedra
Houvesse a mesma distância
Que há entre o homem
E o tempo
Em suas ilusões de infinito
E angustias de finitude.